Aprenda como funciona o sistema na Áustria.
Quando se mora em um outro país é muito importante estar atento à cultura local. Isso porque muitos dos hábitos serão adquiridos. A maioria serão incorporados com o tempo e sem muito esforço. Outros, você terá que se acostumar mesmo sem querer. E quanto mais hábitos e mais rápido você aprender como as coisas funcionam no país estrangeiro, mais harmoniosa será a sua vida. Compreender coisas simples do dia-a-dia pode diminuir o estresse se você souber lidar com a cultura local.
Na Áustria isso vai depender muito da região e da cidade onde você mora. Como moro na capital do país, confesso que não tive muitos problemas para adaptar minha vida por aqui.
Acho que pelo falto de ter sido nascida e criada em Brasília, capital do Brasil, a maior parte dos hábitos foram incorporados sem muitas dificuldades. Você deve estar achando estranho e sem conexão o fato de nascer em Brasília com a adaptação em Viena. Mas eu explico.
A primeira brasileira que conheci em Viena foi no elevador da minha escola de alemão. Foram 5 minutos de conversa para eu tomar um grande fora e acabar me identificando com algumas coisas da vida na Áustria. Lembro-me de ter falado que de uma forma estranha achava o estilo de vida do brasiliense um pouco similar com o povo vienense. A menina, que era de Goiânia, cidade a 200 km de Brasília, soltou uma resposta dura e sincera: “é, o povo daqui é metido como o povo de Brasília“. Ui, que fora! Pensei comigo. “Por que será que o povo da capital sempre tem fama de esnobe?
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na Áustria
Costumo brincar que quem nasce em Brasília se adapta muito bem e muito mais rápido em qualquer lugar. Tenho duas amigas brasilienses que moram aqui em Viena e compartilham da mesma opinião.
Logo que cheguei aqui, minha amiga de Fortaleza vivia triste pelos cantos porque o impacto no seu processo de adaptação foi enorme. Ela vinha de cidade de praia, de um bairro muito caloroso. E suas reclamações me pareciam ser sem sentido, mas com o tempo, percebi que muitas das coisas que acontecem por aqui eu já tinha aprendido em casa.
Com o passar dos meses e dos anos percebi que temos que nos ligar a algumas coisas e nos desligar de outras. Vou te contar como a vida funciona por aqui e, conhecendo o sistema e aceitando boa parte dele, você poderá evitar aborrecimentos.
Pontualidade– 5 minutos é atraso. Aqui tudo funciona no minuto. Se você for se atrasar, por favor, avise. Em órgãos públicos, se você retirar sua senha após o horário, esqueça! Não precisa nem discutir, é melhor voltar outro dia. Os transportes públicos funcionam da mesma forma. Passam exatamente na hora programada. E se o ônibus, por ventura, se adiantar, fará uma pausinha na parada para que não dê nenhum problema referente à rotina. Agora, quanto a médicos, esqueça o relógio. Apesar de você marcar hora e, às vezes, com meses de antecedência, vai ter que esperar. Isso para ser atendido em 5 minutos e sem muitas explicações.
Visita ao médico – Aqui todo mundo precisa ter um médico de casa. Primeiramente você vai neste médico para que ele possa indicar um especialista. Ele entrega um papel válido por um mês e que deverá ser apresentado ao médico escolhido. Você até pode até ir diretamente a especialistas, sem antes pegar esse papel, mas há um limite de 3 especialistas por trimestre. Outra coisa interessante é referente ao resultado de exames. Se você fizer um exame, especialmente ginecológicos, eles não te entregam o resultado. O que acontece é o seguinte: Você sai do consultório com a seguinte informação: “se houver algo anormal a gente manda um comunicado, caso contrário não se preocupe”. Ou seja, se tudo estiver bem você não recebe nenhuma notícia. Se algo estiver errado, eles mandam a receita pelo correio com o resultado do exame. A primeira vez que isso me ocorreu fique super desconfortável. Agora já é normal. Com a minha médica de casa é diferente, pois sempre que faço exame de sangue tenho retorno na semana seguinte. Mas esse negócio de ter todos os seus exames guardadinhos, esqueça. Nem todos os médicos entregam o diagnóstico.
Stammtisch- O austríaco valoriza um encontro pessoal. E pra facilitar, eles criaram um tipo de programa chamado stammtisch, que é um encontro periódico onde as pessoas se encontram sempre/geralmente no mesmo lugar e, inclusive, na mesma mesa. Acho super saudável.
Dinheiro vivo e Nota Fiscal– Existem muitos estabelecimentos que não aceitam cartões de crédito ou débito. É muito comum ver austríacos pagando as contas de restaurantes e cafés em dinheiro vivo. Eu moro há uma década aqui, mas nunca tenho dinheiro vivo. Lentamente isso tem mudado e a maior parte dos cafés já aceita o uso de cartões. Então, para se prevenir, pergunte antes de consumir ou ande com dinheiro na carteira para não ter problemas com isso.
Uma curiosidade – Desde janeiro desse ano, os estabelecimentos são obrigados a dar nota fiscal, pois podem ser multados e logo o cliente vai ter que exigir a nota fiscal também, pois a fiscalização será feita tanto com direito a multa para o estabelecimento quanto para o cliente que não estiver com o documento emitido.
Na hora de pagar a conta – Na Áustria não se cobra 10% de serviço. Então, se você aprovou o serviço e a comida, inclua a gorjeta no pagamento da conta. Aqui, geralmente a gente arredonda o preço. Além de facilitar o troco, ainda contribui com o salário do garçom. Outra coisa interessante é que a conta pode vir junta ou separada. Se você falar para o garçom que quer pagar a conta separadamente, ele vai calcular a sua parte e assim, ele vai cobrando separadamente de cada pessoa na mesa – o que simplifica muito, principalmente quando se está num grupo grande.
No post que vem vou continuar te contando como a vida funciona por aqui.
Um abraço e até mais.
2 Comments
Parabéns pelo blog Kely, tem muita informação importante. Li seus posts e não encontrei nada direcionado a criança, tenho dois filhos pequenos (5 meses e 29 meses) e muita vontade de morar na Austria, talvez leve alguns anos, mas pretendo resolver antes da idade escolar obrigatória. Se puder faça um post dizendo sobre isso, escolas para imigrantes, adaptação das crianças, etc…
Obrigado pelo seu tempo pra compartilhar suas experiências.
Abraços..
Pingback: Aprenda como funciona o sistema do país e facilite sua vida – Parte 1 - Kely pelo Mundo