Diferentemente do que pensei, as flertadas nos rendeu momentos inesquecíveis e passados alguns dias, JF aquele canadense que talvez fosse o dos meus sonhos, disse claramente que queria me namorar e conhecer minha família em São Paulo. Fiquei receosa porque muitos rapazes de circo não procuram relacionamento de verdade e não queria apresentar um estranho que só passaria brevemente pela minha vida para a família.
No final das contas, ele foi à São Paulo e todos o amaram! Começamos então a nos visitar sempre que possível. Eu entregava os trabalhos da faculdade com antecedência, e assim conseguia visita-lo em outras cidades do Brasil como Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, e ele ia à São Paulo um fim de semana do mês.
Quando o Cirque chegou no Rio de Janeiro, decidi trabalhar novamente como usher e assim que seguimos para São Paulo, decidi transferir meu curso de Marketing presencial para online para continuar trabalhando e seguir para Porto Alegre. Depois de Porto Alegre, o Cirque passou por Buenos Aires, Santiago del Chile, Lima e Bogotá, mas eu não pude trabalhar em nenhuma dessas cidades por conta de visto. Voltamos ao esquema de visitas, sendo que agora eu era mais livre para passar mais de uma semana com ele.
Depois de Bogotá, o Quidam passaria a ser um show de Arena, isto quer dizer que já não teria mais tendas e nem o que chamamos de site, que é todo o espaço onde o cirque se localiza e onde o JF trabalha. Ele então conseguiu um emprego no show Varekai, que seguia para a Ásia e depois seguiria para o Brasil, o que seria perfeito para nós dois. Foi a partir daí que resolvemos seguir juntos todo o tempo. Afinal, se alguém consegue fazer viagens mensais à Ásia ou é muito rico ou não sofre de jet-lag.
O primeiro país foi Taiwan e me encantei pela educação da maioria das pessoas, mas confesso que me desapontei com as comidas. Passei meses comendo McDonalds pois ficava bem em frente ao nosso hotel e era super baratinho, até o dia em que o gerente me “informou” que comer McDonalds todos os dias não faria muito bem à minha saúde. Tive me mudar para o Burger King hehehe. Aquele primeiro contato com uma cultura com-ple-ta-men-te diferente de tudo que havia vivido até o momento foi único e guardo lembranças muito boas de momentos e pessoas queridas que conheci em Taipei.
Logo depois fomos para Seoul, na Coreia do Sul. Não tenho muito o que falar de Seoul a não ser a intolerância deles com estrangeiros. Eles nos chamam de americanos como se estivessem nos rebaixando a algo muito ruim, e tive momentos de muito nervoso quando levava cuspidas, empurrões diários e pessoas me encarando porque eu conseguia um acento do metrô lotado. Não gostei de Seoul, mas pelo menos foi em Seoul que fui contratada oficialmente pelo cirque para trabalhar como fly-in, uma espécie de “faz tudo” durante as montagens e desmontagens do show.
Saindo de Seoul, seguimos para o último destino da Ásia: as ilhas Filipinas. Ficamos em Manila. A cidade de Manila não me encantou muito pois la encontramos muita diferença de classes por todos os lados. Em Manila, ou você é muito rico, ou muito pobre. E isso quebrava meu coração! Todos os dias eu pegava comida da cozinha do cirque e dava às criancinhas que moravam SOZINHAS em frente ao nosso portão de entrada. As pessoas em Manila são extremamente educadas e às vezes te fazem se sentir mal por ser tão bem tratado. Conhecemos também algumas outras ilhas paradisíacas e me apaixonei por aquele arquipélago de 7641 ilhas.
Depois de passar seis meses na Ásia, voltamos ao Brasil com o show e foi em São Paulo, naquele ano de 2011 que nos casamos para oficializar o que já era oficial.
Após completarmos as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte com o show Varekai, JF conseguiu transferência para o novo show de 2012 – Amaluna, que assim como todos os novos shows itinerantes do Cirque du Soleil, iniciam suas atividades com 6 meses em Montreal. O clima frio (chegamos em fevereiro, um dos piores meses no inverno canadense) não me impediu de querer conhecer mais e me apaixonar e me encantar cada vez mais com cada cantinho daquela organizada, clássica e ao mesmo tempo moderna cidade.
Foi difícil partir depois de me adaptar com todo o sistema em que vivi naqueles 6 meses, mas eu tinha certeza que muitas experiências e coisas boas estavam por vir. E não foi diferente, passamos pela cidade de Quebec, Toronto, Vancouver, Calgary, Edmonton. Sem contar as outras cidades e vilas encantadoras que passamos e paramos no caminho que percorremos de carro cruzando o Canada, segundo maior país do mundo em termos de território (são 9.975.000 km²).
Depois de completarmos a turnê pelo Canadá, partimos para os Estados Unidos, onde tive a sorte de conhecer muitas das cidades que tinha muita curiosidade de ver com meus próprios olhos. E me sinto muito sortuda por todas essas oportunidades. Nos Estados Unidos passamos por Seattle, Denver, Las Vegas, San Francisco, San Jose, Los Angeles, Atlanta, New York, Miami, entre outras.
Quando o show finalizava sua turnê norte-americana na cidade de Miami, decidi por causa das complicações de visto aos países da Europa (pra onde o show partiria por mais de 1 ano), que aproveitaria as vantagens do meu visto de residente permanente no Canadá e o apartamento que compramos para estudar francês e tentar começar a criar raízes em Montreal. JF partiu para a Europa e ficamos separados por muitos meses, até que ele foi transferido para o novo show de 2016, voltando para Montreal novamente. Os próximos capítulos ainda estão por vir…
Essa é minha história de como vim parar em Montreal. Agora me conte, qual a história de vocês?