Custo de vida em Pequim.
A cada dia que passa, o custo de vida em Pequim tem ficado mais parecido com os das grandes cidades do Brasil. Se em 2016, quando vim, achava Pequim bem mais barato, hoje em dia já tenho minhas dúvidas.
Com base na minha experiência de mestranda, recebendo uma bolsa mensal de CNY 3 mil (cerca de R$1,5 mil) e com alojamento da universidade incluso (a Renmin cobrava CNY 35-40/dia para o quarto duplo ou CNY 80 para o quarto individual já incluindo as contas, mas tem universidades que cobram mais), era possível viver uma vida tranquila com luxos ocasionais e economizar algum dinheiro. Vivendo fora do campus, creio que menos de CNY 6 mil é mais complicado.
Agora procurando lugar para morar após a graduação, a gente leva um susto. O aluguel dos quartos individuais em apartamentos compartilhados gira em torno de CNY 3 mil e 5 mil dentro das zonas principais (os 4 anéis rodoviários que circulam a cidade), muitos com contas inclusas. A área de Chaoyang é a mais próxima da maioria das empresas tradicionais e das embaixadas (ou seja, custo de vida mais alto), enquanto a área de tecnologia e as universidades ficam em Haidian (relativamente poucas opções de bares). Morar em Gulou/Dongcheng é, normalmente, morar nos hutongs (as ruelas tradicionais de Pequim) e que são em sua maioria pequenas casas com banheiro externo, mas é a região com excelentes bares e restaurantes mais alternativos que misturam estrangeiros e chineses. As pessoas encontram quartos via grupos do WeChat (a rede social que é um WhatsApp com Facebook e mais um monte de coisa) e pelo site/app do Wellcee (tem opção em inglês) e Ziroom (em chinês).
Uma viagem de metrô custa CNY 5-8, dependendo de onde você for dentro da cidade e quantas trocas fizer de linha. O ônibus é baratíssimo (CNY 2-3 e com o cartão de transporte fica CNY 1!) e vale a pena usar quando der. Além disso, a cidade é planíssima, então é tranquilo caminhar e andar de bicicleta. Com um app da Mobike ou da Ofo, você consegue usar uma bicicleta por CNY 0.50-1, dependendo da viagem.
Um plano de celular vai depender de quanta internet você quer e, sim, quanto você conseguir se comunicar com a pessoa vendendo. Eu pago CNY 75 por mês, com 1 GB de internet – o que não é muito barato, porém tem outras opções de planos de outras empresas com internet ilimitada pelo mesmo preço. Pense com carinho antes de fazer essa escolha: o número de celular aqui é quase um número de identidade. Vai vincular com as suas contas do WeChat e Alipay (que permitem pagamento pelo celular) e com sua conta no banco no processo de verificação de identidade.
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Alimentação: cozinhar é sempre mais barato do que comer em restaurantes, mas a não ser que você manje de receitas chinesas ou saiba se adaptar bem – pode sair o mesmo preço do que comer num restaurante mais simples. Comidas ocidentais (molho, massa italiana, pão, leite que não seja chinês, queijo, vinho, café) são sempre mais caras, e você só vai achar a maioria em mercados especializados em importados (em Haidian, o mais famoso é o D-Mart, que também faz entregas – em Chaoyang existem várias opções). Exemplo: um pacote de queijo com 10 fatias de mozzarella vai sair uns CNY 30. Pão de forma com 10 fatias, CNY 8-12. Vegetais e frutas são encontrados com facilidade e são baratos, bem como o arroz e as massas estilo noodles.
Uma refeição num restaurante universitário pode custar entre CNY 5-15. Um restaurante bem simples (normalmente sem menu em inglês e com cardápio na parede em sinalização vermelha e branca) cobra CNY 10-25 por um prato individual. Contudo, a comida chinesa é algo tradicionalmente uma prática comunal, então dividindo sai até mais em conta. Um restaurante ocidental vai te cobrar ao menos CNY 25-35 por um prato de massa (provavelmente bolonhesa ou carbonara). Um restaurante médio em Pequim dificilmente vai custar mais de CNY 50 por uma refeição por pessoa, incluindo bebida. Muitos restaurantes oferecem água quente (é normal beber água quente pura aqui, e faz bem!) ou até chá. Já em relação a restaurante alto, literalmente não tem limite. Pequim é a cidade com maior concentração de bilionários do país e uma das mais concentradas do mundo, então tem opções bem absurdas.
Em relação à bebidas, água é certamente o que você mais vai precisar na secura de boa parte do ano de Pequim: CNY 2-5 dependendo do lugar, por uma garrafa de meio litro. A água de torneira na China não é recomendada, então é melhor comprar um filtro ou as garrafas de 5 litros (CNY 8) e fazer refil para poupar o uso de plástico. No supermercado, uma garrafa de vinho importado sai, no mínimo, CNY 60 e uma garrafa pequena ou lata de cerveja importada sai por, no mínimo, CNY 10-15. As cervejas chinesas, como a Tsingtao (a marca mais famosa) você compra uma garrafa de 600ml por CNY 5 (nos restaurantes vai sair uns CNY 10-20). Um drink num bar? CNY 30, no mínimo, mas provavelmente CNY 50 (ou até CNY 90 em alguns bares em Sanlitun).
Para mim, o mais cruel é o café. Eu funciono com café, então acabei separando uma parte do meu orçamento mensal para isso, pois é bem caro (também trouxe um filtro e peço para me trazerem sempre que alguém vem do Brasil). Uma xícara de café preto dificilmente vai sair por menos de CNY 22, seja em uma cafeteria independente ou numa Starbucks da vida. A moda das cafeterias está forte em Pequim, então existem diversos lugares legais, bem decorados, com uma ótima ambientação e espaço para trabalhar e comer alguma coisa. Contudo, não espere pagar pouco. As que levam o café mais a sério podem cobrar até cerca de CNY 45 por uma xícara. Acaba sendo um hábito caro, já que o país ainda bebe muito chá. Até comprar o café para fazer em casa é um investimento e uma saga. A maioria dos supermercados vende café em pó instantâneo (me chamem de fundamentalista, mas sou contra). Achar café em pó ou o grão acaba sendo melhor comprar pela internet ou procurar em alguma loja mais especializada, mas não vai ser fácil achar nada por menos de CNY 20 (250 g, normalmente o nacional da província de Yunnan).
Para se preparar para morar aqui, é bom abandonar a ideia de usar cartão de crédito com muita frequência. Além de grandes lojas, como H&M, Zara, Apple, etc., bem poucos lugares aceitam qualquer bandeira que não seja a UnionPay (chinesa). Tirar cartão de crédito da UnionPay é um pouco complicado para quem não trabalha aqui, mas não é impossível. Cartão de crédito não funciona nem em compras online (como no Taobao/Aliexpress, Tmall ou JD.com), mas o app/site de viagem da Trip permite comprar passagens de trem e reservar alguns hotéis com o cartão internacional. O app de táxi compartilhado DiDi também passou a aceitar cartão de crédito internacional.
Falando em táxi, vale bastante a pena usar se você estiver com aquela preguiça, aquela pressa ou com dinheiro extra. Uma corrida começa em CNY 13. Para ir de Haidian até Gulou, pode sair entre CNY 30-60 dependendo do horário do dia ou trânsito.
Existem supermercados como o Carrefour, mas cada vez mais muitos fazem compras de itens diários pela internet mesmo, comprando quantidades grandes. Por exemplo, um pacote de rolo de papel higiênico na minha universidade individual saía CNY 3, um com quatro custava CNY 8-12, já no Carrefour um com oito custava CNY 20, e na internet o mesmo com oito custa CNY 10. Lição número 1 de viver em Pequim: sempre tenha lencinhos ou papel higiênico com você! Os banheiros públicos (gratuitos) nunca têm, os restaurantes nem sempre têm guardanapo, além das eventuais emergências de morar num país com comidas bem diferentes.
Meu pai vive me perguntando se vale a pena eu comprar um iPhone para ele aqui e levar para o Brasil. No fim das contas, o preço não é tão diferente entre os dois países para eletrônicos importados. Contudo, as marcas chinesas realmente valem a pena e não deixam a desejar. Um celular da Xiaomi com tela de 5 polegadas e 32 GB de espaço (é o meu e agora uma vez Xiaomi não tenho vontade de trocar para nenhuma outra marca) pode custar cerca de CNY 950, ainda que a câmera deixe a desejar perto do iPhone. Um computador Huawei dos modelos mais recentes e que tem configurações similares a um Macbook vai custar metade do preço (CNY 10 mil o Huawei contra uns CNY 20 mil do Macbook).
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Por fim, a melhor compra que você vai fazer na China certamente serão canetas. Isso mesmo. As canetas na China são maravilhosas! Já levei de presente e todo mundo sempre me pede mais. Elas escrevem bem, têm ponta fina, com tinta gostosa e que dá vontade de fazer uma biografia de mil páginas escrita a mão. E melhor: você pode comprar uma por CNY 3. A carga custa CNY 0.50. Minha teoria é que pelo fato de muito do aprendizado chinês de caracteres ser baseado em repetir e memorizar, que a galera gasta muito em tinta de caneta mesmo. Combine a caneta com uns cadernos baratíssimos e lindos de CNY 10, vá num dos novos cafés hipsters da cidade e sinta-se escrevendo o grande romance do século XXI.
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Bom dia, Júlia. Procurei você no linkedin para entrar em contato, mas infelizmente não consegui te enviar mensagem lá. Gostaria de saber se você teria algum contato para o qual eu pudesse escrever. Agradeço sua atenção!