Educação na Coreia do Sul.
No post do último mês, fiz uma breve explicação sobre o sistema educacional no país e como essa estrutura tem funcionado e lidado com suas crianças. Estudantes estrangeiros, porém, têm experiências diferentes, por isso também é importante notar como o sistema se adaptou para recebê-los.
Na última década, a Coreia do Sul tem promovido diversos programas e iniciativas para estimular suas instituições de ensino a desenvolverem um caráter competitivo no cenário global. A importação de estudantes e educadores estrangeiros no país tem estimulado cidades como Seul e Busan a adquirirem uma característica mais “cosmopolita” e mudado a forma como a própria sociedade se enxerga.
Apesar de competitiva, as bolsas acadêmicas tendem a ser generosas se comparadas com a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, no Brasil. Muito do corpo docente de grandes universidades é educado em universidades estrangeiras, criando desta forma, uma transição não tão drástica para estudantes acostumados com a educação de seus países – sem a hierarquia confuciana.
A Cultura
Além do aumento exponencial do número de estrangeiros em busca de formação em uma universidade, para os expatriados que moram no país o novo cenário de escolas estrangeiras também parece promissor. Com calendários americanos, europeus ou chineses, as escolas estrangeiras também atraem famílias coreanas em busca de uma educação “internacional” para as crianças, onde línguas estrangeiras seriam ensinadas de forma mais natural.
Fugindo do sistema pesado de exames e memorização comum às escolas coreanas, escolas estrangeiras também fornecem um ambiente de socialização e comunidade para famílias expatriadas e imigrantes, com o adicional de acolhimento às crianças. A falta de socialização dentro da sociedade coreana, porém, tem sido percebido como uma característica negativa no desenvolvimento dessas escolas, permitindo uma divisão entre “estrangeiros” e “nativos” no mundo cosmopolita de Seul.
A vida acadêmica coreana se apresenta de forma um pouco diferente para os estudantes estrangeiros e para os coreanos. Minha experiência na Pós-Graduação, me fez acreditar que existe algo como “dois mundos” na universidade e a mobilidade entre eles, está inteiramente dependente na capacidade do estudante de lidar com a barreira linguística. Conferências, grupos de pesquisa e oportunidades de apresentação de papers estão disponíveis, mas sempre na língua nativa. As grandes universidades geralmente também possuem uma faculdade especializada em estudos internacionais ou o Graduate School of International Studies (GSIS).
Na graduação (o undergraduate), as experiências que me foram contadas por corajosos brasileiros que vieram ter sua formação aqui do outro lado do mundo, têm um tom um pouco diferente. Muito da experiência universitária coreana está ligada semelhantemente a qualquer lugar no Ocidente, ou seja, ao senso de identidade com a faculdade e um sólido grupo de amigos. Nas experiências contadas, o saldo parece ser positivo e não muito aquém do que experimentei no Brasil: a confusão sobre a própria identidade e carreira, muitas saideiras com soju (a famosa bebida à base de batata doce), cerveja e muitas noites em claro para se terminar tarefas.
No entanto, uma pequena diferença existe. Enquanto o jovem ocidental encara a universidade como uma “promessa” e “tentativa de um futuro” numa generalização completa, um coreano encara a entrada na universidade como o fim de todos os esforços, da família e de si mesmo. Isso se demonstra claramente na forma como estrangeiros e coreanos lidam com a vida universitária sob o mesmo sistema; nas diferentes expectativas, rotinas e relacionamento com professores.
As oportunidades
Em termos práticos, um estudante estrangeiro tem a possibilidade de vir para a Coreia do Sul escolhendo alguma das alternativas: Programa de verão/inverno, Programa de intercâmbio ou um Programa de bolsa integral para um curso completo.
Programas de curto prazo sazonais – são oferecidos durante o verão/inverno e geralmente são focados em estudos da língua coreana e aspectos culturais do país. Muitas universidades de reputação oferecem cursos durante esses dois períodos de férias com duração de 5 a 8 semanas. Oportunidades para bolsas nesses cursos são um pouco mais escassas, embora muitas oportunidades possam ser conquistadas via programas culturais de iniciativa privada – normalmente dos países de origem do estudante.
Programas de intercâmbio – são extremamente comuns na Coreia do Sul e corresponde à ocupação da maioria dos estudantes ocidentais nas SKY (Seoul National, Korea University e Yonsei University). Intercâmbios são usualmente realizados entre universidades parceiras, permitindo que os créditos obtidos pelo estudante no país seja transferido para seu curso local. Em algumas ocasiões, devido à um interesse particular de um estudante (seja por motivos de pesquisa, assunto de tese, etc.), o acordo de intercâmbio pode ser feito “manualmente” entre o Departamento da Universidade local e uma Universidade coreana. O processo é burocrático e nem sempre possível, mas é uma boa chance para aqueles que querem se aprofundar em questões pertinentes à Ásia e não contam com um apoio institucional já estabelecido. O Governo coreano possui programas de suporte financeiro à estudantes estrangeiros em intercâmbio que podem ser pesquisados no site oficial do programa (site em inglês).
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Os programas de curso integral – são para aqueles que querem ter a formação completa em uma universidade coreana. Graduação, Mestrado, Doutorado ou Programa de Pesquisa – as opções são vastas (não existe um limite para o tipo de curso que um estrangeiro gostaria de se formar) e as oportunidades de bolsa integral são boas. Essa autora, veio para a Coreia do Sul através do programa de bolsa do governo coreano, o Korean Government Scholarship Program (KGSP). O programa é baseado em um processo seletivo dividido em fases e pode ser concorrido de duas formas diferentes: diretamente pela Embaixada da Coreia do Sul ou diretamente pela universidade coreana que o estudante deseja estudar. O programa inclui cobertura de despesas da universidade mais uma quantia necessária para se comprar alimentação, vestimentas e lazer.
O que é essencial
Um bom domínio da língua inglesa é extremamente necessário para se integrar à rotina da vida universitária no país, considerando que o estudante ainda não possui um conhecimento médio da língua coreana. Programas como KGSP, exigem um ano inteiro de estudos em língua coreana antes de ingressar na faculdade para o programa de graduação, mestrado, doutorado e uma pontuação mínima no teste de proficiência da língua, enquanto outros programas voltados exclusivamente para formações internacionais não carregam a mesma exigência.
Também é extremamente necessário que o candidato que estude no país, tenha conhecimento da universidade e dos programas oferecidos. Muitas universidades não oferecem aulas em inglês e demandam mais da capacidade do aluno de entender as aulas. Com exceção das SKY e de outras universidades competitivas (KAIST, Ewha, entre outras), não é tão comum achar programas em língua inglesa.
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Programas nas áreas de engenharia e “exatas”, exigem participação diária do estudante no laboratório do departamento, demandando bastante tempo da rotina e eliminando tempo de férias. Áreas como literatura e história, são fortemente orientadas na Ásia e relações coreanas. Muito raramente são oferecidos cursos em outra língua que não coreano, japonês ou chinês.
Localização importa. Seul é uma cidade cara e muitas vezes, a bolsa oferecida não cobre opções de lazer e descanso já que alimentação e aluguel consomem boa parte das finanças. Por isso, é importante considerar questões de moradia, se o dormitório oferecido é barato, de graça, ou se vale a pena ir para uma cidade menos cosmopolita.
A decisão de estudar e morar em um país com cultura diferente e geograficamente distante do familiar, demanda atenção com relação a questões práticas e financeiras. Ainda assim, acredito que estudar na terra onde se tem um dos melhores sistemas de educação do mundo, pode proporcionar uma experiência singular para qualquer um.
2 Comments
Eu tenho só 14 anos e quero terminar meus estudos na Coréia do Sul mais não sou tão fluente na lingua inglesa e coreana só entendo pouca coisa o que eu faço?
Olá Giovana,
A AAna Paula Píres parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM