Volta às aulas no Chile durante a pandemia.
Em fevereiro desse ano, o governo do Chile anunciou, de forma inesperada, que as escolas retomariam as aulas presenciais. Por isso, os professores seriam vacinados juntos com os idosos. O anúncio pegou todo mundo de surpresa, inclusive os colégios. Na escola da minha filha, já tinham avisado que as aulas presenciais seriam retomadas em abril desse ano.
No mesmo dia do anúncio, liguei para o colégio e novamente a secretária me disse que não haveria retorno às aulas, pois não havia chegado nenhuma comunicação oficial do Ministério da Educação. Não estava nos meus planos mandar minha filha para a escola.
Apesar de ser o primeiro ano da Educação Básica, portanto, um dos mais importantes – quando se aprende a ler e escrever, entre outras coisas essenciais na formação escolar-, eu e meu marido já tínhamos decidido que ela não iria. Passado o susto inicial, veio um comunicado do colégio informando que as aulas presencias seriam oferecidas e que caberia aos pais decidirem se mandariam ou não seus filhos.
A volta às aulas
Com isso, as aulas iniciariam no dia 1º. de março, sendo oferecida a modalidade online e presencial. Uma reunião foi marcada com os pais e, via zoom, fomos informados sobre os protocolos da escola para receber os alunos.
Mesmo com todas as informações claríssimas, naquela época, os casos de contágio por COVID19 estavam disparando em todo o Chile, especialmente, depois das férias. Muitas pessoas viajaram dentro e fora do país, e, aqui em casa, tínhamos receio por conta disso. Imaginem quantas pessoas recém-chegadas de viagem pensavam em mandar seus filhos para o colégio?
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Preferimos partir com as aulas online e observar o protocolo da escola, caso fosse detectado algum caso para ver se era realmente seguro mandar a nossa filha. Tinha lido uma entrevista com uma infectologista famosa que fez o mesmo quando a filha dela retornou ao colégio nos Estados Unidos. Depois de 15 dias, ela finalmente se sentiu segura. Achei um bom critério e resolvi seguir o mesmo procedimento.
As aulas iniciaram na primeira semana de março e, desde o início, foi aquela correria. Tudo mudou! Antes, nossa filha estava no jardim e tinha aulas três vezes por semana, duas horas por dia, era muito tranquilo. Acontece que no primeiro ano, é tudo bem diferente…
Como funciona?
No colégio da nossa filha, que é particular, ela tem aula todos os dias, de segunda a sexta-feira. As aulas começam às 9:00 da manhã e duram 40 minutos. Depois desse tempo, há um intervalo de 20 minutos no qual funcionários da limpeza desinfetam a sala. Todos devem sair e guardar o material na mochila.
A jornada da manhã termina às 12:40. Depois, as crianças almoçam em casa (mesmo as que vão para o colégio) e logo seguem as disciplinas complementares no período da tarde (educação física, inglês, música, artes visuais, tecnologia e orientação). Nessa parte do dia, as aulas são online para todos e começam às 15:00 e terminam às 16:40.
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Sim, é bem puxado mesmo! Cansativo e não dá tempo de fazer quase nada no dia. Para minha filha foi um processo de adaptação, principalmente, porque ela nunca ficou tanto tempo na frente de um computador.
A Gabi não joga nenhum jogo online, não navega no celular, nem em tablete. Nesse sentido, somos bem antiquados e preferimos que ela brinque com crianças da idade dela. Para isso, sempre levamos às pracinhas e parques perto de casa. Mas até esse hábito ingenuamente saudável foi comprometido nesse período.
Quarentena total depois da volta às aulas
Em abril, o governo decretou quarentena total em Santiago e em toda a Região Metropolitana. O confinamento chegou tarde porque as UTIs já estavam com sua capacidade comprometida. A situação era de completo caos e foi uma medida desesperada.
Com isso, as aulas presenciais foram suspensas novamente e voltou todo mundo para o ensino à distância. Somente os professores iam à escola para fazer as aulas. Esse sistema de ensino online é cansativo porque estamos todos em casa. Como estou trabalhando, tem dias em que fica complicado acompanhar minha filha.
Também é desgastante para os alunos porque tudo depende do contexto socioeconômico em que eles vivem. Nem todos têm um entorno familiar que possibilite o aprendizado dessa forma.
Os professores, por sua vez, estão cansados, exaustos, tentando virar youtubers e dominar novas plataformas para atrair a atenção dos alunos. No colégio da Gabi, a gente percebe claramente que houve um investimento em estrutura, com programas e treinamento dos professores. Mas a gente sabe que não é assim em todo o sistema educacional chileno.
Professora demitida
Um dos episódios mais marcantes no início do ano, por sinal, foi o de uma professora de uma tradicional escola localizada num bairro nobre de Santiago que teve uma conversa por whatsapp divulgada em redes sociais. O áudio viralizou e as queixas se tornaram públicas.
Posteriormente, o colégio demitiu a professora, apesar dos pais terem saído em defesa da educadora. Nas redes sociais, os chilenos também se solidarizaram com a “miss” do Colégio Mayflower, mas infelizmente, ela ajudou a engrossar as estatísticas de desemprego. Entre as reclamações estava a falta de coordenação dos que estão em casa com os que estão na sala, justamente, porque o colégio não investiu em equipamento adequado.
Além disso, varia muito a quantidade de alunos em sala de aula. O colégio da minha filha é pequeno e são poucos alunos, o que ajuda a ter um bom controle da situação. Mas quanto mais cara a mensalidade, mais alunos são necessários para manter a estrutura do colégio funcionando. Consequentemente, mais difícil para o professor.
O ministro da Educação simplesmente desapareceu depois que os casos de COVID19 dispararam em todo o Chile. O sindicato dos professores pediu que ele renunciasse porque ficou clara a falta de gestão em meio à pandemia.
Nova fase da quarentena
Finalmente, saímos da quarentena total na última semana de abril, portanto, o colégio voltou a oferecer a possibilidade de aulas presenciais. Desta vez, meu marido já está vacinado (ele trabalha na imprensa e os profissionais foram vacinados para trabalhar na cobertura das próximas eleições). Na próxima semana, também tomo a primeira dose da vacina.
Decidimos fazer um teste. Já observamos o colégio, conversamos com outros pais que mandaram os filhos antes da quarentena total e ficaram bem satisfeitos com o protocolo do colégio. Eles medem a temperatura, usam álcool gel, exigem o uso de máscara, adotaram marcações para manter a distância segura, limitaram o acesso ao banheiro, entre outras medidas. Vamos tentar.
O colégio pede aos pais que avisem às quintas-feiras quando querem mandar seus filhos na semana seguinte, a partir de segunda. Não sei como será essa nova aventura, mas daqui a um mês conto para vocês que tal nos saímos com esse experimento.
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