Educação na Coreia do Sul – Como é para os coreanos?
Estudar na Coreia como estrangeiro e como nativo são experiências diferentes. A “terra da calma manhã” já possui status mundial como uma gigante na qualificação de seus estudantes, e seu nível de competição entre outras potências. Do primário à universidade, estudantes coreanos possuem a reputação de gastarem horas extras depois da escola estudando e se preparando para mais testes de qualificações com o intuito futuro de garantirem seus lugares em alguma das gigantes corporações do país (Samsung, Hyundai, LG, etc).
Os coreanos sacrificam o tempo de lazer e às vezes a própria saúde à pressão à qual os jovens do país são submetidos – o que nem sempre parece ser um exemplo que mereça ser seguido, apesar da admiração que causa em outras terras que sofrem com o descaso no setor educacional. Para qualquer chance de reforma, é necessário entender o porquê de a sociedade ter erguido um sistema de qualificação educacional tão competitivo e abrangente além das necessidades que ainda sofre.
Nos dias de hoje, a rotina “normal” de um estudante coreano no Ensino Médio consiste em: Ir para a escola cedo antes das 8 da manhã para estudar ou se preparar para os estudos, para então assistir aulas das 8h30 às 12h; depois do almoço, recomeçar as aulas das 13h30 às 16h. Até às 19h, os estudantes geralmente jantam e continuam na escola para estudar ou fazer deveres de casa. De noite, a grande maioria dos estudantes (se não todos), vão para cursinhos e só voltam para casa perto das 23h, depois de terminado as tarefas do dia e aulas extras.
Muitas escolas também possuem atividades extras aos finais de semana, consumindo assim, a vida do adolescente por inteiro. Apesar de soar surreal, muitos adolescentes são submetidos à essa rotina até antes de iniciarem o Ensino Médio pois, desde cedo, estão envolvidos em um espírito de competição para conquistarem uma vaga em escolas e universidades de prestígio. Com isso, a socialização dos adolescentes vem sendo comprometida e o investimento das finanças de uma família nesse sistema, tem gerado preocupação nas autoridades que afirmam que o mercado não tem sido capaz de absorver esses jovens.
Até antes da Guerra (que começou em 1950), com a saída dos japoneses da península, a nova administração coreana trabalhou rapidamente em um plano para investir em mão-de-obra qualificada com o objetivo de restaurar a ordem econômica no país. Com o fim da Guerra da Coreia em 1953, a antiga forma descentralizadora de administração de escolas nos distritos foi sendo substituída pelo governo centralizador do Regime Militar da Coreia (com Park Chung Hee) e um imenso investimento no setor educacional foi promovido.
Mais do que os recursos empregados, foi a vontade da sociedade em investir seu tempo e energia na melhoria do “capital humano” que no final, ajudou os esforços do governo a levantar o país das cinzas. O técnico, o “homem da ciência”, o engenheiro e o intelectual, se tornaram ideais a serem alcançados e respeitados, muito similar à própria ideia “Confuciana” de educação (onde sabedoria se alcança nos estudos).
As políticas públicas responsáveis pelo aceleramento econômico do país beneficiaram o setor educacional tremendamente. Um país que via sua taxa de analfabetismo adulto na casa dos 20% antes da Guerra, chegou ao sucesso de dispor de uma taxa de alfabetização de mais de 90% já nos anos 1980 – 30 anos de investimento mostrando resultados tangíveis.
Porém, com o aumento do número de graduados na universidade e o investimento promovido no setor, veio a competição. Um diploma, se tornou o mínimo essencial para se ingressar em carreiras na economia coreana com ênfase social no status do “homem educado”, o que também significou uma nova espécie de estratificação social, pois sua posição na sociedade depende do prestígio da escola.
Nos anos 1980 algumas reformas foram introduzidas para que uma parte maior da população tivesse acesso à educação superior – o que não resultou precisamente em benefício à sociedade. Mais jovens passaram a gastar seu tempo na busca de educação para a carreira prestigiosa, mais famílias passaram a investir suas economias para que suas crianças tivessem um bom fator de competitividade, no entanto, o número de vagas de emprego para uma população tão bem qualificada não aumentou. Com o tempo, o governo passou a ter de lidar com um crescente número de jovens cujas habilidades não correspondiam às ofertas que recebiam.
No momento que a crise de 2007-08 chegou na Ásia, o país já continha um grande contingente de desempregados super qualificados que não tinham treinamento em áreas mais técnicas ou necessárias para empresas de pequeno e médio porte. No terceiro trimestre de 2016, um em cada três desempregados na Coreia do Sul eram graduados universitários – fato atribuído a uma combinação de uma prolongada desaceleração econômica na Coréia e da chamada “inflação acadêmica” – causada graças ao fator social de se ater prestígio ao status acadêmico.
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Apesar de já poder ser possível observar uma mudança na relação da sociedade com Educação, no exemplo da quantidade de jovens adultos optando por estudar em “escolas vocacionais” ou Escolas Técnicas, ao invés de universidade – a solução para o problema da inflação acadêmica não parece vir a curto prazo. Muito da atitude das famílias do país ainda está ligada à ideia do prestígio das notas altas e a busca por uma vaga nas SKY (Seoul National, Korea University e Yonsei University).
A rotina do estudante coreano médio continua similar (ou talvez até mais pesada) que há dez anos, refletido inclusive no número significativo de suicídios entre jovens em idade escolar. Além disso, a constante queda na taxa de natalidade demanda por uma revisão da necessidade de um investimento financeiro tão grande na educação das crianças. Liberar os pais desse fardo tem sido um esforço novo nas administrações governamentais.
Muitas campanhas já têm sido propostas e divulgadas, com o intuito de tentar mudar a mentalidade de uma sociedade que deve tanto ao investimento de sua Educação na prosperidade do qual eles desfrutam. O futuro parece brilhante e promissor, a esperança posta nos novos jovens adultos que procuram opções à rotina integral de estudos para que possam se dedicar a outras atividades e promover inovação no país.