Encontrar um trabalho no exterior sem ter a cidadania – é possível, sim!
Quando pensamos em “mobilidade internacional” – pessoas que saem dos seus países de origem, por tempo determinado ou não, para viverem em outros cantos do mundo, geralmente pensamos em duas palavras: imigração e expatriação. Em teoria (e digo “em teoria”, pois o uso comum acaba mudando os conceitos na prática), o termo “imigração” indica pessoas ou grupos que moram em países diversos daqueles de origem, independentemente do motivo ou da duração. Esse conceito varia bastante, e a própria ONU tem definições diversas para ele. Por sua vez, termo “expatriado” vem do latim “ex-patria”, ou seja, “fora de sua pátria”. Nesse sentido, todo imigrante é um expatriado. Porém, no uso quotidiano, a palavra imigrante costuma indicar quem que mudou de país para residir para sempre em um outro, enquanto o termo expatriação designa a pessoa que temporariamente está residindo em um novo país. Para esta leitura, vamos considerar esse último caso.
Segundo a consultoria financeira Finaccord, especializada em pesquisa de mercado, existem no mundo 66,2 milhões de expatriados (residentes temporários), o equivalente a 25,7% do número total de imigrantes (dados de 2017; veja mais aqui).
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Nessa população de expatriados existem basicamente 5 categorias:
. estudantes – seja em intercâmbios de aprendizado de idiomas, seja em estudos superiores
. aposentados
. acompanhantes – cônjuges e crianças (que não trabalham em solo estrangeiro)
. trabalhadores corporativos – que foram enviados por uma empresa para um trabalho específico
. trabalhadores individuais – que encontraram trabalho por conta própria.
Segundo a pesquisa da Finaccord, os trabalhadores corporativos representam apenas 1% dos expatriados. A maior categoria é a dos trabalhadores individuais: 71,1%.
Nela, encontramos a grande maioria de pessoas que primeiro se mudam e depois tentam encontrar um trabalho que lhes permitam viver. Alguns vão para estudar e, com a ajuda da instituição de ensino onde estão, conseguem estágios ou até mesmo trabalhos. Outros, arriscam os perigos de trabalhar sem autorização, o que pode trazer problemas sérios: sem autorização não se tem acesso à segurança social, saúde, educação, não se pode dar queixa na polícia no caso de roubos e assaltos, não é possível viajar de um país a outro de avião (por causa do controle de passaporte) e há sempre o risco de denúncias, multas e de deportação, com o impedimento de se voltar ao país por anos.
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A cada ano que passa, considerando o grande número de imigrantes fugindo de guerras ou situações de violência que pedem asilo, fica mais difícil conseguir um bom emprego sem ter a cidadania de um país. E isso tem levado a um aumento no número de solicitações de dupla cidadania, como exemplificou recentemente o jornal Estado de Minas.
Mas é possível conseguir um bom trabalho ser ter cidadania. Esse é o sonho de muita gente (não apenas de brasileiros): enquanto ainda se está no trabalho atual, em seu país de origem, começar a procurar uma boa posição no exterior e CONSEGUI-LA!
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Quais são seus talentos?
É bem verdade que essa não é uma tarefa das mais fáceis. A começar pelas nossas próprias qualificações. Geralmente, o item básico mais necessário de todos é, obviamente, falar o idioma local. Dificilmente uma empresa vai lhe contratar se você não tiver uma fluência razoável (e, dependendo da função, fluência total). Mas até sem falar uma só palavra do idioma isso é possível, como aconteceu com meu marido (que trabalha em uma empresa dinamarquesa, em solo francês, e onde o inglês é o mais usado na posição que ocupa).
Para encontrar um trabalho que lhe corresponda em outro país, o mais importante é conseguir traduzir qual é verdadeiramente o seu diferencial em um texto curto, objetivo e claro. Por que razão uma empresa faria o complexo processo de justificar ao governo a contratação de um estrangeiro (isso é mandatório em vários países), e não de um local? Somente se esse estrangeiro tiver um conjunto de talentos que ela não encontra no mercado próximo! Essa é, na verdade, a parte mais importante do projeto de busca de um emprego no estrangeiro. É o maior dos desafios porque você precisa convencer a empresa de que você, e só você, tem um conjunto ótimo de talentos e qualificações que atende exatamente o que ela está buscando naquele momento. Se você quiser que eu comente sobre uma maneira de fazer isso, por favor, indique nos “comentários” e eu escreverei um artigo com esse tema.
Uma vez identificando seus grandes talentos para apresentá-los de forma atrativa em redes sociais profissionais, cartas de apresentação, CVs e entrevistas, o próximo passo é definir a região de interesse (ou as regiões) e criar uma estratégia de aproximação. Você vai contatar diretamente as empresas que mais lhe interessam? Conhece alguém lá dentro, mesmo que seja no seu próprio país? Alguém poderia lhe recomendar ou lhe dar algum contato representativo? Você já fez uma lista de bons headhunters e empresas de recrutamento? Que tipo de mensagem passará para cada um deles? É possível aproveitar o momento de férias e se colocar à disposição para encontros e entrevistas no país-alvo? Que outros mecanismos de busca de vagas ou de contatos existem e você pode explorar? Você tem hoje algum networking com pessoas de culturas diferentes, o que lhe dá uma certa experiência para contar durante uma entrevista (e, se não tem ainda, você pode começar a construir um?)
Quando você tem dupla-cidadania ou um título de residência (ainda que temporário), isso facilita bastante o projeto de recolocação, visto que é um obstáculo a menos. Mas, ainda assim, o trabalho de bem se preparar e se apresentar é fundamental para o sucesso do projeto. Há dias em que você ficará bem desmotivada, pois parece que ninguém quer lhe ouvir nem lhe conhecer. Mas haverá outros momentos em que vários contratantes vão se interessar pelo seu perfil e isso lhe dará muita energia e motivação para seguir adiante.
Defina o que quer e mãos à obra. O mundo é feito de possibilidades e atenção para você mesma não limitá-las. Vejo vocês em outro país. Até lá!