Você, sendo você mesma.
Na semana passada, realizei um trabalho importante por meio de videoconferência – uma reunião de coaching de equipe com um grupo de gestores e diretores de RH.
A tarefa em si não era das mais complicadas do ponto de vista técnico, pois estou confortável com a metodologia usada em atividades como essa. No entanto, estava mais ansiosa do que de costume.
Você, sendo você mesma
Em primeiro lugar, pelo fato de que o trabalho seria feito todo em francês, com pessoas que não me conheciam, e à distância. Ainda que eu fale fluentemente o idioma, não sou 100% bilíngue, o que significa que sempre cometo alguns erros de concordância ou de vocabulário. Isso não costuma ser um freio para mim.
Além de não ter problemas de comunicação no quotidiano profissional – meus clientes conseguem me entender bem e vice-versa – meus interlocutores me dizem que os erros de francês que eu cometo não são graves e não interferem nas mensagens.
No entanto, estava com aquele friozinho na barriga, típico de quando você tem alguma coisa importante em jogo. Nenhum dos participantes me conhecia e a ansiedade frente ao julgamento era inevitável.
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Em segundo lugar – e o mais importante – era o tipo de público. Tratavam-se de 8 profissionais de RH de uma grande empresa, ou seja, um perfil bastante exigente, que geralmente conhece mais ou menos a fundo a metodologia de coaching justamente porque costuma se ocupar de sua contratação.
Então, aqui começaram a chegar vários tipos de pensamentos limitantes em minha cabeça e que podem provocar estragos se forem alimentados. E se eu errar muito no idioma? Eu sou a imigrante que estará dirigindo por algumas horas o trabalho de uma equipe de experts locais. E se meu jeito de fazer as coisas, ligado a meus traços culturais, for muito diferente daquilo que costumam ter? E se a empresa não gostar do meu trabalho e nunca mais me chamar para colaborar com eles? E se…e se….!
O olhar de fora é sempre um benefício
Antes de deixar esses pensamentos ocuparem muito espaço dentro de mim, fui conversar com outra coach, também especializada em liderança, e francesa! Minha ideia original era colher algumas dicas sobre o tipo de perfil em questão, mas saí da conversa com algo muito mais importante.
Ela me lembrou que justamente por eu não ser uma local é que poderia levar pontos de vista e formas de pensar diferentes daquele jeito coletivo de fazer as coisas. O olhar de fora é sempre um dos benefícios de um processo de coaching. Um olhar de fora estrangeiro, de “fora mesmo”, pode ser ainda mais frutuoso.
Esse comentário me fez refletir sobre coisas importantes. Primeiro me lembrei dos aprendizados sobre o idioma e sobre você se assumir com todos os sotaques, tropeços e o que mais existir, experiência relatada anteriormente neste artigo.
Você, sendo você mesma
A conversa também reforçou para mim algo que sempre pensei: que integrar-se em uma nova cultura não significa afastar-se da sua cultura de origem ou tentar se aproximar o máximo possível da nova. O que faz a verdadeira diversidade do mundo é justamente as diferenças entre nós. Não existe ninguém igual ao outro nem nunca vai existir e é essa riqueza que proporciona avanço em todas as áreas.
Passar por essa experiência de insegurança foi muito positiva, pois me ajudou a questionar minhas próprias características e a reforçar minha autoestima.
Quando vivemos em um outro país e passamos a ter a sensação de nem sermos mais 100% de lá (nossa origem) mas tampouco pertencermos 100% aqui, esses momentos podem aparecer com certa frequência. É uma sensação um pouco estranha, de estar sempre vendo as coisas ligeiramente diferentes do olhar local. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.
E, nesse aprendizado, diário, você vai gostando mais e mais do seu jeito. E isso basta! Ah, e o trabalho com o grupo de profissionais de RH? Teve um resultado muito bom, com bons feedbacks ao seu final. Que venham os próximos!
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