Ensino da língua portuguesa para australianos.
Uma das perguntas que eu mais respondo quando conheço alguém aqui, ou quando consigo conversar com os amigos no Brasil, com quem já não falo com tanta frequência devido ao fuso horário e às nossas rotinas loucas é: o quê você esta fazendo na Austrália, enquanto não encontra algum emprego na sua área?
Quando respondo que um dos meus trabalhos é ensinar português para australianos, já me preparo para a reação de interrogação da pessoa. Até parece que inventei uma historinha qualquer quando respondo, né? Porque ninguém acredita, ou ao menos, nunca pensou em fazer isso! E, depois, vem a próxima pergunta: mas para quê os australianos querem aprender justo o português?
Então, vou explicar como cheguei a isso…
Quando você chega aqui na Austrália, tem que se virar e arrumar um trabalho para se manter com o alto custo de vida. Nessa hora, muitas brasileiras viram aquela profissional mil e uma utilidades. Cada dia estão em um trabalho diferente como babá, faxineira, garçonete, bartender, entregadora de Ubereats (ou seus concorrentes, pois aqui também tem um monte!), controladora de trânsito, e por aí vai. Dependendo do trabalho que você escolhe, é necessário obter um certificado específico.
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Comecei a perceber que não adiantava eu fazer um currículo falso, como vi muitos por aí, que mostravam experiências, muitas vezes, inexistentes só para entrar naquele nicho. Se eu não conseguisse fazer um bom trabalho e ser convincente sobre a minha experiência, acabaria reprovada quando me chamassem para fazer um teste. Sim, eles te chamam para fazer testes e te avaliam por, teoricamente, duas horas. Na verdade, cheguei a me candidatar até para ser garçonete. Fui chamada e, no meu caso, foram 4 horas de teste! Foi o primeiro e único para perceber que era melhor eu procurar trabalhos que tinham mais a ver com as minhas aptidões e com o que eu já tinha trabalhado no Brasil.
A partir daí, comecei a procurar trabalhos administrativos, posições voltadas para ambientes em escritório, que era onde eu tinha experiência mesmo. Até que vi um anúncio recrutando profissionais para dar aula em sua língua materna segundo a região que você morasse. Inicialmente, desconfiei, pois era muito bom para ser verdade, mas como eu sou curiosa, resolvi abrir o anúncio e entender como funcionava. Além disso, tenho bastante experiência em dar aula de Física, Química e Matemática para alunos de Ensino Médio e também em cursos de pré-vestibular. Mas até então nem tinha pensado na possibilidade de voltar a dar aulas aqui.
O anúncio falava de um site chamado Tutoroo que conecta as pessoas aos seus professores particulares na cidade que eles estão morando. Mas estes professores dariam aula de qualquer disciplina? Não, apenas ensinariam sua língua nativa para as pessoas da comunidade local. Fui logo pesquisar sobre os pré-requisitos e dizia que você não precisava ser qualificada e nem ter certificações, desde que fosse nativa na língua que você estivesse se candidatando, se sentisse confiante em compartilhar e ensinar. E o que era necessário então? Apenas se cadastrar na plataforma, montar o seu perfil e informar a sua disponibilidade de horários e locais.
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Naquele momento, parei para pensar que o único pré-requisito seria ter didática para dividir o meu conhecimento. Como eu já tenho essa habilidade devido a experiências anteriores, resolvi encarar o desafio de montar um curso para estrangeiros. Confesso que ainda fiquei um pouco reticente se eu teria alunos, afinal, por quê um australiano gostaria de aprender justo o português?
E não é que deu certo? Os interessados entravam em contato com o Tutoroo e eles me apresentavam ao aluno através de um grupo criado no Whatsapp. Depois disso, me apresentava e já marcávamos a primeira aula. Aos poucos, montei a minha clientela e adquiri mais confiança no curso que estou construindo.
Como eu não esperava uma resposta positiva tão rápida, confesso que ainda estava despreparada em relação ao espaço para dar a aula. Cheguei a fazer as primeiras aulas no parque, onde ficava sentada com os alunos na grama bem no estilo que o australiano gosta. Mas logo encontrei as bibliotecas nas redondezas e descobri que uma delas não fecha tão cedo para os padrões australianos. Como membro (que não custa nada) eu podia reservar sala de estudos em grupo. A partir daí, já entrou na minha rotina fazer a reserva das salas para as aulas com duas semanas de antecedência e garantir a vaga, pois elas são super concorridas.
Com isso, já dou aula de português há nove meses (dos 12 que estou aqui) através desta plataforma. Existem outros meios para ampliar esta rede e fazer propaganda para captar novos alunos e também outros nichos. Cheguei a pensar em fazer isso, mas percebi que me afastaria do meu objetivo maior aqui na Austrália. Então, por enquanto, prefiro ficar com uma clientela mais reduzida.
Espero ter ajudado e inspirado algumas de vocês! Até o próximo texto!
1 Comment
Evelyn,
Que experiência incrível. Muito obrigada por tê-la compartilhado. Poxa! estou no Brazil e ir para a Austrália continua sendo um sonho. Gostei muito de saber sobre essa ferramenta Tutoroo, uma pena que daqui do Brazil não possamos dar aulas online.
Muito sucesso para você.