Hoje o BPM apresenta a ilustradora Luciana Azevedo. Ela já morou em vários países trabalhando como geóloga, mas depois de se mudar para o Canadá e com a chegada do primeiro filho, passou a fazer do desenho, uma paixão antiga, a sua nova profissão e se tornou ilustradora infantil, para a alegria dos pequenos que se encantam com os lindos desenhos de cores delicadas.
BPM – Fale sobre a sua trajetória: de onde é no Brasil, quanto tempo mora fora, lugares onde morou..
Luciana – Sou de BH, moro fora do Brasil desde 2004. Passei 3 anos na Venezuela, 2.5 na Austrália e estou desde 2010 no Canadá. Nos dois primeiros países, eu estive trabalhando como geóloga e quando me mudei pro Canadá decidi mudar de carreira e virar ilustradora infantil.
BPM – Como você descobriu que queria ser ilustradora? A mudança para o Canadá influenciou na decisão de trocar de carreira? Como foi a mudança de geóloga para ilustradora?
Luciana – Ahhh, eu sempre amei desenhar… desde pequena! Mas a transição de geóloga à ilustradora não foi tão fácil, nem óbvia… Houve muito conflito interno e incertezas. Meu maior desafio no início foi abrir mão do certo… Meu salário ótimo todo mês, tudo o que eu tinha construído até ali com muito sacrifício, os 5 anos duros de faculdade, o emprego que eu já tinha na Austrália. Mas quando meu primeiro filho nasceu, tudo ficou claro e percebi que a geologia não cabia mais na minha vida. Eu queria exercer a maternidade por completo e acompanhar de perto o crescimento do Nic. Não conseguia mais me imaginar trabalhando num ambiente estressante, que me exigia tantas horas de trabalho e viagens ocasionais. Ainda mais meu marido sendo também geólogo!
Uma vez que eu aceitei dentro de mim, que tudo bem eu virar aquela página da minha vida para buscar algo que me desse mais realização pessoal e encontrei o apoio do meu marido, tudo ficou um pouco mais fácil. Ainda assim, recebi muito julgamento de muita gente, inclusive amigos próximos, que achavam uma barbaridade eu mudar de carreira pra ficar mais perto do meu filho. É estranho, mas percebo que no Brasil muita gente critica você por querer abrir espaço na sua vida para acomodar uma nova vida… Não faz muito sentido para mim isso. Foi aí que me mudei pro Canadá e aos poucos passei a voltar a desenhar. À medida que fui vendo meu filho crescer, fui ficando cada vez mais fascinada pela infância… e era isso que passei a tentar captar nos meus desenhos.
Comecei a postá-los no meu antigo blog, as pessoas foram se interessando pelas ilustrações, encomendando, fazendo propaganda de boca em boca… daí surgiu a Lalelilolu Studios.
BPM -De onde vem a sua inspiração para criar os desenhos?
Luciana – Dos meus filhos, sem dúvida!
BPM – Você acha que se estivesse no Brasil ainda seria geóloga?
Luciana – Boa pergunta!!! Acho que talvez sim… Acho que o fato de eu morar no Canadá me ajudou muito na minha decisão de mudar de carreira para ficar mais próxima do meu filho. Aqui eu me senti entendida e amparada, jamais recebi um olhar de crítica sequer, muito pelo contrário. As pessoas admiram decisões como estas, pois entendem a importância dos pais participarem ativamente dos primeiros anos da criança. Se eu morasse no Brasil, imagino que seria bem provável que a pressão das pessoas e da sociedade falasse mais alto… Não sei! Sem falar que eu teria também o amparo da família pra me ajudar com o Nic, o que não justificaria tanto eu querer ficar com ele em tempo integral. Posso estar errada, mas bem provável que eu ainda exercesse a profissão de geóloga.
BPM – Como é a sua rotina como mãe e ilustradora?
Luciana – Frenética! Faço varias coisas ao mesmo tempo, mas já tenho um sistema bem organizado aqui em casa e que funciona. Me esforço muito pra não procrastinar, mas também não me cobrar demais. Se não deu pra fazer, não deu. Vivo de listas e calendário, tenho rotina para arrumar a casa e não deixar a bagunça tomar conta, cozinho uma vez por semana para semana toda, levo e busco as crianças da escola e atividades, e tento envolvê-las o máximo possível nas tarefas domésticas. E tento desenhar entre uma coisa e outra.
BPM – Você fez algum curso de ilustração no Canadá? Se sim, qual recomendaria.
Luciana – Não, nunca fiz. Mas já ouvi falar muito bem dos cursos da Universidade Emily Carr, em Vancouver. O que eu fiz foi um workshop/oficina recentemente para aprender a fazer colares de resina com minhas ilustrações dentro. To amando produzir os colares!
BPM – Como os canadenses veem o teu trabalho? Ser brasileira influencia algo ou não?
Luciana – Eles adoram e acho que o fato de eu ser brasileira não influencia tanto não… Já tive oportunidade de participar de algumas feiras e mercados aqui no Canadá e meu trabalho sempre foi muito bem recebido! Em geral, meus maiores fãs são as crianças, que se reconhecem nas situações que desenho e querem ter todas as ilustrações pra elas! São muito fofas! Mas uma das coisas mais emocionantes que me aconteceu, foi ver uma senhora chorando de emoção, lembrando da própria infância ao ver meu trabalho. Foi lindo e especial! Me arrepio ao lembrar!
BPM – Deixe uma mensagem para as Brasileiras Pelo Mundo
Luciana – Se você leu até aqui, muito obrigada! E se você tem o sonho de mudar de carreira pra buscar algo que te faça mais realizada (seja para ficar mais perto dos filhos ou não), siga em frente! E não deixe que a opinião dos outros te faça desistir de tentar ser mais feliz!
Contatos:
3 Comments
Oi Ann!
Muito obrigada pela oportunidade de contar um pouco da minha trajetória aqui! Adorei!
Grande beijo!
Lu
Parabéns, Lu! Você é uma vencedora e quero imigrar para o Canadá assim como você. Você só esqueceu de indicar os seus vídeos maravilhosos com a Carol! Amo todos!!!! Parabéns mais uma vez…
Olá Luciana,
Chorei com sua entrevista, super me identifiquei com você! Abandonei minha carreira no Brasil, era coordenadora em uma escola bilíngue no Rio até ano passado, quando decidi me mudar para os Estados Unidos com meu marido e minha filha. Não foi uma decisão fácil, recebi e ainda recebo muitas críticas por optar ficar em casa com minha filha até que ela atinja a idade escolar. Quando era adolescente amava escrever poesias e publiquei um livro para eternizá-las, sempre amei escrever, mas há anos não escrevo em português, sinto que enferrujei, mas sempre foi o que preencheu minha alma durante minha juventude e estou tentando resgatar isso; comecei a escrever para o BPM e tentando realizar um grande sonho, mas conciliar a vida materna integral e esse sonho está sendo difícil, entretanto, estou tentando buscar exatamente esse equilíbrio que você mencionou: “tentar não procrastinar, mas também não me cobrar tanto.” Ler essa entrevista hoje foi fundamental para que eu não desista e entender que não sou a única a passar por esses confitos internos. Muito obrigada por compartilhar sua história! Um grande abraço, Renata.