Preconceito, discriminação, xenofobia e estereótipos sobre a mulher brasileira (e o povo brasileiro) é um tema que já fez correr muita tinta no mundo virtual, mas que é sempre atual e infelizmente necessário. Sobretudo para aquelas já sentiram na pele atitudes discriminatórias e preconceituosas.
Porém, mais do que tratar sobre este tema, o que pretendemos é debater sobre a necessidade de autoafirmação e aceitação de quem somos, independente da nossa origem sociocultural e apesar das dificuldades que isto possa representar.
E porquê? Ora bem, pelo simples fato de que antes de sermos brasileira, somos mulheres, esposas, mães, filhas, irmãs, tias, amigas, profissionais, estudantes… e não podemos aceitar que o nosso autoconceito seja definido por apenas um dos elementos da nossa identidade.
Quando saí do Brasil não deixei de ser filha da minha mãe, irmã das minhas irmãs, ou amiga das minhas amigas, mas tornei-me na psicóloga brasileira, na amiga brasileira, na estudante brasileira, na emigrante brasileira, enfim, e com toda a representação estereotipada que algumas destas definições podem acrescentar a qualquer mulher
brasileira que esteja fora das terras de Vera Cruz.
Então somos vítimas se nossa definição vem acompanhada com um adjetivo pátrio que (dependendo da situação) poderá agregar um desvalor a nossa autoimagem? Não me parece totalmente. Acredito que antes, temos sim de estarmos conscientes de que isto é também o resultado de um longo processo histórico e social que contribuiu para a construção da imagem do Brasil (e dos brasileiros) tal como a conhecemos hoje. Ao meu ver, esta começa a apresentar algumas mudanças. Tênues, mas mudanças.
Sobretudo em terras de Camões.
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As mulheres dos países do Leste Europeu (Ucrânia, Rússia, etc.) enfrentam uma situação bem semelhante por aqui. Por outro lado, sabemos também que, por exemplo,
nos Estados Unidos, com as cubanas, mexicanas, etc. é igual. Portanto, não é exclusivamente conosco! Não estou a tentar justificar atitudes xenófobas, mas apenas explicá-las!
Porém, e acima de tudo, considero que o mais importante é sabermos quem somos, independente de onde estivermos. Ao longo da minha trajetória por aqui conheci pessoas que afirmavam ter aprendido a falar com o sotaque dos portugueses para que professores, colegas ou outros não percebessem que elas eram brasileiras. Compreendo que tal atitude poderá ter surgido como uma necessidade de tentar evitar a exposição a situações negativas, no entanto, não cria defesas ou ajuda a mudar concepções, apenas camufla o problema.
A aceitação de “Quem sou” e a consciência das minhas forças e fraquezas poderá ajudar na autodefesa e na estruturação de um Ego que, apesar dos revezes da vida, vulnerabiliza, mas não se entrega, antes se recupera, se adapta, se ajusta, se reconstrói, ou seja é resiliente. Contudo, para alcançar estes aspectos essenciais a um ajustamento psicológico otimizado é necessário que eu saiba “Quem sou” e não perca o meu foco, nem duvide das minhas capacidades, competências, forças e objetivos de vida.
Eu sei, é muito fácil nos esquecermos ou nos distanciarmos de quem éramos ao partir numa jornada rumo à emigração, sobretudo quando fora do Brasil nos espera uma realidade distante da sonhada, perspectivada e planejada por nós. E, por vezes, sermos ainda recepcionadas com um …., algo que declina a autoestima de qualquer mortal. Mas garanto, não é impossível.
Portanto, para ajudar no fortalecimento de um autoconceito e de uma autoestima ajustada das brasileiras pelo mundo, acredito ser necessário sempre ter em mente alguns aspectos fundamentais:
1. Não se esqueça da sua origem – por mais difícil que possa ser, ela faz parte da sua essência. Todas nós temos uma história de vida e personagens que compõem esta história, negá-los é negar parte de quem somos. De onde veio? Quais eram as pessoas que mais admirava na infância/adolescência? Quem foram os seus influenciadores sociais?
2. Lembre-se sempre das suas forças e fraquezas – autoconhecimento é tudo, sobretudo quando é necessário fortalecer os aspectos positivos do nosso Ego. Quais são suas competências? O que gosta de fazer?
3. Não perca o foco – ter claro quais são os nossos objetivos de vida e quais são as forças
necessárias para alcançá-los manter-nos no caminho, por mais que grandes pedras possam
aparecer. E sim, no caminho de uma brasileira expatriada aparecem muitas pedras.
4. Adapte-se – se necessário, ajuste o foco. Não dá para insistir em algo que não esteja a resultar e o reconhecimento disto poderá abrir novos caminhos e oportunidades.
5. Aprenda a deixar ir – todos temos um percurso de vida e assumimos diferentes papéis
profissionais ou sociais que vão sempre fazer parte da nossa história e de quem somos, mas que se ficarmos aprisionados a eles, não nos permitirão evoluir. Se já fui a gestora de uma grande multinacional, ótimo. Esta experiência sempre acrescentará valor, mas não posso esquecer que isto aconteceu num lugar e tempo muito específico. O momento agora é outro.
Lista de psicólogas brasileiras pelo mundo
Por fim, é imperioso reforçar que a mudança é uma condição necessária a qualquer ser humano, juntamente com a capacidade de adaptação e a resiliência frente às adversidades da vida. E, como bem afirma Viktor Frankl, “quem tem um «porquê», suporta qualquer «como»”.