Ao morar no exterior, lentamente, vamos incorporando hábitos do lugar que escolhemos para viver, no meu caso, a Áustria. Isso é inevitável! Nos tornamos uma espécie de pessoa sem identidade, que não pertence nem mais ao país de origem e nem ao país onde estamos.
Amigos do Brasil comentam como eu já virei um pouco austríaca. O tom é sempre divertido e questiono com frequência se isso é positivo. Afinal, mudar nossos comportamentos nem sempre significa melhorá-los, não é mesmo!?
Vou escrever alguns hábitos que já incorporei. Vamos lá?
1- Lenço de papel – Na Áustria, por ser um país frio, temos sempre um lenço de papel na bolsa e nos bolsos das jaquetas e casacos. Por causa do mau tempo, o nariz “chora” involuntariamente. No começo resisti muito à assoá-lo em público, mas depois se torna inevitável, pois a coriza que sai é permanente e fungar, além de ser nojento, faz mal à saúde. Confesso que ainda acho estranho aquele povo que assoa o nariz a mesa fazendo aquele mega barulho. Eca! Mas no final todo mundo entende e até a gente acaba fazendo esses mesmos sons estranhos.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na Áustria
2- Pontualidade – Aqui pontualidade não se discute. Um atraso de 5 minutos, sem aviso prévio, pode causar mau humor e em muita vezes é visto como desrespeito. E eu entendo! Esperar alguém, principalmente abaixo de zero graus, é muito ruim e desconfortável. Fora isso, um telefonema pode acalmar e resolver muita coisa. Agora chegar antes também não é elegante. Caso você chegue com antecedência, ligue perguntando se está ok chegar antes ou simplesmente espere dar a hora.
3- Silêncio no vagão – Nossa! No começo achei bem diferente o silêncio nos meios de transporte. Mas com o tempo acostumei e hoje evito, a todo custo, falar ao telefone ou conversar no metrô. A gente logo percebe a cara feia quando o tom é alto. O grande problema é quando junta duas ou três das minhas amigas brasileiras, ui, haja cara mal humorada perto da gente. E olha que as conversas são sempre no final da tarde, o que não afeta tanto porque as pessoas estão mais “normais”, agora de manhã cedo… nem pensar! Se for pra falar que seja baixinho.
4- Embrulho de presente – Não há muito o hábito de se embrulhar os presentes por aqui. Eles entregam o presente dentro de uma “sacolinha” de papel que serve como embrulho e são vendidas em papelarias. Ás vezes quando o tempo é apertado as sacolinhas te salvam. Agora vale observar também que lentamente estão alterando isso e, principalmente próximo ao Natal, algumas lojas já oferecem o serviço para embrulhar o presente.
5- Falar sobre o que comeu e bebeu – É bem esquisito, mas aqui as pessoas não comentam que foram em tal ou em tal restaurante. Elas descrevem exatamente o que comeram. Falam do vinho e dos detalhes dos ingredientes usados nos pratos. É quase um discurso “filosófico” gourmet rs . Lógico que não é todo austríaco que fala sobre isso, mas a maioria dos que eu convivo adora o tema. E eu fico aprendendo de tabela.
6- Agenda marcada – Como os compromissos são muitos e a vida é sempre corrida, as pessoas em Viena têm o hábito de marcar tudo com antecedência. Não existe esse negócio de aparecer de surpresa na sua casa pra te levar um presentinho ou um bolinho. E se o encontro já foi combinado não precisa se preocupar em confirmar. Não importa se for pra daqui a duas semanas ou dois meses, ninguém vai furar. Se houver algum imprevisto ou necessidade de cancelar, isso também ocorrerá previamente.
7- Presente ao visitar – Ao visitar um amigo pra jantar sempre se leva um presentinho para os donos da casa. Seja uma caixa de bombom, vinhos ou uma lembrancinha. Aí vai da sua criatividade. Ninguém te pede pra levar sobremesa ou coisas para serem consumidas no encontro. O vinho de presente não será aberto para ser tomado com as visitas. Geralmente se leva flores para a dona da casa, mas a única regra é: nunca chegue de mãos vazias.
8- As 3 palavrinhas mágicas – Por favor, com licença e obrigado são usadas para tudo. Mas quando falo tudo é tudo mesmo! Tipo trouxe água, abriu a porta, emprestou a caneta… qualquer coisa que alguém te faça, você agradece. É tão normal que quando alguém não fala fica faltando alguma coisa. Senti falta disso quando estive a última vez no Brasil. Lá usamos, mas aqui é muito, muito mais.
9- Sacolas e carrinhos de compras – Todo mundo leva na bolsa sacolinhas para as pequenas compras. Os supermercados vendem sacolas de papel ou plásticos. Não tem nada gratuito por aqui. E para transportar as compras se usa um carrinho específico. Antigamente era usado só pelas senhorinhas, mas tem se popularizado muito.
10- “Aluguel” de carrinhos – Para que as coisas fiquem organizadas e os carrinhos sejam colocados no lugar certo, você o “aluga”. Coloca uma moeda de 1 ou 2 euros, usa-o, e depois devolve e retira o seu dinheiro. O sistema é o mesmo em aeroportos, supermercados e algumas lojas. Acho super prático.
11- Fala-se sobre o tempo – Falar sobre o tempo não é falta de assunto. É um tópico importante, pois ele determina a programação a ser feita e faz parte do cotidiano.
12- Tirando os sapatos – Quando os encontros acontecem em casa, todo ou melhor quase todo visitante tira seus calçados e usa pantufas oferecidas pelo anfitrião. Os motivos: limpeza e conforto. Então, se você chegar na casa de alguém e tiver logo na entrada umas pantufas, observe que esta é uma forma simpática do dono informar que na casa dele, ele prefere que você tire os sapatos. Se os anfitriões estiverem de sapato, isso significa que ele te autoriza a ficar calçado.
Hábito se adquire e faz parte do processo de integração num país. Eu sempre procuro ver a parte boa de cada coisa daqui. E você o que já adquiriu de outra cultura? Conta pra gente!
Abraços e até o próximo post!
17 Comments
Adorei!!! Td verdade….. Parabéns pelo artigo 😉
Olá Leticia! Fico feliz por ter gostado do Artigo. Obrigada e beijocas Kely
Moro na Suíca há 3 anos e já morei em Hamburg-DE e por aqui é como aí na Áustria. Acho maravilhoso esses hábitos, mas de uma coisa eu sinto falta a falta de prioridade nas filas e nos transportes publicos para as pessoas idosas , deficientes e gestantes. Você concorda?
Helvia, adorei seu comentário. Eu no começo achei bem estranho o fato de não terem fila para maiores de 70 anos. Aqui teria que ser essa idade porque a expectativa de vida é bem alta chegando a média de 81 anos. As gestantes tem uma certa prioridade por aqui, mas nada tão oficial. Nos meios de transporte existem lugares para deficientes, idosos e gestantes. Certa vez perguntei porque não havia fila para idosos ou certas prioridades e a resposta, que agora entendo, foi: A população é muito velha, não tem como priorizar a maioria, vai do bom senso das pessoas. Mas no geral se respeita muito idosos, gestantes e deficientes por aqui. Beijoca
Eu me diverti lendo o seu post. . Me identifiquei com quase todos os tópicos mesmo sendo brasileira. Não assoo o nariz ruidosamente , mas sempre levo um lencinho comigo. Adoro um bom papo em qualquer lugar porque falo mais do que a minha boca , mas por outro lado, acho meio irritante ouvir gente falando muito alto no meu ouvido. AMO pontualidade. No Brasil não podemos falar sobre o tema claramente se não passamos por chatos. Vejo como uma inversão de valores da nossa cultura. Não desmarcar compromissos ou atrasar demais são atitudes realmente desrespeitosas se formos parar pra pensar , mesmo que não haja intenção. Quanto às palavrinhas mágicas , concordo em número , gênero e grau. Dói no ouvido um não seco sem um obrigado/obrigada depois. Sobre a questão do presente , acho um ótimo costume, muito educado. Mais do que isso: é um gesto de retribuição. Analisando alguns costumes em conjunto, podemos perceber de que existe um sentimento de consideração pelo outro. Alguém me oferece um jantar. Então, eu levo um presente para mostrar a gratidão. Eu digo por favor e obrigado porque entendo que o outro não tem obrigação de me servir. Se está me ajudando, é por delicadeza. Horários são respeitados porque as pessoas entendem que os outros não estão à nossa disposição e tem outras coisas para fazer. Nossa! Me empolguei! RSRS
OI Silvia, hahahah que delicia de comentário é bom a gente sempre receber esse retorno.
Acho que você, assim como eu, temiam alma européia hahahah brincadeira.
Obrigada pelo recado
Beijos
Kely
Adorei seu post! Concordo em tudo!
Juliana, obrigada pelo carinho. Beijos
Adorei o post!!! É super verdade, moro no Tirol e tb incorporei todos esse hábitos que você citou.
Beijos da outra colaboradora da Áustria pro BPM. 😉
Oi Mariana,
que bom que incorporamos as coisas boas né:-)
Adorei receber seu recadinho.
Beijinho
Kely
Olá, Kely!
Muito bons seus post!
Comecei a ler o blog recentemente e estou amando.
É muito bom saber sobre outros países por meio de brasileiras!
Tinha muita curiosidade sobre a Áustria e vc sem duvida está me ajudando a saná-las. Para mim, parecia uma realidade distante, agora ja está tomando alguma forma rsrs
Quanto a esse texto especificamente, é impressionante como pra nós brasileiros pontualidade e compromisso é visto como” cultura”, ne? Poxa, que coisa mais chata marcar alguma coisa e ter que ficar “confirmando” se as pessoas vão ter a bondade de comparecer! 🙁
Obrigada por partilhar conosco suas experiências!
Olá Leila,
é verdade sempre fui pontual no Brasil. Mas aqui questões de minutos é visto muito a sério.
Obrigada por compartilhar e comentar.
Um beijo
Kely
Olá Kely,
Achei o máximo este Post. Eu sou Portuguesa e também vivo em Viena e confirmo tudo isto e acho fantástico. É tão bom viver com regras. Eu adoro!
Um beijinho e tudo de bom.
oi Kely, tudo bem?
Achei muito bacana a sua materia.
Estou em conversa com um austriaco e eu estava aqui procurando algo sobre sua terra natal.
Ele vive em Viena.
Sera que eu podia falar com vc via email?
Grata
claudia
eu quero um relacionamento com um homem austríaco… cristão
Olá, post bem interessante!
Minha mãe diz que meu bizavó era austríaco, mas não consigo achar nada sobre nosso sobrenome ou relação, gostaria de descobrir algo. O sobrenome é Revnei.
Olá Otávio,
A Kely Martins parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Áustria que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM