O BPM entrevistou a Emiko, psicóloga, de Brasília, que mora em Kumamoto há 15 anos e no Japão há 24. Ela nos conta sobre o último terremoto que afetou a cidade nestes últimos dias.
BPM – Como e quando tudo começou?
Emiko – Na noite de quinta-feira por volta das 21h25min. Estávamos, meu marido e eu, sentados no sofá, quando de repente o prédio todo começou a tremer. Eu tentei me levantar e não consegui tamanha a força do tremor. Eu moro no décimo primeiro andar de um prédio de 14 andares. Fiquei apavorada. Vimos depois pela tv, que o tremor tinha sido de 6,7 na Escala Richter.
BPM – O que você fez logo depois que o tremor parou?
Emiko – Meu marido é médico cirurgião da Cruz Vermelha japonesa e trabalha no hospital da cidade. Fomos diretamente para lá ajudar. Em meia hora, tempo que nos demorou para chegarmos ao hospital, já estava sendo feita uma triagem com as vítimas e a emergência recebendo várias ambulâncias. Ficamos lá até as 4h da manhã. Durante a noite fui comprar barras de cereal e água para os feridos, em uma loja local, quando aconteceu mais um tremor. As caixas e garrafas começaram a cair das prateleiras, foi surreal.
BPM – E teve outro tremor forte?
Emiko – Ontem a noite tivemos mais um fortíssimo, 7,3 na Escala Richter. Eu estava sozinha porque meu marido tinha ido para Osaka a trabalho. Acordei à 1h30 da manhã com a minha cama balançando de uma maneira que parecia que estava em uma rede. Liguei para meu marido, que tem bastante experiência com desastres naturais, ele trabalhou na Indonésia no tsunami alguns anos atrás, na Índia, no Nepal, enfim, ele me mandou abrir todas as portas em caso o prédio entortasse e as portas ficassem emperradas. Me mandou falar para os vizinhos fazerem o mesmo. E que nós ficássemos no corredor, devido as paredes terem mais estruturas centrais para nos proteger. Nós temos um kit terremoto, como todos os japoneses, para casos de emergência como esse. Peguei meu capacete, lanterna, porque a luz foi cortada devido ao tremor, e fui andar pelo apartamento para ver se tinha algo quebrado. Quando cheguei na cozinha, a geladeira tinha aberto com o tremor e tinha de tudo no chão, suco, iogurte, geleia, pratos e copos quebrados, que tinham caído das prateleiras. Fui limpar tudo, porque claro, não consegui voltar a dormir, com medo. O que me passava pela cabeça é que iria morrer. Que o prédio não iria aguentar e iria desmoronar.
Leia sobre: Dá para morar no Japão sem saber japonês?
O meu prédio, como a maioria é construído com terremotos em mente, portanto a construção é feita com bases móveis. A estrutura balança, mas não desmorona tão facilmente.
BPM – Como está a cidade agora?
Emiko – A cidade está tentando se reorganizar. Várias pessoas foram para abrigos porque ficaram sem luz é água. O prefeito da cidade está recomendando que as pessoas deixem as suas casas e façam o mesmo. Eu ainda estou em casa porque tenho água e luz, mas esperando para ver se os tremores acabaram. O número de feridos já passa dos mil e há pelo menos uma dezena de fatalidades.
Há um canal de tv mostrando 24/7 notícias sobre o terremoto, portanto estamos atualizados a todo momento. Eles avisam que supermercados ainda estão abertos, onde os abrigos estão sendo montados, se está tendo mais tremores, etc..
BPM – Foi a primeira vez que a região foi afetada em um escala tão alta. Há algo grande destruído?
Emiko – Infelizmente sim. Houve muitos desmoronamentos, e com isso várias pontes estão quebradas. rachaduras no chão pela cidade, casas derrubadas e inclusive o Castelo de Kamumoto datado de 1607, teve várias paredes destruídas. Porém, como disseram os sismólogos, poderia ter sido ainda pior. O epicentro foi em Mashiki-Machi, aqui perto, e não no mar, se tivesse sido poderíamos ter tido um tsunami. E foi a primeira vez na história do Japão, desde que os tremores foram registrados, que houve um terremoto com epicentro em terra.
Leia também: como é trabalhar numa fábrica japonesa
BPM – Há muitos brasileiros na cidade?
Emiko – Não. A última notícia que tivemos do consulado é que havia apenas 40 pessoas. A região é agrícola e não tem muitas fábricas, onde a maioria dos brasileiros trabalham, por isso não é uma área com muitas oportunidade de trabalho.
BPM – E sobre o vulcão Monte Aso, que é ativo? Alguma erupção desde o terremoto?
Emiko – O Monte Aso é ativo sim, mas era possível chegar bem perto até 2 anos atrás. Ele tem um lago de cor linda. Porém devido aos movimentos, a área foi fechada para visitação. E nestes dias desde que os tremores começaram não se sabe ainda o que poderá acontecer.
Estamos aguardando as últimas notícias!
Fotos: Emiko Miyata