Trabalhar na Dinamarca: 5 diferenças em comparação com o Brasil.
Moro na Dinamarca há 3 anos com meu marido e com nosso filho que nasceu há 3 meses. Viemos parar aqui através do mestrado no Brasil: fizemos um intercâmbio de 6 meses em Copenhague e nesse período enviei o meu currículo para algumas empresas.
Acabei conseguindo um emprego numa grande empresa de brinquedos dinamarquesa em que eu começaria no mesmo dia da nossa passagem de volta ao Brasil. Conclusão: deixamos a passagem para lá e resolvemos ficar por aqui. Esse é o primeiro texto que escrevo para o BPM e vou falar um pouco sobre como é trabalhar na Dinamarca.
Morar em outro país é um grande aprendizado que traz enormes desafios no dia a dia, e o mesmo é verdade quando se trata do ambiente de trabalho. Há muitas diferenças entre o Brasil e a Dinamarca nesse contexto, e vou listar aqui as cinco que considero mais relevantes.
1- Relação com o tempo
Sabe aquela história de pontualidade britânica? Temos que mudar o nome para pontualidade dinamarquesa. Nessa terra eles são muito sérios e rígidos em relação a horário. É comum durante uma reunião tirarmos uma pausa de sete minutos, e o mais incrível, todos respeitam o horário e em sete minutos estão de volta para continuar a reunião!
Além disso, chegar atrasado para um compromisso profissional ou pessoal é super mal visto. No início eu achava exagerado – confesso que ainda acho um pouco –, mas com o tempo fui entendendo que fazer uma pessoa esperar é desrespeitar o tempo dela. Para nós, brasileiros, que somos mais flexíveis em relação ao tempo, pode ser difícil se adaptar, mas com o tempo percebi que isso me permite planejar melhor os meus dias.
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2- Planejamento, planejamento, planejamento
Se tem uma coisa que dinamarquês faz é planejar. Se puder faça um teste e tente marcar de sair com um dinamarquês; provavelmente ele já vai ter os próximos cinco finais de semana fechados e só vai conseguir te encontrar daqui a mais de um mês. No trabalho é a mesma coisa: a agenda de todos é lotada, às vezes com hora até para ir ao banheiro. Parece exagero e não é a regra, mas juro que já vi isso!
Confesso que não me acostumei com o que considero um excesso de planejamento, pois não dá flexibilidade para imprevistos que sempre surgem no dia a dia, e daí todo aquele tempo gasto com planejamento vai por água abaixo. Mas por outro lado, eu
aprendi a organizar melhor os meus dias, e isso é um baita aprendizado! Acredito que saber planejar bem e ter a flexibilidade para lidar com “pepinos” – somos muito bons nisso no Brasil – me faz uma profissional melhor.
3- Busca pelo consenso
A Dinamarca é um país com pouquíssima desigualdade social, e isso também se reflete no
ambiente de trabalho que tende a ser menos hierarquizado que no Brasil. Por um lado é bom, pois há uma cultura de que todos devem ser ouvidos. A contrapartida é que há uma
cultura em que todos têm que concordar com as decisões sendo tomadas, o que às vezes torna tudo muito demorado. No Brasil é mais claro quem é responsável por tomar a decisão final, e agradar a todos não é um requisito – claro, isso tem seus prós e contras também.
4- Equilíbrio entre vida pessoal e profissional
Nesse quesito os dinamarqueses dão show! A jornada de trabalho por aqui é das 8 às 16 horas e, de fato, na minha empresa se fico até um pouco mais tarde parece que estou num prédio abandonado; todo mundo vai embora para casa na hora! Os dinamarqueses entendem que as pessoas têm outros compromissos além do trabalho: fazer exercício, cuidar da família, etc. Por aqui chega a ser mal visto se dedicar tanto ao trabalho sem cuidar da vida pessoal.
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5- Ambiente mais formal
Eu sinto o ambiente de trabalho da Dinamarca bastante formal, ainda mais quando comparado com o Brasil. Por aqui os colegas de trabalho, em geral, limitam a interação ao ambiente de trabalho: nada de tomar um chope depois do expediente ou marcar um churrasco no final de semana.
Uma vez a minha área marcou um boliche depois do trabalho e às 16 horas fomos todos
juntos para o boliche, jogamos uma partida e todos foram imediatamente para casa depois!
Nada de sentar um pouco para bater papo, descontrair, tomar uma cerveja. O combinado era jogar boliche, nada mais!
Os assuntos que se discute com colegas de trabalho também são bastante limitados. Nada de política, assuntos mais pessoais, temas polêmicos. A exceção é política norte-americana, está liberado falar mal do Trump! As pessoas são, em geral, muito simpáticas, mas raramente estão dispostas a interagir em um âmbito mais pessoal.
Essas cinco diferenças foram as que me causaram maior choque cultural quando comecei a
trabalhar na Dinamarca. Eu poderia escrever um texto enorme sobre cada uma delas, então se quiserem que eu me aprofunde em qualquer uma é só pedir nos comentários que faço um texto dedicado. Vale ressaltar que essa é a minha experiência pessoal em uma empresa específica da Dinamarca, então outras pessoas podem ter experiências diferentes da minha.
Espero que tenham gostado do meu primeiro texto para o BPM. Eu adorei escrevê-lo, e
espero compartilhar um pouco mais da minha experiência por aqui com vocês.
4 Comments
Laura, seja bem-vinda! Amei o seu texto! Que loucura hein?! Rsrsrspor favor, eu gostaria que você destrinchasse mais sobre esse assunto. Sucesso para você nas terras nórdicas! Bjs
Oi Priscila, obrigada! Sim, é uma loucura. E quando você acha que entende como funciona as coisas por aqui sempre tem algo novo pra te surpreender 🙂
Vou entrar um pouco mais a fundo nesse tema nos próximos textos sim!
Muito legal o texto, Laura! A questão da distância eu tbm sinto aqui não Austrália! Assim como aí, todo mundo é muito educado, porém costumam manter uma distância mesmo… ou talvez, nós brasileiros é que sejamos muito abertos, não sei… rs.
Boa tarde Laura.Após ler seu manuscrito,fiquei curiosa pra saber sua opinião geral sobre morar na Dinamarca.Enfim,você voltaria para o Brasil,ou mesmo com tantas diferenças culturais você continuaria aí?Pergunto porque estou pesquisando lugares para morar fora do País,e sempre fui interessada na Dinamarca,então estou buscando todas pessoas que postam experiências boas ou ruins para comparar.