Este mês completo um ano fora do Brasil, em Cingapura. Um ano de muita insegurança, de alguns dias tristes, de muita saudade, mas também um ano de muita coisa nova: descobertas e experiências que ficarão para sempre na minha vida e que, com certeza, só contribuirão para uma versão melhor de mim mesma.
A Ásia era um continente totalmente distante para mim, não só geograficamente falando, mas culturalmente também, e logo que cheguei já senti o choque cultural, além de todo o impacto da mudança por si só.
Cingapura é conhecida como um lugar na Ásia para iniciantes, podemos sentir um ar ocidental ainda que estejamos no Oriente. Entretanto, a maior parte da população é chinesa (aproximadamente 76%), e com isso conseguimos vivenciar e notar algumas características peculiares a este grupo étnico, bem como uma influência do sudeste asiático em geral.
A culinária, por exemplo, foi a primeira coisa que senti dificuldade. Aqui são muito famosos os food courts, que são grandes praças de alimentação espalhadas por toda a cidade. O governo investiu fortemente neste quesito, incentivando a população a ter o hábito de fazer as refeições nestes lugares, proporcionando qualidade através de fiscalizações rígidas e um preço acessível (os pratos variam de 3 a 10 dólares).
Tudo isso seria perfeito, caso eu gostasse da comida asiática, pois os restaurantes são basicamente chineses, malaios, vietnamitas, tailandeses e coreanos. Eu até encaro um ramen, de vez em quando, mas meu paladar não aceitou muito bem esta culinária para todos os dias. Entretanto, para a minha sorte, como o país tem muitos estrangeiros, os supermercados possuem toda a variedade de alimentos.
Um fato curioso ainda sobre o tema alimentação: talheres e guardanapos são itens de luxo, que você irá encontrar apenas em restaurantes ocidentais ou mais requintados, por isso é preciso aprender a comer arroz e sopinha com os palitinhos (hashi) e com as colheres chinesas.
Uma experiência única pode ser ir a uma destas praças de alimentação e saborear, por um valor inferior a 15 dólares, um prato típico que foi premiado recentemente com uma estrela Michellin. Link da reportagem com mais detalhes aqui.
Um outro choque foi o valor da bebida alcoólica. Um chope ou uma taça de vinho pode chegar a 15 dólares, e mesmo em supermercados o valor é bem alto quando comparamos ao Brasil: aproximadamente 2,5 dólares a lata de uma cerveja local.
Cingapura está situada um pouco acima da linha do Equador, logo podem ter uma ideia do clima, certo? Verão o ano todo, com temperaturas entre 28 e 35 graus e muita umidade. Como no Brasil morava em São Paulo, este foi outro ponto de adaptação. A sensação de calor exagerado é constante e a umidade alta só agrava a situação.
Considerando o clima de verão durante todo o ano, quase todos os condomínios possuem uma área de lazer muito agradável com piscinas e mais piscinas. Mas raramente encontrei um cingapuriano lá, e quando encontrei, estavam todos cobertos com camisas de mangas longas, viseiras enormes e muito protetor solar. Os chineses em geral, têm como característica física a pele bem clara e fazem questão de mantê-la desta forma. Isso deve-se ao fato de que ter a pele bronzeada é uma característica de pessoas que trabalham expostas ao sol, geralmente na construção civil ou em outros trabalhos que não são considerados “nobres”. A pele branca traduz um certo “status social”, é um padrão de beleza. Isso se reflete na indústria cosmética, que oferta muitos produtos branqueadores para o corpo e o rosto.
Fiz um curso de imersão cultural, e uma das coisas que aprendi foi que os sonhos do cidadão local são os 5 C: condo, credit card, cash, car e club. Traduzindo: apartamento em condomínio – demonstra um status social importante já que a maioria vive em apartamentos financiados pelo governo; cartão de crédito; dinheiro na conta corrente; ter um carro – já que o governo limita a quantidade de licenças concedidas para se obter um carro e custa em média 70 mil dólares para uso durante o período de 10 anos; e por fim, participar de algum clube – também sinônimo de status social. Eles buscam incessantemente esse “status” na sociedade e isso alimenta o consumo exagerado na cidade.
Quem já passou pelas famosas ruas Quinta avenida e Champs Elysées, em Nova Iorque e Paris, conhecidas pela sequência de lojas de grife, certamente ficou embasbacado com todo aquele luxo e ostentação. Entretanto, quando cheguei em Cingapura e caminhei pela Orchard e seus vários shoppings de 5 andares, meu queixo caiu. Existem muitas lojas de luxo espalhadas pela cidade e as lojas estão sempre cheias de locais e turistas comprando seus itens de grife, o que demonstra tanto a riqueza do local mas também a necessidade de ter estes itens para mostrarem o status social.
E se eu precisar elencar as duas melhores coisas de morar em Cingapura, eu diria sem pestanejar: qualidade do transporte público e segurança. Por ser uma ilha, o governo limitou a quantidade de carros circulando pelo país para evitar que o trânsito virasse um caos. Em paralelo, construiu uma rede de metrô que cobre toda a cidade e várias linhas de ônibus. Com relação a segurança recentemente o país foi classificado como o quinto mais seguro do mundo e com certeza a sensação de segurança é de quase 100%.
Vejo muitas perguntas no facebook sobre vir para Cingapura para “tentar a vida”, e todas as respostas são categóricas: não! O custo de vida é alto, o mercado de trabalho é bem fechado e além disso o visto de trabalho mais comum só é concedido se vinculado à uma empresa. No meu caso, meu marido possui este visto de trabalho e eu possuo o visto de dependente. E essa é a parte mais difícil da adaptação, lidar com essa “dependência”. Com um mercado de trabalho bem fechado, a maioria das esposas têm dificuldade de encontrar uma oportunidade. Mudar de país já não é uma tarefa simples e o fato de mudar completamente de estilo de vida é o meu maior desafio aqui.
Neste primeiro ano, decidi focar nos estudos: sempre gostei de entender a cultura local dos países que visitei, assim, decidi que queria levar comigo alguma coisa da Ásia e a minha escolha foi aprender o mandarim. Estou há 6 meses estudando e posso dizer que além de reconhecer algumas palavrinhas soltas na rua, consigo falar algumas coisas, mas é muito difícil! O curso é muito rico culturalmente e ainda traz a possibilidade de conhecer novas culturas pois minha professora é chinesa, um dos meus colegas é paquistanês e a outra é filipina. Afinal, conhecimento e cultura nunca é demais!
2 Comments
Oi, Ana Paula, tudo bem? Me mudei pra Singapura há um mês e está sendo bem difícil a adaptação… lendo o seu posto me identifiquei com muitas coisas.. haha vou deixar meu email caso queria entrar em contato! Vai ser bom conhecer uma brasileira em Singa! Beijos!
Oi Ana
Que bacana vc postar sua experiência!
Fiquei em dúvida com relação a seu visto: como dependente, vc tem permissão para trabalhar certo? A dificuldade é conseguir o emprego? Ouvi que impais tem muitas oportunidades em Marketing, que pelo que vi, é sua área. Isto não procede?