Quem não gosta de assistir a competições? Pode ser o seu esporte preferido, ou um programa de perguntas, ou um desses shows de talentos que estão na moda agora. Uma gincana de escola ou o seu time numa final, você se emociona e fica alegre com a vitória. Eu sempre fico…
Tudo bem, há quem não goste nem de ver televisão, mas devo confessar que, desde que descobri o “Grand-Prix Eurovision de la Chanson Européenne”, hoje chamado de “Eurovision Song Contest”, não perco nenhum e torço durante as apresentações dos meus países preferidos – e isso já há mais de 20 anos! Mesmo se estivermos viajando, dá para assistir na internet a transmissão ao vivo.
Na Alemanha, onde eu morava antes de vir parar na Islândia, o “Grand Prix” é bastante popular, apesar de eles só terem ganhado o concurso duas vezes nos seus 50 anos de existência, e só tenham produzido um ou outro “hit”. A Suécia (minha favorita, sempre!) é, de longe, bem melhor nisso.
O que é o Eurovision Song Contest (ESC)?
É um concurso criado em 1956 pela “União Europeia de Radiodifusão” (sigla inglesa EBU), composta pelas emissoras de TV e rádio públicas, com o intuito de promover a paz e a integração na Europa após a Segunda Guerra Mundial. Sua primeira versão teve somente 7 participantes. Depois, mais países foram aderindo ao concurso, e a Iugoslávia foi a única nação socialista a participar, regularmente, de 1961 até a abertura da Cortina de Ferro. Finalmente, com a dissolução da União Soviética e do bloco socialista da Europa Oriental, o Eurovision passou a ter muito mais interessados e, depois de várias reformas no regulamento, o número de finalistas foi fixado em 26. Até hoje, praticamente todos os países europeus já participaram alguma vez do concurso, com exceção do Vaticano e Lichtenstein. Israel também se faz presente há anos, assim como a Turquia – que não tem aparecido nos últimos 3 anos, por discordar com a regra dos “5 grandes”, que dispensa a Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Espanha da semi-final com 37 países. Desde o ano passado, a Austrália é convidada especial do ESC por ocasião das comemorações do “jubileu” de 50 anos.
As canções são cantadas ao vivo e todo ano o show de efeitos especiais é maior. Elas são submetidas a um júri em cada país membro da EBU e também ao voto popular por telefone. No final, cada um desses países divulga os seus resultados e o campeão é revelado. No ano seguinte, o país vencedor sedia a competição, geralmente no segundo sábado de maio. A Irlanda, a Suécia e o Reino Unido têm, respectivamente, o maior número de vitórias nesses 50 anos. Do Eurovision, já saíram grandes sucessos mundiais, como a música italiana “Volare” (“Nel blu dipinto di blu”, 1958). Não conhece? Ficou famosa através do grupo espanhol Gipsy Kings. A sueca “Waterloo” (1974), do grupo ABBA, ou a alemã “Dschinghis Khan” (1979), que teve até versão brasileira!
A Islândia no Eurovision
Há duas ocasiões em que as vitrines se enchem de bandeirinhas islandesas e suas cores por aqui: no feriado nacional de 17 de junho e na semana que antecede o Eurovision. Este ano, então, com aniversário redondo… Em 2016, a Islândia completou 30 anos de participação no concurso e estava tudo pronto para a festa ser maior ainda!
Como nos outros países nórdicos, o Eurovision aqui é um acontecimento importantíssimo, uma febre; são meses de preparação, programas de TV no horário mais nobre dos sábados para a seleção da canção a ser enviada, e “mesas redondas” com especialistas para a análise das concorrentes.
As crianças ficam ansiosíssimas, vibram, decoram a música rapidamente e começam a contagem regressiva para o dia da semi-final. Até lá, essa música toca sem parar em todas as emissoras de rádio e nos intervalos comerciais da TV pública daqui. Até eu, enquanto tentava me concentrar para escrever este texto, estava com o refrão ecoando o tempo todo no ouvido, já sei de cor…
Mas este ano, a Islândia não chegou à grande final, só foi para a “semi”, com Greta Salóme e “Hear them calling”:
Mesmo que esteja fora da competição no grande dia, as ruas da Islândia ficam desertas à noite, porque todo mundo está em casa, fazendo festa e apostas na frente da televisão. Parece até copa do mundo no Brasil: tudo para e não ser finalista é quase comparável àqueles 7×1 que levamos – bem, talvez um pouco menos trágico…
Há boatos de que a Islândia é desclassificada propositalmente e nunca ganhou um concurso porque não conseguiria bancar a festa, nem teria infra estrutura para realizá-la. Não sei o quanto de verdade há aí, fato é que a Islândia já ficou duas vezes em segundo lugar e perdeu por poucos pontos o troféu; em 1999, com “All out of luck”, interpretada por Selma Björnsdóttir e, em 2009, com “Is it true?” cantada por Jóhanna Guðrún.
Embora nem tenha ficado tão bem colocada (20°. lugar de 25), na minha opinião, a melhor representação islandesa foi por Páll Óskar (internacionalmente conhecido como Paul Oscar), em 1997. Vejam o vídeo aqui e entendam por quê. Ele é um dos meus ídolos daqui, adoro!!
Aliás, com exceção das duas cantoras que mencionei, as músicas escolhidas não têm sido nada originais, bem chatas, para o meu gosto, e para isso há também uma explicação do povo (a voz do povo é a voz de Deus): se, para alguns, cantar no Eurovision é considerado uma honra; para outros, deixa o artista marcado para sempre e ele nunca mais será “cult” ou “descolado”, e isso, óbvio, ninguém quer. Aqui todo mundo é musical, toda garagem ou porão tem uma banda de adolescentes no melhor estilo “Lola Palooza”, então para que cantar no Eurovision se você pode virar a próxima Björk, Sigur Rós ou Of Monsters and Men?
Bregas ou caretas, vibramos sempre aqui em casa. Se a Islândia não está lá, a tradição manda votar nos vizinhos escandinavos – regra que vale para todos os países, diga-se de passagem – ou nos mais simpáticos. Este ano, as crianças gostaram da Austrália, e eu votei na Ucrânia, que, por acaso, ganhou! Vejam os vídeos e decidam quem merecia…
7 Comments
Mais um belo texto. Agora uma dúvida, eles não irão colorir as casas com as bandeiras islandesas na Uega Euro que ocorrerá em alguns dias? Afinal será a primeira competição internacional que a Islândia irá participar. Beijos.
Que legal Érika! Eu também passei a acompanhar o Eurovision há poucos anos e simplesmente viciei. Eu gosto muito das canções, são muito fáceis de serem memorizadas e ótimas para quem está aprendendo inglês. Para quem aprecia boa música, esse festival é incrível! Meu sonho é ver o festival sendo transmitido no Brasil, mas acho que isso não vai acontecer tão cedo por conta da falta de interesse da mídia e do festival não ter uma boa recepção do público brasileiro (só estou chateado com o canal oficial do Eurovision ter bloqueado os vídeos das apresentações no Brasil e não ter disponibilizado a transmissão ao vivo pelo YouTube – mas fiquei sabendo que foi bloqueado também nos EUA, Alemanha e Suíça). Foi ótimo alguém do BPM falar do festival, e para quem não conhece, vale a pena conhecer!
Oi, Elias,
que bom, fico super feliz que você gostou do post! Eu adoro o Eurovision, mas não entendo porque foi bloqueado para o Brasil este ano, em 2014 eu estava aí e assisti no Live Stream do site da TV alemã ARD. Tente no ano que vem, vi sem problemas.
E este ano foi transmitido na TV para os Estados Unidos, há um boato de que talvez os EUA sejam os convidados especiais do ano que vem, quem sabe?
Obrigada por acompanhar o BPM! Abraço
Oi Erika! Só esclarecendo, esse bloqueio foi apenas pelo YouTube, e foi só na edição de 2016. Os vídeos das edições passadas ainda estão disponíveis por aqui (ainda bem!). Agora em outros lugares (como no canal da emissora francesa no Dailymotion) é possível assistir as apresentações de 2016 daqui do Brasil. No ano passado mesmo eu assisti o evento ao vivo pelo YouTube, mas nesse ano tive que assistir o streaming em outros sites porque houve esse bloqueio.
Ah, agora entendo, pensei que tinham bloqueado geral. Menos mal, então.
Ficamos na expectativa de 2017, a Rússia já disse que não participará em protesto político, vai ser interessante…
Abraço para você.
Mais um excelente texto. Parabéns! Achei só um absurdo esse suposto boicote à Islândia.
Uma dúvida: como está a empolgação do povo islandês pra disputa da primeira Eurocopa?
Obrigada, querido Mateus!
Olha, essa coisa do boicote é boato, não sei se realmente é assim…
Agora, quanto à Eurocopa, aqui está uma animação louca, compramos até camiseta para torcer! Os bares e restaurantes todos comprando telão, parece até o Brasil. Só pintar a rua que não vai rolar, porque isso é bem brazuca, mesmo.
Abração!