A mudança de país pelos jovens: da independência à solidão.
“Você não pode reclamar porque está em Paris”. Quantas vezes eu já não ouvi essa frase. Nós temos uma tendência no Brasil de associar a mudança para outro país e especialmente para cidades de grande popularidade com um sonho utópico. Seria essa a vida perfeita ainda mais diante dos nossos quase 20 anos.
O que muitos não entendem, entretanto, é que a vida continua. As responsabilidades, aliás, só se acumulam em um momento em que somos tão “novos”, como gostam de dizer para mim. Este texto, porém, visa outro assunto: a contraposição entre a independência e a solidão que a mudança nos proporciona.
Como meus amigos gostam de dizer, eu amadureci. Eu sempre fui um pouco mais velha em mentalidade, mas hoje posso dizer que a minha preocupação é um pouco avançada para quem tem seus recém 20 anos. Eu me preocupo com contas, mercado, casa arrumada, roupa lavada, conta em banco e, tudo isso, além dos meus estudos. Acho que se assemelha muito às pessoas que mudam para o interior ou para as capitais com a diferença de cerca de 10 horas de voo e muitos mil quilômetros.
Isso é a independência. É a preocupação constante com todos os deveres de um adulto aliada à liberdade proporcionada. Eu posso fazer, comer e viver como eu quiser. Eu dito meu modo de vida e isso é ótimo. Várias mudanças no meu estilo de vida se associaram a isso.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na França
Entretanto, não podemos contar somente com vantagens da mudança. Além das saudades e todas essas questões que não pretendo abordar, aqui, você deve se preparar para a solidão. E digo isso com uma preocupação genuína pelas pessoas que se frustram diante de uma vida fora do país.
Os europeus vivem uma vida mais individualista. Se você considerar morar em uma grande cidade e em um curso competitivo sem conhecer ninguém de antemão as suas chances de construir uma vida semelhante à anterior não são tão grandes. Devemos sempre pesar os prós e contras das nossas decisões; e, no meu caso, pesei a escolha entre independência e excelência acadêmica em troca de uma vida social mais limitada.
A questão aqui não é nunca desencorajar alguém a se mudar, é apenas alertar que isso pode acontecer. Podemos nos encaixar em uma situação em que não faremos quase nenhuma amizade. Você deve estar preparado para ambos os cenários. Espera-se sempre o melhor e até hoje eu continuo procurando socializar com algumas pessoas do meu curso. Minhas amizades, porém, são escassas.
O ideal, então, é preparar-se para uma tal possibilidade sabendo que essa solidão não é permanente. Nunca é. A quantidade de pessoas que eu já vi voltarem para o Brasil porque não conseguiram tudo que sonharam é muito grande. A mudança para o exterior nunca é a solução para todos os nossos problemas. Ela pode ajudar muito na parte acadêmica e financeira, mas a parte social dificilmente será semelhante à do Brasil.
Assim, devemos tentar nos inserir dentro da nova cultura na qual embarcamos e respeitá-la, sem perder a nossa essência. Parece um desafio? Com certeza, mas ninguém disse que a mudança para o outro lado do mundo seria fácil. O conselho que posso dar sempre é: em um momento de solidão, procure brasileiros em seu novo lar. Eles podem já ter passado por isso e conseguem ajudar, nem que seja reduzindo algumas de nossas saudades.