O ano de 2017 chegou, 2 meses já se passaram e o mundo continua dando suas voltas em meio a polêmicas, controvérsias e muito ceticismo. Mais recentemente, Trump vem chocando as comunidades americana e internacional com medidas extremas, sobretudo quando o assunto é imigração.
A pauta dos imigrantes nas agendas políticas não é nova. Muito pelo contrário, há séculos que esse fenômeno ocorre e, graças a ele, culturas, valores e crenças se misturam. No entanto, para além dessa visão de abertura à diversidade sócio-cultural, existe uma necessidade econômica inerente muito importante.
Questões políticas à parte, eu gostaria de falar da contribuição subjetiva do imigrante, à partir do momento em que a gente se instala no novo pais. No meu período de espera pela residência permanente, resolvi enviar uma proposição de conferência para o TEDx Québec.
Escrevi um artigo no LinkedIn sobre como foi o processo de seleção e a realização do evento. Para esses detalhes, você pode acessar este link. Aqui no BPM eu quero compartilhar os principais pontos da minha apresentação, já que o video oficial no canal TEDx Talks do You Tube não oferece legendas em português.
Minha contribuição em outro mundo
A vida é feita de encontros e de despedidas. Tudo começa pela decisão de ficar ou partir… eis a questão. Há pouco mais de um ano e meio, tomei duas decisões importantes na minha vida: me casei com um québécois e me mudei para Québec. Logo, no momento em que encontrei o amor, dei adeus ao meu país de origem.
Nos últimos meses, mudei meu status de estrangeira à residente permanente no Canadá e descobri que a imigração revela nossa condição de seres humanos. Experimentamos todos os tipos de emoção e é preciso ser corajosa para enfrentar todas as nuances imprevisíveis dessa aventura.
Olhando para trás, concluí que meu processo de imigração foi, na verdade, uma oportunidade de autoconhecimento com um impacto inegável no meu entorno. Identifiquei 3 fases pelas quais passei e convido você a me acompanhar nessa viagem pessoal.
Fase 1 – O desapego
Acreditem: É possível viver com menos! Costumo ouvir historias incríveis de imigrantes que dizem: cheguei nesse país com uma mala, 10 dólares e muitos sonhos. Bem… cheguei com 7 malas e um cachorro… sabe como é, sou mulher, preciso de opções.
Brincadeiras à parte, deixei muito mais do que bens materiais no Brasil. É fato que sinto falta da minha família e de meus amigos, mas quando a gente rompe com um status quo, certas crenças, principalmente as limitantes, precisam ficar para trás. Exemplos:
Sucesso leva tempo. Eu não nasci pra isso. Os outros são melhores do que eu. Já cheguei no meu limite. Nada é fácil. Não posso confiar em ninguém.
Tenho certeza que alguns desses pensamentos já atravessaram sua mente. A questão é: vocês acreditaram? Um sentimento que anda junto com o desapego é o medo. E quando a gente entra em algo novo, é normal. Mas a melhor forma de lidar com tudo isso é viver um dia de cada vez e, principalmente, acreditar que o que a gente realmente precisa, de alguma forma já está a nossa disposição.
Fase 2 – O desconforto
Quem imigra para Québec sabe que aqui não há zona de conforto: nem térmico, nem psicológico. Escolhi a representatividade das quatro estações porque a natureza nos dá excelentes exemplos de resistência, transformação e sabedoria.
Cheguei em Québec no auge do verão, a estação mais extrovertida de todas. Desfrutei de temperaturas altas, de muito sol, de céu azul, de aulas de zumba ao ar livre. Depois veio o outono e seus tons de amarelo, laranja e vermelho, anunciando uma transição importante para o recolhimento. A vivacidade do verão é substituída por uma certa sobriedade.
O inverno trouxe o frio polar, a neve, dias curtos, noites longas e a paisagem meio cinza e muito branca. Na minha opinião, o inverno é uma estação em que é preciso ser forte. E a única maneira de ser forte é trabalhando as nossas fraquezas. No meu caso, a corrida ao ar livre foi meu tratamento de choque, literalmente. Quando você começa, é bem complicado lidar com tanta adversidade. Mas quando você se aquece, não quer mais parar.
E finalmente vem a primavera! Se você se cuidou direitinho, algo novo e mais belo há de florescer. E se depois desses quatro ciclos e de todas as dificuldades, ainda assim você decidiu ficar é porque o objetivo foi alcançado com sucesso: você conseguiu se adaptar.
Fase 3 – Pertencimento
Existe um momento em que a gente não se sente mais como um estranho. E como saber se esse momento finalmente chegou? É quando você é capaz de desfrutar plenamente do lugar em que vive e da vida que leva, com um sentimento constante de gratidão.
A conclusão é que todos podem desfrutar da mesma experiência sem precisar mudar de código postal. Se pensarmos numa escala de humanidade, isso significa que podemos SIM mudar o mundo em que vivemos. O ponto de partida para essa jornada começa dentro da gente. Existem várias estações de conexão, onde nossas histórias se cruzam com as de outras pessoas. E é justamente essa troca que representa a melhor e mais verdadeira contribuição de um imigrante.
Pouco importa se você é o cidadão ou o imigrante. Nossa essência é idêntica e a ela se dá o nome de humanidade. Portanto, para aqueles que querem desfrutar de uma aventura de plenitude, crescimento pessoal e contribuição universal, desejo apenas uma coisa: boa viagem!