Alemão Wessi ou Ossi?
A Alemanha é um país bem menor do que o Brasil, mesmo assim, seu idioma tem vários dialetos e a cultura varia com a região. Preciso lembrar que o país foi dividido politicamente e territorialmente por 40 anos, entre a Alemanha do Oeste (BRD – Bundesrepublik Deutschland), capitalista, e a do Leste (DDR – Deutsche Demokratische Republik), socialista. Cinco estados do atual país e a metade de Berlim eram socialistas e tinham uma vida em condições diferentes de seu restante. Sobre a situação na antiga DDR, falarei mais no mês que vem. Mas aí está a origem dos termos Wessi e Ossi, que explicarei a seguir.
Wessi em Berlim
O termo Wessi vem de West, oeste em alemão. Era usado ainda antes da queda da DDR e se relacionava aos cidadãos alemães de origem ocidental que viajavam a turismo ou se mudavam para Berlim. A conotação era na realidade negativa, uma vez que trazia a ideia de gentrificação, isso é, a chegada dos Wessi encarecia a vida local no leste.
Após a queda da ditadura socialista e o fim da DDR, a Alemanha se reunificou, mas o termo Wessi continuou, sendo agora usado para denominar qualquer alemão do oeste.
Enquanto isso, os Wessis chamavam aqueles cidadãos do leste alemão de Ossis (Ost significa leste, em alemão).
Preconceito por trás das piadas
Devido à antiga diferença de qualidade de vida entre leste e oeste, condições financeira e política, até hoje há um teor pejorativo ao se utilizar ambos os termos. O preconceito continua aceso, como denunciam as piadas.
A plataforma Presse Portal fez uma pesquisa e listou os maiores esteriótipos de Wessis e Ossis. Entre eles: os Ossis teriam, em maior número, nomes americanizados como Mandy, Cindy, Sandy etc; Wessis têm melhores salários e só pensam em dinheiro; Ossis não conseguem falar alemão e inglês corretamente; Wessis construiriam novamente o muro divisório etc.
Mudança de identidade
Apesar de existirem muitas piadas sobre os dois lados, a geração mais nova não se identifica com o termo Wessi ou Ossi, mas sim, alemães. São jovens que não vivenciaram o tempo do muro de Berlim. Essa tendência é, portanto, positiva.
Mas, como mencionei nesse texto aqui sobre os salários na Alemanha, por que ainda há diferença no salário dos empregados do leste e oeste alemão? Como informado por um especialista ao portal MDR, a diferença é resultado do desenvolvimento da economia durante os anos 1990. Enquanto no leste alemão, as empresas são de menor porte, no oeste, de maior. Empresas menores dão salários mais baixos, geralmente. A previsão é de que continue assim por muitos anos.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na Alemanha
Outras diferenças entre Oeste e Leste alemão
Uma diferença marcante é a quantidade de casos de extremismo de direita no leste alemão. Por lá, há menor aceitação a refugiados (de acordo com o jornal Frankfurter Allgemeine, o leste alemão tem uma cota de aceitação de 50% a refugiados, enquanto no oeste, de 66%).
Afinal, por que uma região antes socialista se vira ao extremismo de direita? Um estudo sobre o extremismo de direita, publicado pelo jornal Süddeutsche Zeitung, indica que a sociedade da antiga DDR, muito fechada e homogênea, teve problemas ao se unificar com a Alemanha do oeste, capitalista e mais aberta. A mentalidade das pessoas não se transformou tão rapidamente. Antes, os estrangeiros que vinham a trabalho, tinham permissão de ficar por um certo período. Cidadãos locais e imigrantes eram bem separados. Com isso, a aceitação aos imigrantes ainda é mais difícil nesses locais. Atualmente cresce nessas regiões o número de alemães que querem construir uma identidade “limpa”.
Algumas características são melhores no leste, entretanto. Por exemplo, a diferença de salário entre homens e mulheres é muito menor do que no oeste. Também as crianças têm bem mais acesso aos jardins de infância. Enquanto isso, no oeste, há mais pessoas casadas e são mais jovens.
De toda maneira, diferenças culturais e sociais regionais existem em qualquer país. Ninguém deveria inferiorizar o outro por esse motivo. O melhor é conseguir manter a identidade cultural nacional, mas respeitando e incluindo os imigrantes. Essa questão de Wessi e Ossi me lembra muito da situação brasileira entre sul/sudeste e o nordeste. Não adianta desqualificar as pessoas, muito menos por causa de sua cultura e posição econômica e social. Espero que todos nós, brasileiros e alemães, possamos aprender com os anos.