Quando vocês estiverem lendo este post, já estaremos mais perto da Semana Santa do que do carnaval, mas eu queria contar um pouquinho dos costumes daqui, porque estive pensando em identidade e nacionalidade nesses dias.
Tenho duas filhas que nasceram na Islândia, mas que são bem brasileirinhas, afinal de contas, eu sou responsável por uma boa parte do material genético delas e acho muito importante que elas cresçam conhecendo as tradições dos dois países.
Como elas vão se sentir quando crescerem eu não sei, mas provavelmente vão ter lembranças de brigadeiro nas festas de aniversário; de comidas e festas juninas aqui na terra do gelo; de copas do mundo com camisa verde e amarela e de cantigas como “A canoa virou”. Agora, Carnaval…
Eu nunca fui louca por Carnaval no Brasil, porém, acho divertido e este ano, bem que quis organizar um mini baile para os brasileirinhos daqui, porque o Carnaval é muito diferente de tudo a que estamos acostumados; é uma mistura de comilança e Halloween, sem feriado – pois a Islândia ainda tem mais de 90% de luteranos e só os católicos param tudo nesses dias – daí meu desejo de mostrar para elas como pode ser uma mini folia de salão com marchinhas, confete e serpentina, só que comemoramos à “la viking”, mesmo, porque rendi-me ao pecado da preguiça…
Três dias de comedoria – Bolludagur, Sprengidagur e Öskudagur
Como o período da quaresma é de jejum e sacrifícios, esses três dias que a antecedem são de muitos excessos, só que aqui o pecado maior é a gula. A segunda-feira de carnaval aqui se chama “Bolludagur”, o dia do “Bolla”, que é uma espécie de bomba feita de uma massa como o da “éclair” francesa, recheada geralmente com chantilly e/ ou geléia de frutas, coberta com calda de chocolate ou uma cobertura açucarada colorida.
Todas as padarias e supermercados do país vendem os “bolla” com ou sem recheio e todos os ingredientes para prepará-los ou simplesmente enfeitá-los em casa, se for o caso. Dizem que esta tradição veio da Dinamarca ou Noruega, provavelmente no fim do século XIX e, na Islândia, é tida como típica da região norte, especialmente da cidade de Akureyri.
Nas escolas, as crianças preparam uma vara de papelão com um enfeite de papel na ponta que lembra (bem de longe) um catavento para bater nos pais, gritando “Bolla, bolla”, requerendo urgentemente o tal doce – é uma batidinha de brincadeira, pois a varinha é bem leve. As padarias e supermercados se enchem de bolla, mas muita gente faz tudo em casa.
A terça-feira gorda é o “Sprengidagur”, o dia de explodir, literalmente.
O menu deste dia é carne de cordeiro salgada e cozida junto com batata e cenoura, mais ou menos como uma sopa. Geralmente servem-se os legumes separados da carne, mas ambas variações são comuns, depende do gosto do freguês e costume da família.
Teoricamente, este é o último dia antes do jejum, então todo exagero é permitido. Como carneiro não é a minha carne preferida, eu não me importo de iniciar a penitência antes, só provei essa iguaria uma vez e não virou o meu prato preferido. O meu primeiro “Sprengidagur” na Islândia, aliás, foi inesquecível; um jantar na casa da minha cunhada, no qual o filho dela gentilmente me explicou do que se tratava a comemoração assim: “Vocês não têm aqueles desfiles no Brasil com um monte de gente bonita sambando fantasiada na rua, como é o nome?” E eu: “ah, sim, o Carnaval?” E ele: “Pois é, isso aqui é o nosso Carnaval”, apontando para o prato cheio de carne e batata.
Öskudagur ou, literalmente, dia das cinzas
O equivalente à nossa quarta-feira de cinzas brasileira é, aqui, o dia preferido das crianças, ocasião para se fantasiar e sair na rua pedindo doces nas lojas, cantando em troca de guloseimas. Perguntei a uma aluna minha islandesa o que é esse dia para eles e ela disse “ah, é o Halloween daqui”. Ela não tinha a menor ideia do que é Carnaval, nem o significado das “cinzas” no nome do dia, o importante é se divertir e na quarta! Conta-se que, antigamente, as moças costumavam espetar um saquinho com cinzas nas costas dos rapazes que queriam namorar, sem que pudessem perceber, e eles espetavam nelas um saquinho com pedrinhas.
Hoje, as creches e jardins de infância fazem uma festinha à fantasia e as escolas liberam os alunos mais cedo para que possam sair para a grande “colheita” de doces. É uma correria, porque quem chega mais tarde pode dar de cara com a placa “não temos mais balas”, que os estabelecimentos comerciais já têm prontinha para pendurar na porta. Como está muito frio nesta época do ano, as fantasias ficam escondidas pela metade, debaixo dos casacos, cachecóis e gorros, ou são peludas e quentinhas; este ano, as mais cotadas são a de unicórnio; em todas as vitrines e unissex, muito prática, e do tema “Star Wars” (guerra nas estrelas), mas os pequeninos adoram a Elsa e o Olaf do “Frozen” e super-heróis como Batman e Homem Aranha, isto é universal.
E eu, como Doris Day naquele filme do Hitchcock, continuo me perguntado: “Que será?” Será que as minhas meninas vão se sentir mais islandesas ou brasileiras no carnaval quando crescerem?
14 Comments
Amei Erikinha, super interessantes esses festejos do carnaval aí. Fiquei morrendo de vontade dos ‘Bolludagur” que devem ser uma delícia!!! Com certeza a Luninha e a Stellinha vão adorar essa farra. Parabéns querida pelo belo e divertido texto!
Tia, muito obrigada por ler e compartilhar! Vamos fazer uns “Bolla” quando chegarmos aí para ti.
Beijos
Muito bom o texto, Erika! Meus parabéns 😉
Obrigada, querida! Abração.
Muito bom saber essas histórias!! Realmente são dois Carnavais extremos…acho que as meninas vão gostar dos dois,..pular no Brasil e descansar na Islândia!!!
Obrigada por ler e compartilhar, mana! Beijo enorme!
Sempre tive um desejo enorme de conhecer a Islandia. Vc só fez aumentar esse desejo e minha curiosidade. Muito bons seus comentários. Parabéns.
Muito obrigada, Clea!
Fico feliz que gostou. Espero que o seu desejo se realize, quem sabe a gente não se vê por aqui em breve?
Abraço
Que legal, Erika. Muito interessante pra gente saber as tradições, os costumes, a culinária e tudo o mais desse lugar que só ouço falar maravilhas. Adorei e vou ler sempre que puder. Bjs pra vc e sua família linda ????????????
Obrigada, tia Lia! Fico feliz que gostou, um dia vocês têm que vir aqui comer essas coisas com a gente!
Beijos enormes a todos aí!
Bravo, Erika!
Mais um texto super legal!!!
Aprendendo sobre o Bolludagur na Islandia!
Acho que no tempo do Siggi, aqui em Vik, não tinha esta comemoração !
Na Noruega temos “fastelavensboller” outra massa, também com muito creme e geléia!
Beijos!
Inger linda,
muito obrigada!
Aqui, com certeza é inspirado na Dinamarca ou na Noruega.
Beijo grande!
Parabéns Prima
Informações super produtivas e interessantes
Adorei ler e vou compartilhar aos amigos
Sucesso mana
Beijao
Obrigada, prima!!
Fico feliz que gostou!