Hoje o BPM entrevistou a Andreia. Ela mora na Irlanda, é gay e casada. Ela vai falar sobre a experiência de morar na Irlanda.
BPM – Em 2015, a Irlanda foi o primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo através de um referendo, com uma grande maioria a favor. Você acha que o
resultado positivo é refletido na sociedade? Como a sociedade vê a comunidade LGBT?
Andreia – Lembro como se fosse hoje o dia do referendo, foi um dia de grande emoção e festa. Aqui em Dublin, onde vivo, é tranquilo, saio de mãos dadas com minha esposa na rua, vejo gays e lésbicas fazendo o mesmo, vejo drags montadas e trans na rua, andando tranquilamente, mas sei que no interior não é assim tão tranquilo. Por outro lado, os irlandeses não são muito violentos, claro que sempre tem um ou outro preconceituoso pelo caminho, mas nunca tive problemas.
A comunidade LGBT aqui é muito pequena, todo mundo praticamente conhece todo mundo, em Dublin só tem uma casa noturna LGBT e 2 bares, mas tem várias festas em outros lugares.
BPM – O governo oferece algum apoio? Há comunidades, associações, organizações para apoiar principalmente os jovens?
Andreia – Que eu saiba não existe nenhum apoio, diferenciado, do governo. Sei que temos os mesmo direitos de deveres de qualquer cidadão. Existem algumas associações e organizações que apoiam a comunidade LGBT, as que eu conheço são a BeLonG, que ajuda pessoas entre 14 e 23 anos, e a Outhouse, que da apoio as pessoas LGBT, para os familiares e amigos e também são envolvidos com a organização da parada LGBT.
BPM – Você já sofreu discriminação, na Irlanda, por ser gay?
Andreia – Nunca sofri nenhuma discriminação. Sou uma pessoa de muita sorte, mas conheço algumas pessoas que ja sofreram, mas só coisas de terem sido xingados na rua. Como eu disse antes, aqui o pessoal é tranquilo, a pouca violência que acontece não acontece porque você é gay, acontece porque tem gente ruim em qualquer lugar.
BPM – Há alguma diferença entre a geração mais velha e os jovens em relação a comunidade LGBT?
Andreia – Sim, acho q existe sim. Os mais velhos viveram em uma Irlanda onde ser LGBT era crime, tinham que sair escondido e viver no armário, mas muitos deles lutaram para a discriminilização e para que o histórico 22 de Maio de 2015 pudesse se tornar uma realidade.
Eu acredito que agora os mais novos podem se sentir mais seguros para sair do armário e viver a vida com mais leveza e plenitude, aproveitando mais a liberdade conquistada.
BPM – No caso de transexuais e operação de mudança de sexo. Como são as opções e como funciona na Irlanda? É coberto pelo governo? A partir de que idade é permitido?
Andreia – Eu não sei muito como funciona aqui na Irlanda em relação a operação de mudança de sexo, mas sei que ate 2015 não era permitido mudar o nome e o sexo no registro de nascimento, logo após o referendo, em Julho de 2015 foi aprovada uma lei que permite pessoas com 18+ a fazer a cirurgia sem precisar de um requerimento médico, ou seja, qualquer pessoas que se sinta trans pode operar e mudar o nome e os documentos.
Com essa nova lei a Irlanda se tornou o quarto país no mundo que permite legalmente a auto-determinação de gênero.
BPM – E no ambiente de trabalho, você acha que a sua sexualidade é relevante ou apenas a sua formação/aptidão profissional?
Andreia – Eu nunca tive problema no serviço por conta da minha sexualidade, quando comentei algo sobre minha vida pessoal foi muito natural falar “minha noiva” (na época ainda não havia casado). Quando voltei do meu casamento, eles me deram presente e tudo. Aqui eles se importam mais com a sua aptidão profissional e profissionalismo do que com quem você dorme.
BPM – Que dicas você daria para os leitores LGBT do BPM, se estiverem pensando em ir morar na Irlanda?
Andreia – O que vou dizer agora pode criar polêmica, mas diria para quem estiver pensando em vir para cá, vir com o pé no chão.
Muitos brasileiros quando chegam aqui, viviam uma vida dupla no Brasil, e quando percebem que aqui é mais tranquilo, meio que “dispirocam” (ache uma palavra melhor hahaha). Começam a sair e ir para after parties e usar drogas pesadas e fazer sexo sem camisinha.
Eu diria para ele(as) pensarem que ter liberdade é bom, mas tem que ser responsável.
O índice de HIV da Irlanda é um dos maiores da Europa, aqui tem clínica que faz o teste gratuito e doa camisinhas, assim como nos bares LGBT também doam, então se cuidem, pois festa é legal, mas a vida é melhor ser curtida com saúde!
Obrigada, Andreia, pela ótima entrevista. Te desejo felicidades com a tua esposa, na Irlanda!
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Amei a matéria. Só tenho uma dúvida/curiosidade. Em quase todo o mundo as pessoas podem obter a cidadania pelo casamento. Mas no caso dos homossexuais também é assim? Ou isso não é possível ?