Como funciona o sistema de saúde no Uruguai.
Morei num balneário encantador nos primeiros meses da chegada ao Uruguai. Na praia, a vida é muito mansa. Há poucos habitantes, as casas têm quintal gramado, árvores, diversidade de pássaros.
Eu, paulista, ex-moradora do centro de São Paulo, estava extasiada com tanta natureza. Rapidamente o cortador de gramas, que eu só conhecia de filmes, se tornou meu aparelho favorito. Quando não tinha grama suficiente para cortar, usava meu segundo objeto companheiro, o rastelo. Rastelava, dia sim, dia não, toda aquela imensidão de quintal verde. Era quase terapêutico fazer aquilo.
Não cansada o suficiente, usava com muito orgulho meu recente meio de transporte, a bicicleta da infância do meu marido, uma BMX tamanho pequeno para qualquer adulto! Minha rotina estava reinventada. Cortar grama, varrer folhagens e pedalar quilômetros pelas cidades vizinhas.
Mas o que tudo isso tem a ver com ficar doente? Tudo, para uma pessoa que tem 2 protrusões sérias na lombar.
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Eu não sabia que tinha esse problema e, quando sentia um incômodo que doía estranhamente na perna, achava que era falta (!) de exercício e intensificava as atividades. A conclusão foi: duas hérnias de disco e uma operação!
Operei-me pelo sistema de “mutualista” do Uruguai, não paguei nada pela operação, apenas paguei um valor quase simbólico pelas consultas médicas e exames. Explicarei como funciona.
Quando uma pessoa começa a trabalhar, é obrigatório ter o carnê de saúde. Aliás, este documento é obrigatório para muitos outros trâmites, como a carteira de identidade, por exemplo; por isso, é fundamental fazê-lo ao chegar ao país. O carnê de saúde prova que no último ano a pessoa passou por “atenção” médica básica.
Para obter esse carnê, é necessário fazer alguns exames médicos simples, tomar algumas vacinas, além de passar por vistoria odontológica, oftalmológica e ginecológica, no caso das mulheres.
O carnê é válido por doze meses, depois disso, volta-se a realizar todos os exames. Esse sistema obriga a população a estar ciente, pelo menos, dos aspectos mais básicos de sua saúde, o que parece ser super interessante.
Além do carnê de saúde, ao iniciar um emprego novo, deve-se escolher a qual “mutualista” deseja associar-se – seria como escolher um convênio médico. O serviço mutual tem esse nome, porque se baseia na premissa de que o mais favorecido ajuda o menos favorecido.
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Na prática, fica assim: os idosos têm menor ingresso financeiro e maior necessidade de ajuda médica, por isso pagam menos pelo serviço médico e remédios. Já as pessoas jovens, que estão trabalhando, pagam até 6% de seu salário para ter essa cobertura. Tudo isso é automático e já vem descontado na folha de pagamento.
Quem não está trabalhando, pode pagar de maneira particular os serviços das mutualistas – que custam em média 250 reais -, usar a saúde pública ou ainda afiliar-se aos hospitais particulares.
Apesar de os serviços das mutualistas serem muito parecidos com os dos convênios médicos do Brasil, há algumas diferenças. Na mutualista, temos que pagar um valor tabelado por consultas médicas e exames.
Os valores são bem menores do que seriam de maneira particular; uma consulta, por exemplo, com um médico de qualquer especialidade, na minha mutualista, custa o equivalente a 26 reais. Clínico geral, pediatra e ginecologista têm valor diferenciado, custando 11 reais.
Outro aspecto interessante é que os remédios também podem ser comprados dentro da farmácia de cada mutualista por um valor fixo, independente de qual for a medicação. Os valores atuais para o ticket dos remédios, na que sou associada, é de 26 reais.
A escolha da mutualista é importante, pois só será possível mudar de empresa de saúde durante o chamado “corralito”, que são alguns poucos dias no começo do ano em que se pode trocar de serviço prestado. Para ajudar nesta escolha, a prefeitura de Montevidéu disponibiliza informações e comparações entre todas as mutualistas neste link
E a saúde pública, funciona?
O sistema público funciona, apesar de ter suas carências. Os edifícios sofrem com a falta de manutenção e há necessidade de espera em alguns tipos de tratamento. Por outro lado, as medicações podem ser adquiridas gratuitamente. Para isso, é necessário pegar senha, bem cedo, nas filas dos hospitais que distribuem a medicação prescrita para o tratamento.
Conheço alguns idosos que preferem usar o sistema público e não se sentem inseguros por isso.
A saúde privada, menos frequente entre a maioria das pessoas, oferece maior exclusividade e conforto ao paciente e seu acompanhante, nos casos de internação, principalmente, e os atendimentos se reservam a um único hospital contratado, diferente das mutualistas que têm convênios com diversos hospitais e clínicas.
Não é prudente estar no Uruguai sem contratar nenhum tipo de serviço médico. Apesar de ter a possibilidade de ser atendido no hospital público, dependendo do problema de saúde, o tratamento pode demorar a ser realizado adequadamente.
Se for viajante, o melhor é contratar seguro médico internacional no país de onde está partindo.
Desfrute saudavelmente do país!
2 Comments
Cuál mutualista recomiendas?
Olá Sabrina,
A Vanessa Gazetta parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM