Nunca pensei que eu diria isso, mas este ano desejei ardentemente, no sentido literal da palavra, que o outono chegasse logo e com ela oportunidades de turismo no Uruguai.
Tinha muitos motivos para tanto, a temperatura nos primeiros dias de março chegaram aos 34 graus na capital Montevidéu. Um calor que nem eu, acostumada ao bafo veranil do asfalto paulista, podia aguentar. Imaginem como estavam os uruguaios. Eu conto: reclamões e imóveis, até meu gato se recusava mover-se.
Há quem diga que o clima do Uruguai está mudando devido ao aquecimento global e que estaria migrando para um clima tropical. Ainda não sei o que pensar, mas vi com meus olhos e suei com minha pele temperaturas que nos anos anteriores só eram presentes no mês de janeiro.
Mas enfim, o outono chegou! Nessa estação do ano as cores da paisagem se modificam bastante, a copa das árvores ficam amareladas e avermelhadas. Talvez seja o período em que mais se aproximam da paisagem europeia, alimentando um apelido que se orgulham de ter, o de pequena Suíça da América Latina.
No termômetro encontra-se costumeiramente, temperaturas entre 12 e 20 graus. Os dias são mais curtos que as noites. Ainda não é necessário usar cachecol, luvas e botas, mas um casaquinho para o dia e uma blusa um pouco mais reforçada para a noite serão úteis.
É a época em que menos chove no país, favorecendo muito aqueles longos passeios a pé. Por apresentar o charme da coloração das árvores e do tapete de folhas caídas pelas ruas eu indico sair um pouco do itinerário centrado na Rambla e migrar para os bairros arborizados, lá estará toda a beleza dessa estação.
Não há bairro mais verde que Prado. Sou apaixonada por esta zona e tenho pena dela não ser tão divulgada e reconhecida no circuito turístico como merece. Nunca encontro turistas nesta parte. Apesar do ônibus turístico passar por Prado raramente as pessoas descem para desbravar o local, o que é um desperdício.
Há inúmeras atrações no bairro que, além de serem gratuitas, estão a menos de 30 minutos de ônibus comum partindo do centro da cidade.
O mais famoso de Prado é seu parque que leva o mesmo nome, é o parque urbano mais antigo da cidade. É tão grande que se divide em 2 partes.
A porção maior e mais visitada do Parque Prado possui 4 principais atrativos:
Monumentos “La diligencia” e “Los últimos charrúas” – O primeiro mostra uma carruagem sendo puxada por cavalos, homenagem ao transporte de passageiros antes da chegada do trem e automóveis. O segundo mostra uma família indígena ao redor de uma caldeira, homenagem a quatro índios sobreviventes do extermínio indígena que aconteceu no Uruguai, mas que foram levados como prisioneiros à França e exibidos como uma raça exótica.
Rosedal – Com mais de 300 variedades de rosa é um lugar charmoso, com bancos espalhados ao redor do chafariz, onde é comum encontrarmos quinzeaneiras tirando fotos para o book de suas festas. Aviso que no outono as roseiras não estão cheias de flores, mas ainda assim vale o passeio.
Fotogaleria – Sempre uma fonte ilustrada de informações sobre outras partes do país e de vez quando exibe material de fotógrafos brasileiros.
Para ir ao segundo lado do parque é necessário atravessar uma elegante ponte enfeitada com uma espécie de gárgulas e cruzar a avenida Luís Alberto de Herrera. De cara se avista um parquinho de diversão, seguindo parque adentro se encontra o Hotel de Prado. Um luxuoso casarão antigo que hoje funciona como casa de chá e eventos.
Há menos de duas quadras do parque Prado está o Jardim Botânico. Quando preciso de inspiração me sento num dos seus bancos e deixo o ar entrar. É impossível sair de seu labirinto sentindo-se ainda tenso. O edifício da administração coberto por heras acobreadas e o invernadouro são promessas de fotos especiais.
Continuando pelo bairro, em menos de dez minutos caminhando se chega ao Museu Blanes e o Jardim Japonês. O museu possui acervo variado e dentre eles os mais conhecidos são as obras que retratam momentos históricos do Uruguai, como o quadro “ Desembarque de los 33 Orientales” que se refere ao processo final da independência do país.
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Na lojinha do museu é possível comprar pôsteres de alguns dos quadros da exposição por menos de 20 reais. Todo o dinheiro volta para o museu em forma de manutenção, explicam as funcionárias que entendem muito sobre o museu e adoram explicar a importância desse trabalho para os brasileiros, sempre que passo por lá batemos o maior papo!
No mesmo local, na parte de trás do museu, fica o Jardim Japonês. Pequeno, porém belíssimo, foi um presente do Japão ao governo uruguaio em comemoração do 80° aniversário da relação diplomática entre os dois países.
Para finalizar tem o Museu da Memória. São uns 20 minutos a pé ou 5 minutos de ônibus. A beleza da paisagem ao redor do edifício empresta um pouco de leveza à densidade das imagens e informações sobre a ditadura ocorrida no Uruguai, material ao qual se dedica este espaço.
Para quem não gosta de roteiros muito definidos, este bairro oferece doces surpresas. Ao sair caminhando sem rumo, inevitavelmente, se deparará com casarões antigos, ruas simpáticas, clubes de futebol, a casa presidencial e uma a igreja de construção gótica cheia de detalhes interessantes que garantem meia hora de entretenimento capturando cada adorno. Se presenciarem uma missa não se assustem se ao final o padre despedir-se dos fiéis na porta chamando cada um por seu nome. Eu me assustei, caipira de cidade grande que sou!
6 Comments
Valeu as dias, julho estarei por aí.
Que bom Cleidimar, que seja uma excelente viagem!!!
Como é a temperatura em setembro? Estou indo dia 6
Oi Rafhael, em setembro o frio começa a dar uma trégua, de dia costuma ter sol, uma blusa não muito grossa tende a ser o suficiente e de noite um casaco mais abrigado. Touca, luvas e afins já não são necessários. Boa viagem!
Muito obrigada pelo roteiro. Há alguma indicação para um roteiro gastronômico em Montevidéu… com preço acessível?
Bom verão pra você!
Olá Claudia,
A Vanessa Gazetta parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM