Para quem nunca viveu um período fora do Brasil, a vida de expatriado parece bem interessante e glamourosa. Mas não se engane, nem tudo são flores. Seja qual for o motivo que te levou a sair do país (estudo, emprego, busca de melhor qualidade de vida, trabalho do marido/esposa, ano sabático, etc.) você está em busca de algo que, pode vir logo ou não, pode requerer muitos trâmites custosos e demorados, pode simplesmente desaparecer ou não acontecer… Já vi gente que sai expatriada do Brasil pela empresa e em pouco tempo tem que regressar.
Seja qual for a sua situação ou motivo de expatriação, as necessidades para adaptar-se são muitas, incluindo: comida, clima, cultura, língua e interesses.
Em geral se você vai em família, é a mulher que se ocupa em resolver as necessidades de todos e, quando se dá conta já está infeliz. Se você vai sozinha ou em casal essa dificuldade é minimizada.
O importante, em linhas gerais, é que todos os membros da família busquem grupos para se socializar com a nova cultura, podem ser da escola, do trabalho, da ginástica, do condomínio, de brasileiros que já vivem nesse lugar, da igreja e etc. Através desses grupos vamos nos apoiando, trocando informações, conhecendo novos amigos e criando laços no novo local de moradia.
Essa base sólida nos dá suporte quando as dificuldades chegam. Você já terá escutado muitas histórias de como atravessar essas dificuldades e terá argumentos e apoio para contornar a situação.
Quando somos novatos na vida de expatriados, caímos nesse conto de que temos muitas providências para tomar e não necessitamos de rede de apoio, e aí está o nosso primeiro erro. Você estar ocupada não significa que você está bem. Todo ser humano para ter saúde, além do bem estar físico, deve cuidar do bem estar mental e isso significa estar cômoda em todos os âmbitos da sua vida.
Se chegamos ao novo país e seguimos desenfreadamente tomando as providências necessárias para a instalação, sem analisarmos como estamos nos sentindo diante das novas condições, sem conhecer novos amigos e criar laços no novo local, fatalmente cometeremos erros e deixaremos para perceber esses incômodos lá na frente, quando talvez seja mais complicado fazer mudanças.
Um exemplo bastante claro desse fato é a mudança para um local com clima diferente do seu. Se você sempre esteve em uma cidade quente e vai morar num lugar mais frio, seguramente isto irá te custar, começando já pelo próprio guarda roupa, que em geral terá de ser ajustado à nova condição. Existem, inclusive, explicações biológicas para as dificuldades de adaptação nesses casos. Os níveis de vitamina D no organismo são aumentados pela luz solar, portanto quem vive num lugar mais ensolarado terá esses níveis diminuídos em lugares com menos luz e vice-versa.
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Colocado tudo isso, o indivíduo quando percebe que não está bem, provavelmente já anda chorando pelos cantos, reclamando de absolutamente tudo e tornando a vida de quem convive com ele um inferno também!
Existem pessoas predispostas naturalmente a um comportamento mais introspectivo e calado o que dificulta ainda mais a detecção desse tipo de problema.
Além da rede de apoio, o acompanhamento médico e muitas vezes o uso de medicamentos e de atendimento psicológico são necessários. Outras terapias de apoio também auxiliam e fortalecem o indivíduo para tratar a depressão, como acupuntura, reiki, massagem etc.
Em casos extremos as pessoas optam por retornar ao Brasil ou passam por períodos bastante complicados. Muitas vezes estamos rodeados de pessoas, mas não temos amigos verdadeiros, que nos inspirem confiança e com quem podemos contar nesses momentos difíceis, para trocar ideias e dividir nossas dores. Mesmo que o problema em si não seja grave, o que o torna preocupante é a forma como resolvemos enxergá-lo. E nesse ponto um amigo pode ajudar bastante. Se não conseguimos nos conectar dessa maneira com ninguém no lugar onde vivemos, podemos utilizar as ferramentas tecnológicas como Skype, WhatsApp ou Messenger para conversar com os amigos de sempre. O importante é reconhecer que necessitamos de ajuda e buscá-la. A vida é um presente e vivê-la da melhor maneira é nossa inteira responsabilidade.
O objetivo desse artigo realmente é que você não se deixe levar pelos milhões de motivos que podem te causar depressão ou tristeza sendo expatriado. Somente a falta dos parentes na nossa vida cotidiana já seria, por si só, um grande fator. Que você busque as redes de apoio e as utilize sem restrições, pois é a única maneira de sentirmos que estamos menos longe de casa. E se acontecer, não se martirize por isso. Faz parte do processo de aprendizagem de cada um e, como diz aquela musica de nosso país: “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!” Porque podemos estar onde estivermos, mas jamais deixaremos de ser brasileiros.
2 Comments
Ah Paula, que lindeza de texto! Parece que tirou de dentro de mim. É assim mesmo. Quando as pessoas me perguntam “como faço para ir morar na França (ou no México, onde vivo agora)”, e eu sempre devolvo com perguntas como “Por que você quer ir? Acha que consegue passar por tal e tal e tal situação? Já pensou que na França no frio chega a temperaturas negativas?” Eu fui sabendo de tudo isso e depois de dois anos entrei em parafuso e pedi transferência pra América Latina porque não me adaptei à cultura fria francesa, apesar de ter sido muito feliz na França. No longo prazo, o psicológico sentiu. E quando o psicológico cobra, as pessoas precisam tomar decisões difíceis e que muitas vezes custam caro (no meu caso, um salário em euros, para um salário em pesos mexicanos). Se eu me arrependo? Em NENHUM segundo. A paz de espírito, o sol, o calor humano, a proximidade do idioma, o bem estar, são coisas que força monetária nenhuma compra. Obrigada novamente por esse texto. Só quem é expatriada e passa por isso sabe como é!
Olá Stephanie que alegria saber que alguém se identificou….sinal que não estamos sozinhas!Um grande abraço, sucesso na sua carreira e sobretudo felicidade na sua vida!