“Férias” no Brasil durante a pandemia.
Depois de muitas incertezas e dúvidas resolvemos passar as férias de fim de ano junto de nossa família, em especial por conta dos familiares mais idosos que nos preocupam bastante.
Foi uma decisão muito difícil, porque nós aqui em El Salvador, estávamos totalmente isolados saindo de casa somente para o essencial, mercado, farmácia e as notícias da vida no Brasil, em especial em São Paulo, eram bastante assustadoras: locais abertos com aglomeração e até pessoas que não utilizavam máscara.
Enfim, decidimos que era necessária nossa ida para lá e nos preparamos física e emocionalmente para a empreitada.
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O objetivo desse texto é refletir sobre as diferenças da pandemia vivenciada aqui em El Salvador com o que encontrei no Brasil. Como sentimos esse momento e como podemos refletir sobre as nossas próprias atitudes frente à pandemia.
O aspecto que mais nos impactou a princípio, foi o fato de que estarmos em um lugar e nos deslocarmos até outro ponto implicaria em um grande risco de contagio: o avião e o aeroporto.
Esses são locais onde transitam muitas pessoas, então instintivamente acabamos utilizando mais o álcool em gel e fomos ao banheiro lavar as mãos mais frequentemente. É instintivo! E essa preocupação vai nos deixando tensos.
De forma que a ideia de “férias” não existiu durante a viagem e estadia. Para nós, que necessitávamos do teste PCR-RT negativo para regressar, até um simples espirro era um tormento.
Temos família em duas cidades do Estado de São Paulo, a ideia inicial era dividirmos nossa estadia equitativamente entre as duas casas. Mas o primeiro imprevisto aconteceu logo que chegamos: estávamos em uma das casas e alguns parentes da outra casa se contagiaram com o COVID-19.
Isso nos impediu de irmos para lá, por mais de quinze dias. Graças a Deus não tiveram sintomas graves e estão todos bem.
“Férias” no Brasil durante a pandemia
Outra grande dificuldade foi o desejo de ir a certos lugares, comer alguma comida especial que não temos em El Salvador. Por conta da pandemia não nos sentimos cômodos em ir a restaurantes porque não se respeitava o distanciamento social ou não havia a opção de uma área aberta.
Em alguns casos pudemos fazer o pedido por delivery, em outros não havia nem essa opção, mas foi uma experiência frustrante, não é a mesma sensação de estar no local e comer o prato recém feito.
Fora isso, quem mora fora do Brasil sabe que toda vez que voltamos para o nosso país a viagem meio que vira uma romaria para rever todos os parentes e amigos queridos. Com a pandemia tudo isso não aconteceu, o que gera novamente um sentimento de frustração na gente, como se tivesse ficado faltando um pedaço…
Outro aspecto que vale a pena abordar, no meu caso que estava em casa de familiares, é que muitas vezes eles podem agir de forma diferente da que você acredita ser conveniente, como por exemplo decidir ir a determinado lugar ou receber uma visita.
Como reagir nesse momento se não estamos na nossa casa? Eu tentei adotar a postura mais neutra possível, para evitar o conflito e ao mesmo tempo nos proteger do contágio, uma verdadeira saia justa.
Evitar que o contágio continue é o mais importante
Normalmente quando vamos ao Brasil sempre temos pendências documentais e uma lista de coisas para comprar, em geral são produtos que passamos meses sem ter a oportunidade nem de olhar.
Com a pandemia até as tradicionais visitas ao cartório tiveram que ser virtuais, as compras foram on line e tudo perdeu um pouco o brilho.
Esse novo normal nos obrigou a repensar nossa lista de prioridades, porque até mesmo estar com alguém virou risco de vida. Muitas pessoas que não pude ver são muito importantes na minha vida, mas evitar que o contágio continue é muito mais importante.
E garantir que estaremos todos presentes no próximo encontro virou o objetivo primordial além claro, de poder desfrutar de fins de tarde assim:
Rever e estar com os familiares
O que mais valeu a pena foi cumprir o motivo principal da viagem: rever e estar com os familiares. A vida é muito curta para desperdiçarmos oportunidades de vivenciarmos o amor que nos une e sobretudo de expressá-lo, porque do amanhã não sabemos, só temos certeza desse instante.
A forma de enfrentar a pandemia em El Salvador e no Brasil são bem distintas. Aqui em El Salvador vivemos um lockdown muito intenso e até hoje o acesso às lojas e serviços são bem controlados, com medição de temperatura, álcool em gel etc.
Já no Brasil, pelo que foi vivenciado por meus familiares, o lockdown foi muito menos intenso e durou um período bem curto. Então tivemos a sensação de sair de uma prisão, e quando chegamos no Brasil, onde todas as atitudes que são consideradas normais, tivemos muito receio.
Um longo caminho até a imunização
Entendemos que a atividade comercial precisa encontrar uma maneira de seguir, mas nos causou assombro a quantidade de pessoas sem proteção, circulando pelas ruas e a naturalidade com que elas fazem isso.
Regressamos bem, com nosso PCR negativo e, com tudo o que vivemos, reforço a necessidade de continuarmos nos protegendo, seguindo as medidas de distanciamento social e uso de máscara.
A vacinação começou, mas até que todos estejamos imunizados ainda haverá um longo caminho. E o mais importante é que não queremos e não podemos incrementar os números alarmantes de contágios e mortes que já vimos nessa pandemia por uma displicência nossa.