Expatriados e amizade em tempos de COVID-19.
Outro dia me deparei com um texto do Brasileiras pelo Mundo da Maila-Kaarina: Depois de sete meses em tratamento para depressão e li sobre uma das atividades propostas para ela, por uma psicóloga, para o tratamento da depressão.
A atividade era desenhar um círculo e dentro dele colocar as pessoas que você considera que são próximas a você (amigos) e fora do círculo as que são mais distantes (colegas). Imediatamente tentei fazer a atividade e, assim como ela, eu realmente não soube quem colocar em cada um.
Diante desse quadro me pus a pensar no significado dessas palavras, amigo, colega e como classificaria cada pessoa que passa pela minha vida dentro desses significados. E principalmente como a distância criada pela expatriação interfere nisso.
Expatriados e amizade em tempos de COVID-19.
Quando nos expatriamos vamos somente nós, os amigos e colegas ficam, assim como a família, que deveria ser incluída num capitulo (ou num círculo) à parte. Nos primeiros regressos todo mundo quer te ver, saber como você anda, como é a vida no novo lugar.
Nas outras voltas, o número de pessoas interessadas cada vez diminui mais, até se reduzir ao círculo que chamamos basicamente de amigos. Os colegas se distanciam e é um processo natural e saudável, creio que aconteceria o mesmo se estivéssemos no nosso país.
A única exceção seria para os colegas de trabalho ou de algum outro tipo de atividade que você desempenhava anteriormente, pois nesse caso eles se perpetuariam enquanto você frequentasse o seu trabalho ou atividade.
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O que me provocou mais assombro foi perceber que muitas vezes consideramos amigos alguns colegas e que essa percepção seria alcançada somente com o passar dos anos. Podemos dizer que o processo de expatriação acelera algumas conclusões que levaríamos anos para descobrir se tivéssemos ficado.
Amigo é aquele que, mesmo depois de anos sem falar, parece que a conversa simplesmente continua, independentemente de onde tenha parado, independentemente do seu estado civil, da quantidade de filhos, de gostos e interesses. O laço se deve a uma conexão com a pessoa independente do entorno. Esse entorno facilita ou não a convivência, mas a amizade verdadeira sobrevive a isso e à distância e ao tempo.
Identificados esses seres humanos excepcionais que Deus colocou nas nossas vidas, verdadeiros anjos, meu conselho é: apertem bastante quando puderem e dediquem tempo a eles frequentemente. Skype, Messenger, WhatsApp, tudo vale para ajudar a cultivar as melhores bençãos que Deus nos deu.
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Durante a jornada de expatriadas nos conectamos com muitas pessoas e sinto que, em função da fragilidade do nosso vínculo com o país e dos nossos interesses diversificados, fica bem mais complicado ter grandes amigos.
Encontramos grandes criaturas, que nos ensinam muitas coisas diariamente e por esse fato sou muito grata a todos que compartilharam um trecho do caminho comigo. Todos, sem exceção nos ensinam algo, mesmo que seja o que não fazer.
Diante disso sentimos sim (e muitas!) saudades daquelas risadas escancaradas que somente um grande amigo nos faz dar e até daquele puxão de orelha na hora certa, mas para isso temos também os familiares que nos acompanham (marido, esposa, filhos), essa conexão se torna muito mais forte e viva e é ela que determina o sucesso ou não de uma expatriação.
Expatriados e amizade em tempos de COVID-19: reflexões
Se esse não é o seu caso de expatriação, caso de quem imigra sozinho, esse será um degrau a mais para superar futuramente na sua jornada. Enquanto isso, os amigos que chamamos família é que ditam o sucesso da expatriação.
Nesse caso acredito que as semelhanças de objetivos e atividades com outros expatriados e até mesmo com os nativos, te ajudará a se conectar com grandes amigos, que talvez futuramente venham a ser a sua nova família!
Com a pandemia creio que todas essas reflexões se potencializaram, nesse momento estamos sem o convívio social com os amigos do país onde estamos e essa distância nos ajuda a realmente verificar os amigos que realmente são essenciais e verdadeiros.
Novamente temos um acelerador de percepção nesse contexto e em vários outros. A ausência de convívio social nos faz realmente pensar o que te faz falta e em quem realmente devemos investir tempo, carinho e amor.
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Outro aspecto importante da pandemia é a forma do convívio. Estar com máscara, não poder abraçar ou beijar os amigos deixa uma lacuna importante e fica um gosto de quero mais, de que ficou faltando alguma coisa nesse encontro.
Além é claro, de todas as restrições pessoais que se pode ter nesse convívio, para muitos nem pensar em comer ou tomar algo juntos, para outros sim isso é possível, estaremos sempre com as máscaras? Quais são meus limites e o do outro? Muitas dúvidas e poucas respostas em alguns casos.
Independentemente de ser um amigo para a vida toda ou não, de máscara ou sem máscara, creio que a maior lição que tirei disso tudo é que todos os seres humanos que passam pelo nosso caminho sempre têm algo para nos ensinar se estivermos abertos a esses ensinamentos.
Dedico essas linhas a esses grandes amigos que deixei no Brasil. Eles seguramente sabem quem são.
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