Como vim parar na Argentina.
Uma pessoa nunca sabe, ao certo, se vai ou não sair do país. Não é fácil deixar para trás suas raízes, sua origem, para descobrir o novo.
Difícil, ainda, é se restabelecer em outro lugar que não é o seu. No entanto, após os primeiros anos, a vida vai ficando mais fácil e vemos o quanto crescemos e aprendemos.
E isso, escola nenhuma no mundo ensina.
Como neste mês faz sete anos que mudei para a Argentina, venho aqui compartilhar com vocês um pouco da minha aventura.
Ainda no Brasil
Nasci em Suzano, zona leste da grande São Paulo. Uma cidade nova (neste ano completou 69 anos) que, por um breve período, ficou conhecida como a cidade do “vôlei”. Dela, saíram jogadores que foram medalhistas olímpicos… e eu!
Ainda pequena pensava que não viveria muito tempo ali. Não conhecia nada, só a cidade vizinha (Mogi das Cruzes) e a capital São Paulo. Mas, lá no fundo, sabia que não passaria minha vida naquele local. Era uma intuição, algo dentro de mim, uma voz que me dizia “calma, você já vai se mudar daqui”.
Não que minha cidade seja ruim, ao contrário, é até simpática. O problema era o tamanho. Muito pequena e todos se conheciam. Não havia universidades, nem cinema. Só tinha uma biblioteca municipal e escolas de ballet.
Nessa biblioteca passei horas, dias, semanas da minha infância e adolescência. Era muito divertido pesquisar em meio a tantos livros (ainda não existia Internet, muito menos Google).
Comecei a viajar com a escola de ballet. Por alguns anos participamos de vários festivais de dança pelo Estado de São Paulo.
Daí, fiz 17, último ano no segundo grau (na minha época não era ensino médio). Minha chance era fazer faculdade em algum lugar novo, diferente, numa cidade grande. Acabei em Lorena, no Vale do Paraíba (interior de SP) – uma cidade menor ainda… kkk.
Seis anos se passaram e o curso estava concluído. Agora, sim, vou desbravar o mundo. E fui! E continuo até hoje!
Leia também: Por que a adaptação em outro país é tão difícil?
Como começou
Eu sou brasileira, mas sinto que meu entorno sempre me fez pensar o contrário.
Desde pequena tudo o que fazia sucesso comigo não tinha muita chance. Nunca gostei de chocolate, nem brigadeiro, nutella, doce de leite. Ia aos restaurantes com meus pais e pedia água. Era a única; pois, minhas irmãs bebiam refrigerante. Meus animais de estimação sempre foram gatos. Não sou fã de cachorros (nem mesmo quando ganhei um em meu aniversário).
Na adolescência, então, aí a coisa desandou… Eu queria ler, dançar ballet, estudar, viajar, aprender outros idiomas e escrever. Nunca gostei de sair à noite, nem beber, menos ainda de pular carnaval (já viu como carnaval não combina com São Paulo? Sempre chove e faz frio). Acho cafona desfilar com esse clima quase sem roupa.
Terminou a adolescência e, por incrível que pareça, piorou. Surtava com a falta de pontualidade e formalidade das pessoas. Exigia demais e sempre era muito direta e sincera. Consegui fazer pouquíssimos amigos e ser a pessoa não muito grata em alguns círculos sociais.
Fui fazer terapia. O problema era eu, só podia ser eu. Afinal, não me encaixava. Até dei uma relaxada; mas, viajando, descobri que não estava sozinha. Meu jeito de ser não era um “problema”, eu só não estava no lugar certo.
Pelo mundo
Sabendo que minha cidade era pequena demais e meu jeito de ser me fazendo uma “estrangeira em meu próprio país” foi natural arrumar as malas e partir.
Primeira parada: Argentina. Segunda: Estados Unidos. Terceira: Alemanha. E quarta, Argentina de novo. A quinta ainda está em planejamento. Aguardemos.
Foi difícil? Foi! Mas não tanto como eu havia pensado que seria.
Cultura?
Em alguns lugares por onde passei me senti “tão à vontade” que parecia que eu era dali. Não me custou muito esforço para a adaptação.
Línguas?
Já havia estudado algumas, desde pequena, o que facilitou bastante o processo. Mesmo assim, continuo a estudar. Acredito que devemos saber, da forma correta, o idioma do lugar para viver bem. E ser poliglota é divertido!
Planejamento?
Tranquilo. Desde que conheci Excel controlo as despesas em planilhas. Leio muito, sou bastante organizada e faço tudo com antecedência.
Saudade?
Sempre! Mas uma hora passa e aprendemos a viver longe. Nada que o tempo não resolva. Basta ter paciência.
Comida?
Essa complica. Por mais cosmopolita que seja minha rotina, não dá para não comer uma comidinha brasileira, de vez em quando. Por isso que em minha mala sempre carrego azeites, farinhas, feijões, frutas secas e especiarias brasileiras. Isso quando a lei do local permite, claro.
Na Argentina
Se você está de mudança (ou ainda planejando vir) para cá, já tem uma lista de artigos que vai ajudar bastante:
- Como tramitar documentos de residência
- Dicas para estudar ou trabalhar
- Alugar casa, abrir conta no banco, tirar carteira de habilitação
- Contratar um plano de saúde
- Costumes que não estamos acostumados
- Curiosidades de Buenos Aires
Mas, como vim parar aqui, não é mesmo?
Da primeira vez, vim fazer um curso e tomar aulas de tango.
Já da segunda porque me casei (nos conhecemos na aula de tango, super clichê, eu sei).
Mas, de tudo isso, o melhor, mesmo, foi ter tido a sorte de conhecer um companheiro mais aventureiro do que eu. E com uma personalidade tão parecida com a minha que mesmo sendo de outro país, religião e criação nunca precisamos explicar nada.
Dizemos que antes de ser um casal, somos melhores amigos.
2 Comments
Fabi, muito obrigada, que textos ótimos e que generosidade! Sou bem como você se descreveu com a diferença de amar samba e Carnaval e odiar o calor de uma forma exagerada. Fico doente no verão do Rio, caindo pelas tabelas. Achei seu blog depois de uma viagem encantadora de 13 dias a BA (a quarta viagem pra lá) e uma vontade avassaladora de me mudar de vez. Muito obrigada!!
Obrigada você Vanessa! 😉
Se quiser ajuda para se mudar de vez é só pedir.
Boa sorte!!