Para muita gente, férias é sinônimo de diversão, ficar acordado até altas horas, ir para casa dos primos, dos avós, ir para praia, não fazer nada o dia todo, enfim: curtir os dias livres com pessoas queridas e estar no meio do povo, onde sempre acontece alguma coisa! Ou mesmo ficar em casa e não fazer nada o dia todo, vai de cada um e das suas circunstâncias.
Já os suecos têm uma ideia um tanto diferente de férias ideais, apesar de também gostarem de passar algumas horas com a família e parentes. Melhor ou pior, é difícil de julgar, mas ainda assim, é interessante analisar a diferença de usufruto das tão almejadas férias!
Quando se trata de férias ideais, aos nórdicos, muitos preferem acampar no meio da floresta, ao longo de paisagens paradisíacas longe do contato com outros seres humanos. Para muitos, estes momentos longe da civilização, vivendo da forma mais simples possível é algo extremamente necessário, sem contar que acampar é um hobby nacional e aqui há lojas especializadas com produtos próprios para atividades que vão desde pescaria a mergulho, trilha na floresta, caça ou esquiar no gelo. Os suecos amam estar no meio da natureza. Isso inclui escalar montanhas ou fazer trilhas na floresta, alugar uma casa de veraneio ao pé da montanha e passar uns dias ali, isolado do resto do mundo.
Ainda para alguns as férias (talvez não tão ideais) se resumem a trabalhos relacionados a cuidar da casa: cortar a grama com uma gelada na mão (com direito à foto para o Facebook – tenho meu cunhado de prova!), pintar os painéis da casa, trocar ou lavar as telhas, renovar o banheiro, trocar a cozinha (acho que em português seria mais “renovar” a cozinha, mas aqui eles trocam de cozinha mesmo!) expandir a lavanderia, expandir a sacada, etc. Considerando que a Suécia é um país onde muito das tarefas e serviços são feitos por conta própria, já que alocar empresas para realizarem serviços que estamos tão acostumados a pagar por eles no Brasil, aqui custaria um bocado, as famílias se dedicam a fazerem todo tipo de reparação necessária e possível em suas casas nesse curto espaço de tempo. E ainda acham tempo para descontração e uma viagem ou outra!
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Mas suecos também amam vivenciar um “verdadeiro” Verão, com sol, água salgada ou cloro e praia de areia branca. E para os que se perguntam, sim, na Suécia há praias de areias brancas, mas não o calor necessário para cair na água de biquíni e pegar um bronze. Aqui é comum ver as pessoas andando com moletons, calça comprida e suéter pela orla. Mas há sempre aqueles vikings que mergulham independente da temperatura tanto dentro como fora da água, por risco próprio.
Os chamados charters (pacotes de viagens normalmente para grupos de uma determinada região) também conhecidos por Solresor (viagens para o sol, literalmente) são extremamente populares no inverno, porém não menos populares nesta época do ano. E vai querer encontrar uma viagem de última hora com preço lá em baixo em julho… nem nos sonhos. Ninguém melhor que o próprio sueco para conhecer o verão que o seu país proporciona, logo, o jeito é se planejar com antecedência e agendar sua viagem para as terras mais quentes localizadas ao Mediterrâneo em bom tempo.
Para mim, até este ano, era abominável a ideia de gastar com tais viagens durante as férias. “Se for pra viajar para terras mais quentes, eu viajo pro Brasil, oras!”, era o que eu pensava. Claro, se não fosse pelos simples fator econômico e distância, até que meu pensamento não estaria tão longe da realidade assim… Este ano, porém, deixei o orgulho cair por terra e dissemos sim a um destes charters. E sim, nós amamos esta experiência! E sim, faríamos novamente! Há quanto tempo não sentia um calor de 36 graus e o suor escorrer pelo rosto, do nada, como que num passe de mágica, depois de caminhar 10 minutos debaixo do sol ardente!
Voltando à ideia do isolamento social, do ponto de vista brasileiro, nós sempre queremos estar perto de gente, perto de onde acontecem as coisas, do som, das cores. Isso sem querer dar alusão a nenhum estereótipo de que gostamos de bagunça ou festa, o que definitivamente não é o que me refiro neste caso. Apenas o fato de estar rodeado por pessoas é algo que faz bem a nós – a todos nós. No entanto, tenho aprendido a valorizar os momentos de tranquilidade, calma, sossego, rodeado pelo silêncio quase absoluto.
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Morar na Suécia, ou em qualquer parte deste planeta, acaba influenciando muito o nosso modo de vida, de ser, agir e pensar. Se formos maduros suficientes, essa influência acaba sendo majoritariamente positiva. E essa busca pela tranquilidade, silêncio, isolamento são coisas que eu estou aprendendo a dar mais valor e apreciar mais e mais.
Tendo em conta de que a economia desse país ainda proporciona certo conforto às pessoas não é tão incomum muitos aproveitarem suas 5 semanas de férias anuais para viajarem ao exterior, exemplo disto são os populares charters. Além destes charters, os EUA é, obviamente, uma dos destinos mais procurados nas férias de verão (junho – agosto) e Tailândia, Indonésia e o Sudeste Asiático são destinos bastante comuns no final/começo do ano (outubro – janeiro). Tanto pelo preço como pelo clima tropical proporcionado por tais regiões durante o inverno escuro e molhado de Gotemburgo, dentre outras partes da Suécia.
Para nós brasileiros já seria algo tremendo poder viajar para o Nordeste ou mesmo para o Sul do Brasil e passar uma ou duas semanas fora só curtindo o que outros estados têm para oferecer. Fato é que nossa economia brasileira não permite a muitos brasileiros realizarem seus sonhos de conhecer a Europa ou mesmo os Estados Unidos, e o que dizer o Sudoeste Asiático, mas convenhamos: o Brasil é tão imenso e com tantos lugares exóticos e praticamente inexplorados! Por quê não tirar algumas semanas para explorar as riquezas do nosso país em vez de almejar ir para Marte e se endividar com pacotes para o exterior divididos em 24 vezes sendo que, em tão pouco tempo, no final, a experiência não acaba sendo tão plena e efetiva quanto se esperaria.
Eu como uma boa brasileira morando no exterior não vejo a hora de poder planejar minhas verdadeiras férias quando voltar para casa no interior de SP e começar a explorar meu Brasil que ainda não tive tempo de explorar em meus 22 anos de vivência na terra Tupiniquim.