Dubai não é só luxo.
O único hotel 7 estrelas do mundo. O prédio mais alto do mundo. O maior shopping do mundo. Tudo aqui em Dubai tem que ser assim: o maior, melhor ou único no mundo. Mas nem tudo é coberto de ouro.
O dia a dia em Dubai pode ser tão comum quanto o dia a dia no Rio de Janeiro. A gente acorda, toma banho e depois do café da manhã vai trabalhar. Ou fica em casa. Podemos ir à academia, dar uma caminhada ou bater perna no shopping. Para isso a gente pega o metrô ou um uber. “Tudo como dantes no quartel d’Abrantes.”
Aquele frisson que nos envolve ao ver vídeos e mais vídeos no YouTube sobre Dubai não é assim tão real… Confesso que me iludi ao acompanhar diferentes pessoas em suas viagens e aventuras por Dubai e achei que, quando chegasse aqui, seria um festival de itens de luxo e carros voadores. Hoje, chega a ser engraçado ouvir da família se já estou “cheia de ouro”.
Viemos para Dubai (eu e meu marido) em setembro de 2018 através de um convite de transferência da empresa em que ele trabalha. Por conta disso, não tivemos de procurar um emprego por aqui para vivermos, mas eu ainda estou nessa saga. A forma mais comum por aqui de aplicar para uma vaga é através de plataformas onde as empresas anunciam suas vagas e os candidatos se cadastram. Coisa normal no Brasil. Mas existem algumas restrições que limitam à algumas nacionalidades para determinadas funções, como para ser babá você precisa possuir alguma das seguintes nacionalidades: Índia, Sri Lanka, Filipinas, Etiópia, Bangladesh ou Indonésia.
Para trabalhar por aqui é imprescindível que se fale inglês. Embora a língua oficial do país seja o árabe, quase todos falam inglês. É a única forma de uma população de origens tão variadas se comunicar.
Quase tudo por aqui vem escrito em árabe e em inglês. Pra quem não fala o inglês, existem várias opções de cursos, alguns mais em conta outros nem tanto. De qualquer forma, não parece haver opções para todos, o que força pessoas que não falem bem o inglês a ter empregos inferiores.
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Dubai é uma cidade construída para carros, com largas avenidas e até que não é tão caro comprar um carro por aqui. Você pode, por exemplo, comprar uma pick-up da Mitsubishi L200 0km por AED 62 mil (A vista), enquanto o mesmo modelo no Brasil custa a partir de R$ 120 mil reais.
Há um incentivo para que a população tenha seu próprio carro, mas, para que se possa dirigi-lo, é preciso que se tenha a habilitação daqui, pois a carteira de habilitação internacional vale apenas pelo período em que se é turista – no caso do Brasil, são 90 dias.
Nesse caso, há um requinte de luxo imposto à população brasileira residente em Dubai: o custo do processo de habilitação pode ficar em torno de AED 10 mil.
De uma forma genérica, Dubai é uma cidade como tantas outras. Mas, quando residimos aqui, enxergamos que e uma cidade ótima pra se conviver com tanta gente, aprendendo várias coisas novas. Tudo isso faz de Dubai uma cidade única e especial, muito boa pra se viver, formada por pessoas de todos os cantos do mundo, com variadas línguas, e múltiplas culturas. Podemos observar essas características na forma de se vestir, nas festas, nos rituais e, principalmente, na comida.
Normalmente nós pedimos comida em casa, e sempre tem alguma promoção que nos dá um descontinho na hora de fechar o pedido. Vale a pena, mas não é a mesma coisa que aquela comidinha com gosto de casa, sabe? Arroz, feijão, bife e batata frita quase tem gosto de amor de mãe.
Por aqui, embora a cozinha indiana seja muito forte também, ficamos quase sempre no tradicional: comida árabe. Na rua, uma shawarma – que é um wrap de frango ou carne desfiados com alguns legumes e molho num pão árabe – pode custar apenas AED 6 e vale por um almoço. Ao mesmo tempo, um almoço simples no shopping pode custar mais de
AED 150.
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Quando vim morar em Dubai, admito que esperava ter que me adaptar a uma vida de muito luxo, mas a verdade é que o turismo de que ouvimos falar não é para todos. É oferecido à apenas uma pequena parcela de pessoas que podem (e querem!) bancar um cafezinho no Burj Al Arab por AED 93 – que é praticamente o mesmo que R$ 93.
Pense que aproximadamente 92% da população de Dubai é formada por “não- emiratis”, ou seja, pessoas que não nasceram aqui nos Emirados Árabes Unidos. São, em sua grande maioria, indianos, paquistaneses, filipinos… Muitos que vem pra cá para trabalhar e fazer sacrifícios que permitam enviar dinheiro e ajudar sua família na terra natal. Quem dessa galera vai conseguir fazer um jantar no cinema, que custa AED 150?
Moramos numa cidade que pode atender quem tem um pouco mais de grana e quem faz sacrifícios para ajudar a família, mas as diferenças são grandes. A cidade é feita de gente, de suor e trabalho. São pessoas comuns, que pegam o metrô todos os dias para trabalhar. Tiram o final de semana para fazer um passeio no shopping e no final da noite ver o show de luzes na fonte do Dubai Mall. É claro que você pode tomar um café “folheado a ouro”, mas isso não é pra qualquer um.