Esse mês, converso com a fotógrafa Paula Ruiz, uma paulistana, desde 2014 moradora de The Woodlands, subúrbio de Houston, com o marido Luis Carlos (executivo de uma multinacional), a filha Sofia (12 anos) e a maltês Meg. A experiência de modelo de mãos e a maternidade a aproximaram do universo da fotografia, que abriu a possibilidade de conciliar empreendedorismo, arte, criatividade e o prazer de conviver com diferentes pessoas. Há quase dez anos, suas mãos deixaram de ocupar as peças publicitárias e passaram a clicar fatos e pessoas, eternizando histórias de vida.
Competente e muito requisitada pelo público brasileiro e local, nos conta aqui sua história profissional e de vida.
Meu marido, que trabalhava em uma multinacional em São Paulo, foi convidado à relocação em Houston. Ponderamos que seria uma experiência interessante para a família toda, então decidimos aceitar. Chegamos há quase três anos.
BPM-Como foi sua trajetória profissional até aqui?
Quando tinha 15 anos, comecei a trabalhar como modelo de mão, fazia trabalhos publicitários como modelo onde somente as mãos apareciam. Nesse meio, tive contato com diversos fotógrafos, grandes nomes na publicidade e, durante as fotos e as filmagens (que foram muitas), ficava sempre atenta à iluminação, ao procedimento que estava sendo usado. Mais de vinte anos depois, comecei a me preocupar com a possibilidade dos trabalhos diminuírem devido ao envelhecimento das mãos e comecei a traçar um “plano B”, ligando a fotografia com a convivência com as crianças amigas da minha filha, que na época tinha por volta de 5 anos. Fiz um curso e durante os trabalhos conversava com os fotógrafos, que me ajudavam a comprar equipamentos e aperfeiçoar as minhas fotos. Juntamente com isso, aconteceu o boom das redes sociais, que são minha maior fonte de divulgação.
Tudo se encaixou: à medida que minhas fotos iam melhorando, eu partia para um desafio diferente. Comecei com festas infantis e fui expandindo para corporativo, ensaios de família, casamentos, gestantes, crianças, recém-nascidos e a minha paixão, fotografia de nascimento.
BPM-Como sua profissão é vista aqui? O salário é melhor que no Brasil?
O americano tem como tradição registrar datas comemorativas, festas e eventos em geral, contratando fotógrafos profissionais. É comum fazer ensaios temáticos, como Páscoa e Natal, por exemplo. Outro hábito daqui é a confecção de cartões e convites com fotos da família ou do homenageado. Com isso, a demanda é maior que no Brasil, o que acaba gerando mais oportunidades de trabalho e, consequentemente, mais remuneração.
BPM-Como foi recomeçar uma carreira aqui?
A mudança para um país diferente implica em uma série de adaptações – idioma, cultura, novos hábitos e rotinas -, então planejei uma retomada paulatina. Assim como no Brasil, a indicação é crucial para captar novos clientes, então criei uma rede de relacionamentos que tem permitido um crescimento contínuo e consistente nos trabalhos para famílias – brasileiras, latinas e americanas. Agora, comecei a atuar no mercado corporativo, segmento que também cobria no Brasil.
BPM-Há alguma diferença no modo como trabalhava no Brasil e trabalha em Houston?
A principal diferença está na organização e duração dos trabalhos. Aqui a pontualidade é seguida à risca. Os ensaios têm duração predeterminada, normalmente de uma hora. As festas demandam cobertura fotográfica de até duas horas. No Brasil, os horários são mais flexíveis e os eventos, mais longos. São detalhes que facilitam muito a agenda e a logística.
BPM-Como você concilia a vida de mãe e profissional em uma cultura diferente da do Brasil, onde ajuda de fora é rara?
A sobrecarga é um grande desafio aqui. É preciso cuidar de tudo – demandas da família, tarefas domésticas, cuidados pessoais… Muito diferente da vida que tinha no Brasil, por isso nem sempre consigo manter o volume de trabalho que gostaria, preciso estar sempre alerta para não exagerar e ficar sobrecarregada. Sou leonina, tenho mania de perfeição, sei que vou exigir muito de mim em cada tarefa, então tenho que ficar atenta para não extrapolar.
BPM-Quem é o seu público-alvo? O que você mais gosta de fotografar?
Meu público são famílias que querem ser retratadas ou registrar festas e comemorações. São pessoas que acabam se tornando amigas, pois conversamos bastante a respeito das expectativas, características e perfil do trabalho que vamos desenvolver. Agora estou retomando a área corporativa, que gosto bastante também, principalmente porque dá oportunidade de conhecer várias pessoas e, na maioria das vezes, os eventos ocorrem durante a semana. Os dois segmentos me dão muito prazer, pois realmente gosto de relacionamento interpessoal.
BPM-Quais as dicas que você daria para quem quer iniciar na profissão?
É muito importante continuar estudando para se atualizar, conhecer novos tratamentos de imagem, novas locações, manter-se conectado ao universo da fotografia. É preciso estar ciente de que a profissão exige muita dedicação. Abrimos mão do convívio com a família e encaramos longas jornadas, pois ainda há um trabalho duro depois dos cliques. Parece uma profissão fácil, mas não é. A parte técnica está à disposição nos cursos e até nos tutoriais da internet, mas o que difere um fotógrafo é o olhar. É muito importante desenvolver o seu próprio estilo. E ser feliz fazendo o que gosta, pois um olhar alegre e positivo faz toda diferença!
Renata é carioca e formada em Microbiologia e Imunologia pela UFRJ, com Mestrado em Biofísica e Doutorado na Universidade da Florida. Já circulou pela Polônia, Abu Dhabi e agora está na sua terceira temporada nos Estados Unidos. Apaixonada por Ciência, integra com orgulho o time de ouro dos cientistas da Plataforma de Imunoterapia do MD Anderson Cancer Center em Houston, Texas. É autora do blog Maria aqui e ali (www.mariaaquieali.com) onde conta as suas viagens pelo mundo e a vida no Texas com a família.