Intercâmbio em Barcelona depois dos 50 anos.
O Brasileiras Pelo Mundo tem postado uma sequência de artigos sobre como fazer intercâmbio em Barcelona: Como fazer mestrado em Barcelona, Barcelona é uma cidade segura? e as diferenças entre Praga e Barcelona. No post deste mês, o BPM vai mostrar que não existe idade ideal para fazer intercâmbio. Eu fiz uma entrevista com Leila Margit que foi fazer seu mestrado em Barcelona depois dos 50 anos. Ela vai nos contar como surgiu a ideia de estudar na capital da Catalunha, quais foram os seus desafios, como lida com a saudade do Brasil, da família e o desejo de ficar em Barcelona.
Quem é a Leila?
Ela nasceu no Uruguai, mas cresceu no Brasil. Tem 52 anos e em 2016 foi morar em Barcelona para fazer mestrado em Terapias Artísticas e Creativas no ISEP (Instituto Superior de Estudios Psicológicos). Ela é uma entre outras tantas brasileiras que decidiu fazer intercâmbio depois dos 50 anos.
“Não tem idade para fazer o que ser quer…”.
Leila é pedagoga e sempre trabalhou em ONGs que realizavam projetos sociais e ambientais no Brasil. Também foi coordenadora pedagógica da Fundação Casa e teve a sua própria empresa chamada FUXICO-Arte, Educação e Meio Ambiente. Seu último emprego no Brasil antes de se mudar para Barcelona foi no projeto do governo Agente Jovem e, em paralelo, ela ensinava português para estrangeiros e dava aula de espanhol para crianças em uma escola.
As pessoas fazem intercâmbio na maioria dos casos estão na faixa dos 20/30 anos, porém cada vez mais essa estatística tem mudado. De acordo com uma pesquisa feita pelo Grupo CVC, em 2015, aproximadamente 8% dos clientes que procuram a empresa para fazer intercâmbio tem mais de 50 anos. Essa pesquisa é uma prova de que cada vez mais tabus vem sendo quebrados e que pessoas mais velhas querem fazer coisas que não tiveram oportunidade de fazer quando eram mais jovens. E também nos faz perceber que a idade não é empecilho para continuarmos correndo atrás dos nossos sonhos.
BPM – Por que você escolheu Barcelona?
Morar na Espanha nunca esteve nos meus planos. Eu vim a “convite do meu pai” que queria fazer um curso aqui, mas ele nunca veio. Isso me faz pensar que essa viagem era para mim e não para ele. Eu já estava divorciada há quatro anos, com filhos adultos, aí pensei: Por que não? Eu percebi que, naquele momento, eu precisava ficar longe e cuidar de mim.
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BPM – Por que você decidiu fazer mestrado em Barcelona?
Porque eu falo espanhol e tinha uma irmã morando aqui. Ter tido minha irmã aqui me ajudou muito, pois eu só tinha viajado para fora do país, porém nunca tinha morado sozinha no exterior. Eu também não queria ficar aqui só de férias.
BPM – Como escolheu o curso de Terapias Artísticas e Creativas?
Na época que eu dava aula, todos os exercícios que eu fazia com os alunos eu gostava de ser criativa, porque eu queria proporcionar aos meus alunos aulas que não fossem convencionais. Nunca fui de seguir currículos escolares, então inventava jogos, peças de teatro, contava histórias – usava a minha criatividade para que as aulas fossem menos chatas e as crianças pudessem aprender ‘brincando’. Bom, já era minha ideia fazer esse curso no Brasil, então aproveitei a oportunidade para fazer o mesmo em Barcelona.
BPM – Quais foram seus maiores desafios?
O maior desafio no início foi ficar longe do meu neto. O outro, foi morar e dividir um apartamento com pessoas que eu não conhecia, porque aqui, no geral, alugamos quartos. É muito caro e difícil alugar um apartamento. Porém, hoje eu estou no meu terceiro apartamento e não posso reclamar. Vivo e vivi com pessoas ótimas que agora se tornaram meus amigos.
Fiquei sem trabalho no primeiro ano e isso me incomodava muito! Entretanto, depois de alguns meses, eu comecei a dar aulas particulares de português, mas não tinha mais a rotina de trabalho diário. O quarto desafio é o segundo idioma daqui; o catalão. Na minha área profissional, infelizmente exigem o catalão, pelo menos para trabalhar em escolas ou instituições. E, por fim, um dos grandes problemas e desafios é renovar o NIE anualmente, você tem que rezar para que renovem porque não pode ficar ilegal e neste momento, aguardo a decisão do meu.
BPM – Sente saudades do Brasil?
Desde fevereiro estou sozinha. Minha irmã foi para Austrália, mas falamos sempre que ela ficou aqui o tempo que precisava para me ensinar a morar sozinha.
Não posso dizer que não sinto falta da família, amigos e dos abraços que o brasileiro está acostumado a dar e receber. Mas aprendi a diminuir essa saudade e realmente cuidar de mim. Fazer planos sem envolver terceiros, algo que nunca fiz em 52 anos. Este é o meu momento e estou muito feliz e agradecida.
BPM – O que mudou na Leila após Barcelona?
Hoje eu me considero uma outra pessoa, exatamente fazendo o caminho que eu sempre quis.
BPM – Pensa em morar de vez na Espanha?
Ficar ou não na Espanha ou Catalunha vai depender do visto ser renovado e poder trabalhar. A vontade é ficar e não voltar para o Brasil, pelo menos por um tempo.
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BPM – O que você gosta de fazer em Barcelona?
O que eu mais gosto é a liberdade de poder andar e me sentir segurança nas ruas, seja a hora que for. Sinto o prazer em andar nos metrôs, ônibus e caminhar pelas ruas tão limpas. São coisas que me chamam muito a atenção. Adoro ver como eles cuidam dos prédios históricos ou antigos, aqui nada se derruba tudo se reforma e a história não se perde. Amo Barcelona, adoro história então, me sinto no lugar perfeito. Caminho muito por aqui e tento registrar todos os meus momentos nessa cidade.
BPM – Qual é o seu conselho para quem quer fazer intercâmbio depois dos 50 anos?
Experimente, viva essa experiência, atreva-se! Sobre idade, foi algo que eu tirei da cabeça, aprendi aqui. Não tem idade para fazer o que se quer. É claro que quando você é mais jovem, é diferente, mas não é melhor nem pior. De preferência faça amigos que não sejam do seu país, isso te ajuda no idioma, conhecer outras culturas, a socializar, essa é a primeira mudança interna. Aproveite e faça bem as coisas, faça amizades, respeite o país, pois somos visitantes.
A minha experiência aqui tem sido uma das melhores coisas na minha vida. Conhecer pessoas de várias culturas, idades e aprender com cada um, não tem preço!