Hoje o BPM vai entrevistar uma brasileira pelo mundo que é missionária na Tanzania e tem feito um trabalho muito importante na África. A Ironi mora na Tanzania e mantém um orfanato para meninas e adolescentes que foram vítimas de abuso sexual, mutilação genital ou casamento precoce. Meninas quem ainda tão jovens já carregam o fardo de histórias de um passado triste, porém com a ajuda da Ironi, elas moram em um lugar seguro, estão sendo bem tratadas e aprendendo uma profissão, costureira.
A Ironi conta um pouco mais sobre o projeto e o lindo trabalho que faz na Tanzania.
BPM – Fale sobre a sua trajetória e porque decidiu sair do Brasil.
Ironi – Fui Papiloscopista por mais de 30 anos e trabalhei no Governo de Mato Grosso, dos quais 15 anos dentro do IML. Lidei com mortes violentas, violência contra a Mulher, abuso sexual contra crianças entre outras barbaridades que o ser humano e capaz de fazer, eu mesma aos 11 anos de idade fui estuprada e carreguei este trauma por toda uma vida me impossibilitando de ter relacionamentos profundos até Jesus me libertar desta dor na alma. Há 12 anos me tornei cristã e costumo dizer que * Recebi uma ordem e obedeci*, esta ordem era o IDE por todo o Mundo e pregar o Evangelho a toda criatura, me preparei para quando chegasse o momento eu pudesse cumprir a ordem, fiz cursos de Teologia e Pós Graduação em Missiologia.
BPM – Você mora na Tanzania. Por que a África e a Tanzania, em especial?
Ironi – Em 2006 eu tive uma revelação espiritual, eu cri e comecei a estudar, em 2010 eu estava na Escola de Missões quando conheci meu segundo filho, um garoto do Sudão do Sul, órfão, havia vivido os horrores da guerra e fora recolhido por uma missão Brasileira que havia no Quênia, eu naquela época já tinha uma menina também adotiva. Quando terminei a escola tinha que passar por 3 meses no Campo Missionário então eu e minha filha decidimos vir para o Quênia por 3 meses. Neste tempo só confirmou em meu coração que realmente meu lugar era na África, voltei ao Brasil pesarosa mas eu precisava concluir meu tempo de serviço para me aposentar, em 2013 fiz 55 anos de idade e completei meu tempo, me aposentei, doei tudo que tínhamos na nossa casa e viemos embora. Morei 6 meses no Quênia mas fui roubada pela pessoa que se comprometeu com o visto de residente e eu tive que sair do País para renovar o visto de turismo. Ficamos em Tanzania 13 dias e ao retornar não pudemos renovar nossos vistos porque havia uma nova lei que determinava que após 6 meses teria que sair do continente africano para aplicar novamente, então eu e minha filha fomos deportadas, proibidas de retornar para casa e perdemos tudo que tínhamos. Eu não decidi vir para a Tanzania, foram as circunstâncias, mas aqui começamos um novo projeto voltado para adolescentes e jovens em situação de risco, o único projeto nesta área aqui em Arusha.
BPM – Você ajuda meninas locais, vítimas de violência sexual, mutilação genital e casamento precoce. Fale sobre o seu projeto.
Ironi – Sim, nossas meninas são órfãs, ou vítimas de abuso sexual, de casamento precoce ou mutilação genital. Pessoas quando sabem de algum fato envolvendo meninas procuram um Pastor ou líder local e comunicam a situação, eles fazem a abordagem com os familiares e negociam, não com dinheiro mas através da promessa de que estas meninas vão estudar uma profissão e com isto ganharão dinheiro o suficiente para ajudar os pais e comprar cabras e vacas. Para os Massais a riqueza não e medida por dinheiro mas pela quantidade de cabeças de gado eles tem. Em geral logo após a primeira menstruação as meninas, segundo eles, estão prontas para o casamento, se são circuncidadas valem mais pois segundo a tradição elas serão fieis aos maridos pois não há desejo. Uma menina massai pode ser comprada ao nascer, viverá com os pais até o momento da troca, é uma cultura horrível e cruel para as meninas. A profissionalização gera independência e liberdade.
Récem abrigamos uma doce menina de 17 anos que seria trocada por gado, o possível marido tem 100 anos, que mundo e este? que cultura e esta que em pleno séc. XXI escraviza e submete crianças a uma vida desta? O mundo precisa saber disto e intervir.
BPM – Como é a sua rotina e como consegue verbas para ajudar com o seu projeto?
Ironi – Nós temos 3 linhas de atuação:
1 – Projeto Geração de Samuel que leva brinquedos, roupas, calçados para as crianças e fazemos comida uma vez por mês nos vilarejos, estudamos a Bíblia, brincamos e cozinho comida brasileira para os pequenos.
2 – Projeto Noemi que atende 24 viúvas de uma Igreja, levamos uma cesta básica de alimentos e ofertamos a cada uma delas.
3 – Nyumba Ya Bibi sebastiana (Casa da Vovó Sebastiana) a casa que da abrigo e profissionaliza estas meninas, este projeto funcionou dois anos seguidos formando a primeira turma com 6 meninas e a 2 turma com 15, a seguir fechamos o projeto por 6 meses por falta de recursos, tivemos que enviá-las aos familiares, uma delas foi estuprada na vila e retornou grávida. Nos reunimos um grupo de amigos que pagam o aluguel da casa a cada 4 meses, uma Igreja paga os funcionários que são a Professora de costura, a guardiã que mora com as meninas e o segurança noturno. Alimentos, material de costura, remédios e outros gastos eu peço ajuda no Facebook, exponho a situação e clamo por ajuda, mas vivemos no vermelho, há períodos muito apertados que tenho que diminuir a refeição delas. Nós oferecemos mingau de manhã, almoço e jantar africano e aos domingos tomam chá com pão e comem carne, arroz, feijão, quando temos recursos comem arroz e carne duas vezes por semana.
BPM – Você recebe voluntários? Se sim, explique o que você espera que o voluntário faça para ajudar o projeto? Você oferece refeição e alojamento as voluntárias?
Ironi – Nosso relacionamento com voluntários é recente, mas tivemos uma excelente experiência. No projeto aceitamos apenas mulheres devido ao passado das meninas. Precisamos de voluntárias que ensinem algo que possa reverter em lucro, qualquer trabalho que elas possam vender depois. Nós vivemos de doações então pedimos que se possível quando vierem tragam algo para as meninas, para as crianças ou para as viúvas que nos cuidamos. Quando os voluntários são alojados em minha residência preciso cobrar valores que cubram os gastos de alimentação, água, luz, internet pois sou eu e meu esposo que mantemos nosso lar e não as doações.
BPM – Como podemos lhe ajudar a continuar dando apoio as meninas locais.
Ironi – Nós buscamos apadrinhamento para cada menina no custo de 100 reais por mês, mas também começamos a buscar a sustentabilidade através de nossos esforços, começamos a costurar bolsas típicas africanas para venda e queremos também fazer roupas com tecidos africanos, mas de acordo com o gosto do resto do Mundo, o modelo africano não e vendável fora daqui, mas os tecidos são muito apreciados pela sua beleza e contraste de cores. Se alguém tiver interesse na compra em atacado entre em contato.
Também começamos a construir a Escola, e está no ponto de por madeiras e telhado, portas, janelas e fazermos os banheiros, e uma longa caminhada financeira, eu vendi uma casa no Brasil, comprei a terra e dei inicio à construção, mas os recursos acabaram. Nós precisamos fazer uma plataforma para arrecadar fundos e terminar a construção, já temos um grupo liderado pela Marisol Espinosa e Luciana Kornalelewski que fará isto, mas precisamos da divulgação que ajudará muito, por ora o apadrinhamento seria muito importante e também verba para comprarmos mais máquinas de costuras para que as meninas aprendam a costurar e se aperfeiçoem na profissão.
Asante sana marafiki yangu, karibu sana Tanzania/ Muito obrigada minhas amigas e bem vindo a Tanzania!
Missionária Ironi Ribeiro Sumary & Pastor Yona Sumary – 9 filhos, 5 cachorros e 28 meninas abrigadas na Nyumba ya Bibi Sebastiana.
Contato:
- Ironi Ribeiro Sumary
- PO. BOX. 12.150 – AT MERU – ARUSHA – TANZANIA
- +255 757 431 610 e +255 768 845 676
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1 Comment
Mundo muito louco! Que bom termos pessoas como você, Ironi, para abalssamar a vida dessas meninas e lhes dar ferramentas para serem independentes e auto-suficientes.
Muita luz no seu caminho!