Minhas experiências falando outro idioma quando fui morar na Inglaterra.
Quando a gente cogita mudar para um outro país, uma das primeiras preocupações que temos é com o idioma local. Será que vou entender o que os nativos falam? Será que vão me entender? Será que consigo um emprego com o meu nível atual de inglês (ou da língua do país de destino)? Dá para “se virar com o que eu sei” e adquirir a fluência por lá?
Essas dúvidas são as mais frequentes dos brasileiros que querem morar fora do Brasil. Acho essas preocupações bem naturais, afinal, ninguém é uma ilha e quando consideramos uma mudança de país, queremos ter certeza de que vamos conseguir nos comunicar com os outros em situações do dia a dia.
Coisas que no nosso país de origem não precisamos nem pensar em como falar, em outro país podem se tornar um desafio. Por exemplo, entender as placas de sinalização, os rótulos de produtos, os menus dos restaurantes, poder explicar aos médicos o que sentimos e entender o que eles nos receitam, fazer uma entrevista de emprego, pedir informação de onde comprar alguma coisa, etc.
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Por conta disso, muita gente faz a escolha de onde morar baseada no seu conhecimento da língua. A fluência no idioma nos permite entender e ser entendidos e também a termos uma adaptação mais suave, no meio de tantas mudanças.
Eu passei por isso há 11 anos quando me mudei para a Inglaterra. Eu vim para Londres através da empresa que trabalho e só consegui a vaga porque eu falava inglês fluente. Aprendi inglês no Brasil e sempre viajei bastante para o exterior, então meu inglês foi se aperfeiçoando ao longo dos anos. Só tinha um pequeno detalhe: eu estava acostumada com o inglês americano e não o britânico. Resultado: eu entendia muito menos do que eu pensava que iria entender e tive que acostumar meus ouvidos ao inglês britânico, aprender um vocabulário novo e me adaptar.
A grosso modo, a comparação entre os dois idiomas seria equivalente ao português do Brasil e ao de Portugal. É a mesma língua e gramaticalmente, nós, brasileiros, conseguimos entender o português de Portugal. As maiores diferenças estão na entonação, sotaques, expressões, algumas palavras do vocabulário e gírias próprias e únicas de cada uma.
Por esse motivo, os meus primeiros meses no Reino Unido foram um pouco desafiantes. Eu assistia televisão com as legendas ativadas, pedia com frequência para as pessoas repetirem o que elas falavam, usava tradutores online, etc.
Nada disso me impediu de me comunicar, trabalhar, fazer amizades, estudar, viajar, etc. Mas me gerava insegurança e uma cobrança grande em mim mesma, pois eu falava inglês fluentemente. Ou melhor, achava que falava. Mas como dizem, nada como o tempo e uma boa dose de paciência para entender que a fluência vem com o tempo e realmente os nossos ouvidos se acostumam muito mais facilmente quando estamos imersos no idioma local.
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Passados alguns anos morando aqui, eu aprendi algumas coisas sobre esse processo de “adaptação linguística” que eu queria compartilhar com vocês:
- Aprender o idioma do país de destino antes de se mudar vai te ajudar a se adaptar mais rápido e fazer com que você se sinta mais à vontade no país. Quanto mais você souber antes de se mudar, mais rápido você pode se adaptar.
- A melhor maneira de adquirir a fluência é morar no país aonde aquele idioma prevalece. É preciso realmente morar lá por alguns anos para expandir o vocabulário, para entender as sutilezas da língua, as expressões “não faladas”, a cultura do povo. Ou seja, tudo o que enriquece um idioma.
- Morar em outro país significa viver um eterno aprendizado: sempre aprendemos algo novo, seja uma palavra, uma expressão, uma gíria. É como no Brasil, apesar de sermos alfabetizados lá e termos fluência no português, não conhecemos todas as palavras e nem todos os significados. Lembro da minha avó de 90 anos que de vez em quando recorria ao dicionário em busca de uma palavra nova. Ou seja, nem morando no país por 90 anos sabemos tudo. Esteja aberto para isso.
- Evitar fazer comparação com os outros expatriados: cada um de nós tem uma jornada diferente e aprendemos de maneiras diferentes e em tempos diferentes.
- Sobre ter vergonha de falar outra língua por não falar perfeitamente: vejo muito isso acontecendo com brasileiros. Ninguém vai julgar seu inglês (ou qualquer outra língua que você fale) ou seus erros de gramática. Pelo contrário, os gringos admiram quem está tentando falar o idioma deles. Mesmo que você fale errado, fale!! Só assim você vai praticar e se aperfeiçoar.
E hoje, 11 anos depois, meu inglês é perfeito? Ainda tenho sotaque? Eu contei a minha história pessoal e os perrengues que passei quando me mudei para a Inglaterra e respondo a essas perguntas no vídeo abaixo.
Minha recomendação final é: fale, fale muito para que você possa aperfeiçoar o outro idioma e melhorar a cada dia. Encontre pessoas de outras nacionalidades que não tenha o idioma local como primeira língua, ou pessoas mais idosas que estão sempre dispostas a uma boa conversa e vá em frente!!!