Monsenhor Romero, história de El Salvador.
Desde o nome do aeroporto onde você aterriza em El Salvador até o cotidiano desse pais, esse nome é referencia onde quer que você vá: Monsenhor Oscar Arnulfo Romero.
Sua trajetória está ligada ao momento mais triste da história de El Salvador e esse fato se sublima pelo amor que uniu Monsenhor ao povo salvadorenho. Sua vida e morte foram o testemunho desse grande amor e senso de justiça.
Vamos saber um pouco mais sobre Monsenhor Romero?
Ele nasceu em 15 de agosto de 1917 na Ciudad Barrios no “departamento” equivalente ao Estado de San Miguel em El Salvador. Era o segundo filho de uma família de 8 irmãos, filhos de Santos Romero e Guadalupe Galdámez. Desde pequeno teve a saúde muito frágil e sempre estudou em escola pública, se destacando mais nas disciplinas de humanas.
Ingressou na vida religiosa aos 13 anos e completou seus estudos em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. Viveu no colégio Pio Latino Americano (casa que alberga estudantes Latino americanos) até que foi nomeado sacerdote, em 4 de abril de 1942 aos 24 anos. Em Roma foi aluno de Monsenhor Giovanni Batista Montini, futuro Papa Paulo VI.
Desde então seguiu sua carreira dentro da igreja até ser destacado para o cargo de Arcebispo de San Salvador. Nomeação essa, não muito bem vista no país, pois se esperava a nomeação do assessor direto do Arcebispo anterior. Em um clima já turbulento politicamente falando, já que nesse mesmo ano estava havendo a corrida presidencial em El Salvador, assumiu o Arcebispado de San Salvador e seu discurso foi se aprofundando cada vez mais na defesa das minorias. Quanto mais injustiças e fatos que violavam os direitos humanos ocorriam, maior era a potência e veemência de seu discurso de denúncia e defesa dos injustiçados. Através de suas homilias, fazia denúncias e incitava o povo a buscar seus direitos, mobilizando as forças internacionais em defesa de sua causa: a causa do povo salvadorenho.
Nos anos 80 Monsenhor Romero vivia em uma casa paroquial, do lado de uma igreja e de um hospital que prestava assistência a enfermos em estado terminal, mais especificamente: cuidados paliativos. O Hospital da Divina Providência existe até hoje e abriga esse trabalho lindo que continua sendo um legado vivo de Monsenhor. No local segue a casa paroquial que abriga um museu em sua homenagem e um lindo mural feito pelo artista plástico salvadorenho Fernando Llort, que também o homenageia.
Nessa linda capela, Monsenhor foi assassinado frente a um quorum missal lotado. As irmãs ampararam o Monsenhor incrédulas enquanto o atirador, impune até hoje, fugia. Existiram movimentos realizados posteriormente que buscaram elucidar o assassinato, pressionados pelos lutas a favor dos direitos humanos de todo o mundo. O fato é que hoje se conhece o nome do assassino e ele apontou algumas motivações politicas para o pedido de extermínio. O que mais choca é que nunca houve um julgamento efetivo e tampouco punição. Existem diversos documentários, filmes (Salvador, de Oliver Stone de 1986 e Monsenhor, protagonizado por Raul Júlia, de 1989) e livros sobre esse assunto para quem quiser se aprofundar.
Até uma música composta por um brasileiro, o compositor Jorge Antunes, em 1980 “Elegia violeta para Monsenhor Romero”, a obra foi pensada para dois solistas (crianças), piano, coro infantil, e uma orquestra de câmara. Dentro da obra são recitados textos de Monsenhor, parte de textos bíblicos, extratos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como textos de Ernesto Che Guevara, dentre outros. O fato pungente em minha opinião é que assim como Monsenhor, muitos outros salvadorenhos foram exterminados e estes crimes seguem sem uma explicação e sem justiça.
Foi criado nos anos 90 um movimento pró canonização de Monsenhor, pois a ele eram atribuídos muitos milagres. Esse movimento foi tomando corpo até que em 1994, o Monsenhor Arturo Rivera y Damas, nesse momento Arcebispo de San Salvador, deu entrada no processo de canonização de Monsenhor Romero junto ao Vaticano.
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Monsenhor Romero foi canonizado pelo Papa Francisco em 14/08/2018 e nesse trecho de carta enviada ao Arcebispo de San Salvador o Papa Francisco fala:
“Monsenhor Romero nos convida à candura e à reflexão, ao respeito pela vida e à concórdia. É necessário renunciar à violência pela espada e ao ódio e viver a violência do amor, a que nos deixou o Cristo cravado na cruz, a que se faz cada um de nós para vencer o egoísmo e para que não haja desigualdades tão cruéis entre nós. Ele soube ver e experimentou na própria carne, o egoísmo que se esconde naqueles que não querem ceder nada para que possam alcançar os outros. E com coração de pai, se preocupou pelas maiorias pobres, pedindo aos poderosos que se convertessem as armas em foices para o trabalho”.
Na casa onde morou está um museu sobre sua vida e história. Seus restos mortais estão em uma cripta esculpida pelo artista italiano Paolo Borghi, localizada no subsolo da Catedral Metropolitana de San Salvador, ambos estão abertos para visitação. Convido todos vocês a conhecerem essa linda história e a refletir sobre ela.