Este texto fala sobre novas tradições de Natal de expatriada.
Se você acompanha o BPM há algum tempo já deve ter lido sobre saudade. Essa palavra tão brasileira que persegue os expatriados. Para mim, a saudade vem em ondas. Alguns dias a maré está baixa. Em outros, enfrento tsunamis. O Natal é uma temporada de tsunami para os expatriados, principalmente, para aqueles que não poderão visitar a família.
Tenho cinco anos de expatriada e há três não vou ao Brasil. Por quê? Porque trabalho demais e sem folga, fiquei sobrecarregada com a coleta de dados da pesquisa, casei e as férias do meu marido não coincidem com as minhas, e por aí vai. Em um piscar de olhos, passou-se um mês. Sem que eu percebesse, passaram-se seis meses. Quando me dei conta, foram-se três anos.
Natal à distância
Estar longe de casa nunca é fácil. No Natal, a distância pode parecer maior, o que nos faz lembrar que mais um ano se passou e você não estava lá. Atualmente, temos internet e até chamadas de vídeo como Facetime para estar mais perto de quem amamos. As redes sociais nos aproximam, mas corremos o risco de ver uma realidade distorcida.
Com as redes sociais, assistimos à vida no Brasil como se fosse uma novela ou série na TV. Aguardamos as cenas dos próximos capítulos, torcemos pelos personagens e choramos quando um deles sai de cena. Novas temporadas chegam com novos personagens. Vilões e mocinhos vêm e vão. Às vezes, tudo é tão lindo e perfeito que nem parece real. Noutras, a dor é tamanha que não queremos acreditar. Morar longe pode parecer uma realidade paralela se não soubermos lidar com a saudade e a distância.
A verdade é que queremos estar lá no Brasil no Natal e em outras datas comemorativas, sem deixar de estar aqui, e isto é fisicamente impossível. Pensando nisso, ao longo dos anos (e também conversando com outras expatriadas), comecei a usar algumas estratégias para sobreviver ao Natal à distância.
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Novas tradições de Natal
Para lidar com a distância, utilizo duas estratégias. A primeira é incorporar tradições da família brasileira ao Natal da família americana. Não coloco uva passa na salada nem no arroz de ninguém, mas dou o play em “Então é Natal”, da Simone, intercalada com a versão original do John Lennon.
Uma das tradições americanas que temos é o calendário com contagem regressiva para o Natal, no qual cada dia é um chocolate. Incorporo essa tradição à decoração da casa no decorrer dos preparativos. Decoro a casa e monto o presépio – que só será desmontado no dia 6 de janeiro, dia dos três reis magos. Aqui, nos EUA, muitas pessoas montam a decoração para o Natal logo após o Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) e a retiram no dia 26 de dezembro, ou no dia 1o. de janeiro.
No dia 24, vamos à igreja, fazemos amigo oculto (ou Secret Santa, como chamam aqui). No dia 25, abrimos os presentes. Uma tradição bem americana é ir comprar a árvore de Natal no final de semana do Thanksgiving. Uma tradição brasileira que adotamos é fazer rabanadas para o café da manhã do dia 25. Mas, entre todas as tradições, a que mais tem nos aproximado é fazer doações, algo que tanto a minha família brasileira, quanto a americana fazem todos os anos.
A segunda estratégia é praticar a gratidão. A saudade de casa, principalmente no Natal, pode ser uma arma contra a saúde emocional. A impossibilidade de estar com a família e amigos nesta época do ano pode trazer tristeza. É fácil esquecer a luta e a dedicação para estar aonde estamos, mesmo que isso signifique sacrificar datas comemorativas. Praticar a gratidão ajuda nestas horas. Não é fazer barganha emocional, é realmente ser grato pelas pequenas coisas, como ter saúde e não estarmos sozinhos. E, finalmente, gratidão porque toda dedicação e trabalho deram certo e, agora, você está vivendo o sonho de morar fora do Brasil.
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Saldo positivo da gratidão
Praticar a gratidão conforma e misturar as tradições conforta, mas é claro que não reduz a distância. Nestas horas, então, vale a pena relembrar o que te fez mudar e ter a certeza de que a matemática da vida está com saldo positivo. Se não estiver, não vale a pena ficar longe de quem te ama.
Se o seu saldo é positivo vai ficar tudo bem, apesar da distância e da saudade. Até porque, morar em outro país não é sinônimo de exílio. Valorize cada pequeno momento. Aproveite os recursos que você tem e veja que a gratidão é maior, muito maior que a saudade. Por exemplo, estamos longe, mas podemos ver quem amamos todos os dias graças à tecnologia. São estes pequenos privilégios que nos fazem seguir em frente surfando a tsunami da saudade.