O Festival do Barco do Dragão (Duānwǔ Jié) é uma das mais importantes e tradicionais datas festivas para os chineses. A celebração ainda chega a ser lembrada não só na China, mas se estende a alguns outros países da Ásia, como Japão, Malásia, Singapura e Vietnã, por exemplo. A data em que se comemora não é fixa pois depende do calendário chinês que varia sempre, mas a época cai mais ou menos entre os meses de maio e junho.
Vou contar um pouco da lenda desse feriado, mas já venho ressaltar que existem diferentes versões, trago aquela que eu ouvi dos meus avós; diz a lenda que no séc III a.C, havia um poeta e funcionário de alto escalão chamado Qu Yuan que cometeu suicídio se afogando no rio Miluo, após a derrota na batalha contra os inimigos do Estado Qin, por medo de rejeição e desprezo por outros.
A população local ao saber da notícia do suicídio, correu para tentar salvar o poeta Qu, todos tinham muito respeito por ele e foram em barcos alongados (na época já eram construídos com o formato do corpo de dragão), remando rapidamente a fim de chegarem a tempo, porém a tentativa foi em vão. Não obstante, os habitantes tiveram a ideia de baterem os remos na água e jogar bolinhos de arroz glutinoso enrolados em folhas de bambu a fim de afastar os peixes do corpo, impedindo assim que o corpo do poeta fosse devorado. E foi assim que nasceram os 2 costumes mais importantes dessa data, que são a corrida dos barcos de dragão e o consumo das pamonhas salgadas (bolinhos de arroz glutinoso enrolados em folhas de bambu).
Aqui em Macau os costumes são os mesmos. Vou contar um pouco das características de cada um dos dois. Primeiramente sobre as competições das corridas de barco do dragão, acho que os leitores já devem ter visto em algum lugar, seja na TV ou na internet, umas pessoas sentadas enfileiradas em barcos longos, e uma pessoa na ponta de frente do barco tocando um tambor como forma de incentivo através do ritmo para a galera permanecer remando.
Todos eles além de ágeis precisam ter muita sincronia e persistência para isso, o exercício é considerado aeróbico e anaeróbico pois exige muita agilidade, velocidade e resiliência. Aqui em Macau, a época que acontece o festival é no verão e o clima é intenso de muito calor e umidade. Eu particularmente passo mal só de pensar na galera remando que nem doidos debaixo do sol escaldante, mas mesmo assim tem muita gente que participa e acha super legal. No meu trabalho por exemplo, tem até uma equipe do barco do dragão e eles participam todos os anos para tentarem ganhar as competições concorrendo com as equipes de outras companhias.
O segundo costume é o consumo das pamonhas, eu chamo de pamonha porque o formato dela é igual ao da nossa pamonha de milho, porém o conteúdo é totalmente diferente, a base principal é o arroz glutinoso, e pode ser doce ou salgado. O doce eu não curto muito, pois o arroz fica com um gosto, digamos, meio alcalino, uns vêm com pasta de feijão doce por dentro e outros não, os que vêm sem pasta de feijão doce, as pessoas cortam um pedaço e mergulham numa espécie de xarope de ácer, tem muita gente que gosta muito. Agora o salgado, que é o meu amor maior, pode ser de vários tipos também. Têm uns que só vem com carne de porco dentro, uns com carne de porco e gema de ovo salgado de pato, uns com carne de ovo e frutos do mar seco e o meu favorito é o que vem com duas gemas de ovo salgado de pato e carne de porco. Gente, essas comidas são super calóricas, uma pamonha possui 500 calorias e equivale a um prato de comida, se for comer a pamonha, não precisa mais almoçar ou jantar mas, que é gostoso, é! Muito gostoso.
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Eu lembro da minha avó me mostrando como se faz: ela dobra a folha de bambu de um jeito que forma um cone, então ela coloca o arroz glutinoso ainda cru (no mercado vende esse tipo de arroz), adiciona carne de porco e a gema de ovo salgado de pato e depois coloca mais um pouco do arroz por cima, fecha com a folha de bambu e amarra com os filetes de folha de bambu. Depois é só cozinhar em banho maria por umas horas.
Olha, como é feito o ovo salgado de pato eu vou contar em outro artigo numa outra oportunidade. Por hoje é só sobre o Festival do Barco do Dragão mesmo, agora vou lá comer a minha pamonha!
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