Dando sequência ao assunto que iniciei no mês passado, continuaremos apertando na tecla do networking. Criar conexões é de extrema importância para a integração numa nova cultura. Já apresentei três dicas que, a meu ver, podem fazer a diferença entre arranjar um emprego e O emprego, se é que me entendem. Como em qualquer lugar do mundo, oportunidades não baterão a sua porta. Em todos os casos, você precisa ter iniciativa. Mas quando a porta se abre, a gente faz o quê?
Prepare-se para criar uma boa impressão
No final do último artigo, eu mencionei que resolvi ir conhecer uma vice-presidente de uma grande empresa de consultoria em TI de Québec cujo currículo me chamou a atenção. Pois bem. Assisti a conferência dela e no final ela deixou um e-mail de contato. Só que eu sabia que o ideal era me apresentar pessoalmente e não por mensagem. Esta foi minha primeira abordagem real e, apesar do receio de como ela poderia me receber, resolvi encarar a situação.
Para minha surpresa, ela foi super receptiva, me deu seu cartão profissional e me pediu para escrever marcando uma reunião no escritório dela. Voilà! Abrimos a porta apenas alguns dias depois desse encontro. Vejam, ela é uma pessoa super ocupada, não tem tempo a perder. Logo, o mínimo que eu podia fazer era me preparar à altura. Teria apenas 30 minutos para causar uma boa impressão.
Preparei uma apresentação em PowerPoint onde apresentei meu CV de uma forma diferente, mostrando as habilidades e competências que eu havia desenvolvido e que me qualificavam a ocupar um posto que possuía vagas em aberto na empresa. Mostrei minha proposta de valor e até minha visão futura de carreira. Também estudei sobre a empresa para mostrar que tinha uma ideia de onde estava me metendo. Tudo isso em 15 minutos e usando meu IPad para a apresentação visual. Ela certamente não esperava por isso e no final falou: Je vous aime. Ou seja, ela gostou de mim. O que ela se propôs a fazer foi me ajudar a estruturar meu CV no modelo da empresa e ficar atenta a oportunidades de projetos que poderiam estar alinhadas com meu perfil. Ela foi muito franca ao dizer que de nada adiantaria me contratar sem ter um projeto no qual eu pudesse ser imediatamente inserida.
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Não foi nessa empresa que comecei minha carreira de gerente de projetos no Canadá. Mas o apoio que essa mulher me deu foi algo de outro mundo. Ela compartilhou o próprio CV comigo, analisou o meu quando ficou pronto, pediu opinião de outro associado e fez várias sugestões de melhoria. Ainda ambiciono trabalhar com ela, mas por esse empurrão inicial serei eternamente grata.
Acredite no seu potencial
Como mencionei anteriormente, a motivação e o moral nem sempre estão elevados nessa busca pela primeira colocação profissional. A gente ouve muitos nãos, assim como várias histórias nada animadoras de pessoas que vão colocar você para baixo. A melhor coisa que podemos fazer com o tempo livre que temos nesse momento é investir em autoconhecimento. E aqui me refiro ao investimento de tempo e energia, não necessariamente de dinheiro.
Recomendo a leitura de um livro que me ajudou muito a pensar sobre mim mesma, meus interesses, meu diferencial e minha abordagem para conseguir um emprego. Ele se chama What color is your parachute?escrito por Richard Nolles. Esse livro é revisado e reimpresso a cada ano para seguir as tendências de carreira e estratégias de busca por emprego. Não sei se ele existe em português, mas fica aqui uma recomendação que fez muita diferença para mim.
O livro sugere vários exercícios práticos que nos ajudam a entender primeiramente qual é o nosso porquê para aí definirmos a melhor forma sobre como nos aproximaremos do nosso propósito. Não é um livro focado em como escrever o seu CV ou que palavras usar para impressionar um recrutador. É claro que existe a possibilidade de a pessoa optar por uma buscar mais passiva e reativa, simplesmente enviando CV, fazendo novena e esperando que o telefone toque. Só que se você quer mais, então precisa fazer mais e se destacar além da pilha de CV que as empresas recebem todos os dias.
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Olhe para trás e reveja seu percurso. Identifique suas forças e suas fraquezas. Entenda que tipo de empresa definitivamente não funciona para você. Calcule quanto você vale, afinal, numa entrevista de emprego vão lhe perguntar quanto você quer ganhar por ano. Resumindo: quanto mais você souber sobre o que você quer, mais objetividade e determinação você irá transmitir às pessoas que podem vir a lhe contratar.
Seja cara de pau para vender o seu peixe
Favor atentar para a ordem das instruções dadas acima. Primeiro: ACREDITE no seu potencial. Segundo: SEJA cara de pau para vender o seu peixe. Inverter a ordem pode não dar muito certo, pois no dia a dia o que você fizer deverá estar alinhado com o que você disse.
A um certo ponto da minha busca, eu resolvi atirar nos peixes grandes. Ou seja, ao invés de buscar oportunidades para encontrar recrutadores, eu resolvi ir nas pessoas lá de cima da cadeia alimentar: diretores, vice-presidentes e até presidentes das empresas que me interessavam. O meu raciocínio foi: se o manda-chuva gostar de mim, não vai ser a pessoa do RH que vai bloquear o processo.
Estou atualmente na segunda empresa canadense. Nos dois casos eu entrei em contato com os presidentes. Criei oportunidades de me apresentar, fui convincente no meu discurso e eles me colocaram em contato com as pessoas que iriam bater o martelo definitivamente. Felizmente, o veredito foi positivo e isso fez com que eu pudesse recomeçar minha carreira no Canadá.
Meu ano sabático até conseguir um emprego durou 13 meses. Durante todo esse tempo, eu plantei o que gostaria de colher quando meu processo de residência permanente estivesse concluído. Meu plano A, B e C eram todos o mesmo: ser gerente de projetos. Eu consegui não foi por sorte. Espero que essas dicas o ajudem a conseguir o que desejam também. E para isso, é fundamente saber o que se quer.