Com passar dos anos, a gente vai se acostumando com a distância, com a ausência e a saudade. A gente se acostuma também com o novo lugar que agora moramos, e, aos poucos, vamos entendendo que ali é a nossa nova casa – seja pelos próximos seis meses, seis anos, ou por uma vida inteira. Ficamos ausentes em momentos importantes de pessoas que amamos, nosso coração às vezes se machuca, mas seguimos e vamos nos cicatrizando.
Ficamos mais fortes, apesar de tantos quilômetros que nos separam do nosso país natal, dos nossos pais, irmãos, avós, tios e amigos. Conhecemos novos lugares, novas pessoas, nos apaixonamos, casamos, adotamos um cachorro, temos nosso primeiro filho. Vamos construindo a nossa vida e fincando raízes em países e cidades que serão o nosso novo lar. Vamos buscando nossa felicidade a cada ano que passa, longe do Brasil, trazendo nossos amores para perto, e também indo ao seu encontro.
Nesse vai e vem de semanas e meses que demoram a passar para uns, ou passam rápido de mais para outros, o Natal chega e, com ele, mais esperança de um ano melhor que está por vir. Aquela época em que a alegria toma conta de cada cantinho da nossa casa, independente da religião. Procuramos pelos primeiros enfeites, talvez melhores ou não dos que os que comprávamos no Brasil. Florimos a casa com Bico-de-Papagaio, bolas natalinas, bonecos de Papai Noel e ainda não decidimos bem qual o tamanho ideal da primeira árvore de Natal na nossa nova casa, longe do Brasil. Pensamos em cada decoração, mas o que queríamos mesmo era o abraço da nossa família para compartilhar, juntos, esses momentos. Procuramos pelas receitas da região, mas também fazemos questão de ter a rabanada (não sem antes pedir a sua mãe e avó aquela receita que só elas sabem fazer), o peru, o bacalhau, o salpicão de frango e, para os que gostam, o arroz natalino com muitas uvas passas, para lembrar o gostinho de São Paulo, Minas, Salvador, Floripa ou do Pará. Adoramos o ventinho frio ou a neve caindo do lado de fora do nosso novo apartamento, mas sentimos falta do calor de nossos amigos e família reunidos em volta da piscina, na noite do dia 24.
Enchemos nossa casa de amor. Às vezes, enchemos ela com a nossa família vinda do Brasil. Às vezes não – e, assim, fazemos o Skype transformar nossa ceia de Natal em uma celebração com fusos horários malucos, mas compensador, com beijos enviados pela tela do computador. Sabemos que neste ano não vai ter o tradicional amigo-secreto/amigo-oculto, mas terão as celebrações locais – fazendo-nos recordar dos motivos de estarmos longe do Brasil e amarmos tanto estar imersos em culturas tão diferentes da nossa. Saborear um Christmas cracker, no Reino Unido; o delicioso prato Gourmet na Holanda; os turrones na Espanha; os saborosos Pepperkake, na Noruega; comer baklava na Turquia ou na Grécia; enfeitar a casa com as botinhas decorativas de Natal no Canadá; as feirinhas de Natal em Colônia, na Alemanha; as Posadas Navideñas no México; passear pela Fifth Avenue toda decorada, em Nova York; ver as luzes na Orchad Road, em Singapura; tomar uma boa Julebryg, na Dinamarca; ou tomar um glögli, na Finlândia; passear no Mercado de Natal em Gamla Stan, na Suécia; ou comprar (muito) no Boxing day, na Austrália. Cada detalhezinho local que nos faz gostar ainda mais de onde estamos, mesmo longe do Brasil.
No nosso primeiro Natal longe de casa, percebemos as nuances de cada lugar, comparamos preços, costumes e sabores. No nosso primeiro Natal longe de casa, imaginamos nossas famílias reunidas na mesa, que hoje reúne pessoas falando diferentes idiomas. No nosso primeiro Natal longe de casa, tentamos preservar muitos dos costumes brasileiros. No nosso primeiro Natal longe de casa, estamos gratos por estarmos onde estamos, e termos chegado onde chegamos. Nos Natais seguintes, sabemos que, aos poucos, estaremos construindo nossos próprios costumes, com misturas de culturas, pratos e celebrações – e claro, com aquela pitada de brasilidade.
Com o passar dos anos, a distância não dói tanto e a saudade se torna a lembrança boa de se ter vivido momentos memoráveis nas terras tupiniquins. Nossa casa mundo afora passa ser, de fato, a nossa casa. Se o primeiro Natal longe do Brasil a gente nunca esquece, os seguintes passam a ser em nosso novo lar, e já não mais estamos longe.
Espalhamos as fotografias pela casa, fazemos nossos pratos favoritos e pedimos ao Papai Noel para que nos dê saúde e nos traga felicidade, por estarmos seguirmos nosso sonho realizado de morar fora do Brasil.
Que o seu primeiro Natal longe de casa tenha sido iluminado, com as pessoas que você ama por perto (física ou virtualmente), com os pratos que você mais gosta (locais ou brasileiros) e com o coração sorrindo por, mesmo longe do Brasil, estar construindo o novo lar para chamar de seu. Feliz Natal! Feliz Navidad! Merry Christmas! Buon Natale! Joyeux Noel! Bon Nadal! E um maravilhoso 2018!
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2 Comments
Mariana, obrigada pelo tocante artigo. Muito real pra mim vivenciando meu segundo Natal na Dinamarca. Um Ano Novo cheio de esperança e equilíbrio emocional, que possamos enfrentar nossos desafios transformando-os em oportunidades. Que venha 2018!
Oi Simone, te desejo o mesmo. Seguimos firmes, sempre, buscando nossos sonhos. Um excelente 2018 pra você! Beijos