Sabemos que a cultura de um país é a forma de pensar e agir de seu povo, e a diferença de culturas pode alterar o sistema de governo, de administração, da sociedade e etc. Percebi muitas dessas diferenças desde que cheguei na Bélgica, a visão diferente de como fazer as coisas, a forma de perceberem a praticidade.
Quando cheguei, achava tudo muito complexo, as coisas aqui seguiam um processo mais longo, mais burocrático. Ao contrario de nós brasileiros que adoramos pegar o caminho mais curto para resolver os problemas, para os belgas prático nem sempre quer dizer, fácil.
Mas hoje, conhecendo um pouco melhor a maneira de se fazer as coisas no país, entendo essas diferenças e algumas delas comemoraria se fossem copiadas no Brasil. Por isso resolvi apontar os 5 momentos em que, em meu ponto de vista, os belgas deveriam ser copiados:
Administração publica via Comunes
Aqui na Bélgica cada cidade (ou grupo de cidades) é administrada por uma comune, elas funcionam como prefeituras que administram e organizam quase todos os serviços aos cidadãos. Ninguém precisa ir em vários lugares para fazer todos os seus documentos, do registro de nascimento até a grama da rua que precisa ser cortada, aqui está tudo concentrado nas Comunes. Quando alugamos uma casa, temos por obrigação registrar nossa moradia na Comune da cidade, e recebemos a visita de um policial de bairro para verificar se tudo esta ok. De inicio parece um inconveniente, mas se pensarmos bem é mais seguro e eficiente desse jeito.
Leia também: cidadania belga
Número Nacional
Outra coisa que eu adoraria que fosse levada para o Brasil, é o registro nacional. Aqui todo cidadão devidamente legalizado recebe uma carteira de identidade, como um cartão de banco, com foto e todas as informações básicas e nele, um numero nacional que carrega todas as suas informações civis, sociais e até profissionais. Esse número é tudo que você precisa, no hospital, na escola, no trabalho, nos serviços sociais, tudo num único numero, num único documento. A gente nem precisa perder tempo confirmando endereço, está tudo lá, isso é pura otimização de tempo!
Compreensão de que tudo tem um custo
Esse talvez seja o ponto mais delicado para nós, no Brasil temos os direitos básicos assegurados por lei, saúde, segurança, educação, lazer, tudo é gratuito, mesmo que na pratica não o seja. Deixando os problemas políticos de lado, o governo no Brasil oferecendo os serviços gratuitamente não dá conta de garantir a qualidade destes serviços para toda a população, o resultado a gente vê sempre que vai a um hospital ou um estabelecimento publico.
Aqui tudo tem um preço. Quase não existe serviços gratuitos, nem os obrigatórios. De fazer um documento a coletar seu excedente de lixo, tudo é pago! E é aí que percebo a diferença entre nós brasileiros, e os belgas. Aqui as pessoas já sabem disso, estão habituadas a isso. Elas sabem que se querem um atendimento médico de qualidade por exemplo, terão de pagar por ele e não sofrem por isso, não se indignam e tão pouco se revoltam.
Claro que existem serviços gratuitos, assistência social, mas a maioria dos cidadãos belgas preferem pagar pelos serviços e deixar a gratuidade para aqueles que realmente precisam.
Não conheço um belga, que por opção (não necessidade) escolhe usar serviços dos hospitais públicos. Pode soar um pouco esnobe para a gente, mas isso é totalmente natural para eles, é cultural! E funciona, porque já ouvi brasileiros que recorreram a esses hospitais, e que garantem que o atendimento é impecável.
A conta é simples, demanda menor, qualidade maior!
Direitos do consumidor
Já vi inúmeras reportagens no Brasil que vangloriam o nosso “cartilha de direito do consumidor”, até dizem que no mundo, é a mais completa. Entretanto, você alguma vez precisou recorrer ao Procon para reclamar um desses direitos? Se sim, você sabe que quando funciona, é demorado e incompleto.
Fazer valer os direitos de uma simples troca de peças numa loja é difícil e, muitas vezes, constrangedor com tantos olhares de julgamento. Não é verdade? Mas no final das contas, acaba sendo um monte de direitos inúteis, porque simplesmente não são aplicados de fato.
Bom, na Bélgica nunca soube de nenhuma cartilha de leis específicas ao consumidor, mas os consumidores tem um único direito que é de fato aplicado, o direito de se arrepender de uma compra. Aqui se você compra e se arrepende, tem de 7 a 15 dias (dependendo do estabelecimento) para devolver e pegar seu dinheiro de volta. E não precisa dar desculpa nenhuma, é tranqüilo e sem constrangimento, o atendente nem vai virar os olhos para você!
Valorização na educação
O que me chama a atenção no sistema educacional da Bélgica não é a qualidade das escolas na Bélgica, elas são ótimas, mas tem alguns pontos negativos também. O que é admirável é a atenção, a importância dada a educação aqui.
O estimulo e o esforço do país para a educação é realmente incrível, e tanto para as crianças, quanto para os adultos e idosos.
São inúmeros cursos oferecidos para os mais diversos interesses, a um preço justo e para aqueles que estão a procura de emprego ou inscritos nos programas sociais, os cursos são gratuitos. Na cidade onde vivo, temos disponíveis cursos de francês, neerlandês, inglês, espanhol, fotografia, desenho, libras e nos mais variados níveis. Se qualquer cidadão busca capacitação profissional ou simples ocupação, ele tem de maneira justa e acessível.
Leia também: onde morar na Bélgica
Divido a sala de aula de inglês com gente de 20 anos e com gente que já passou dos 60. Tem aqueles estudando para entrar no mercado de trabalho e aqueles que estão só “ocupando a cabeça”. Isso me faz ver gente mais bem preparada não só para a vida profissional, mas também para enfrentar o tédio, as dificuldades e os preconceitos que vem com a aposentadoria. É gente feliz, ativa, se sentindo mais valorizada nesse sociedade cada vez mais caótica.
Claro que isso não faz da Bélgica o melhor lugar de todos e nem é de longe as únicas coisas boas que vi na Bélgica, são só alguns fatos que unidos a outros fizeram da Bélgica um país economicamente e socialmente mais justo!
À Bientôt!