De malas prontas para ir para a Bélgica, a ansiedade era tanta, que nem as incertezas tiravam da minha mente algumas perguntinhas: Do que eu mais sentirei saudade? O quê mais vai me fazer falta? O que vou fazer quando a saudade apertar?
Claro que em primeiro lugar, na minha escala da saudade, estava a família, os amigos, a minha cadela. Desses aí não adianta, é sempre um vazio, uma pontada no fundo do coração, um nozinho na garganta quando a gente se lembra ou quando vê uma foto na rede social.
Mas em segundo lugar estaria a comida, aquele produtozinho de beleza genuinamente brasileiro, e aqui descobri que isso não era nem de longe, a única coisa que sentiria falta. A verdade é que passei a sentir falta de tudo, do óleo corporal hidratante ao tablito comprado na padaria da esquina, tudo me fazia muita falta. E graças à distância, a saudade dessas coisas aparentemente insignificantes, se torna quase que, insuportável. Isso porque a distância potencializa a saudade, e a vontade também!
Uma dica que todo mundo que deixa o Brasil recebe, é de que é melhor evitar o contato com outros brasileiros no país de destino, dizem que a adaptação é menos difícil quando se faz isso. Eu até que tentei, mas quando a saudade aperta, não tem nada mais gostoso que um papo atoa com um brazuca, de preferência, alguém que entenda sua agonia.
Você chega no país e não vê nada (NADA!) de familiar, a arquitetura é diferente, as placas de sinalização são diferentes, até a cor do céu é diferente. Você não ouve e não vê nada no seu idioma, vai ao supermercado e não conhece quase nada nas prateleiras, é quase desesperador! Eu evitava até dar uma volta no quarteirão sozinha porque tinha medo de me perder, afinal, eu não conseguia nem ler as placas nas ruas (experimenta ler e fixar um nome de uma rua em neerlandês), um sufoco! E olha que eu contava com a ajuda da família do meu marido, que apesar de viver na Bélgica a muitos anos, é toda portuguesa, imagina para quem chega sozinho sem conhecer e entender nada e pior, sem ninguém para ajudar!
A minha falta de referência brasileira era tanta, que me lembro da emoção que senti quando numa loja ou no supermercado, ouvia alguém falando em português. Era meio, mágico!
Manter contato com outros brasileiros pode até atrapalhar um pouquinho na adaptação, mas cortar toda a sua referência, também não facilita e nem ajuda em nada. Pelo menos para mim! Bendito seja cada brasileiro que me indicou ou me deu dicas por aqui, graças a eles, fui aprendendo e moldando os meus costumes e hábitos a vida aqui na Bélgica. Graças a eles, descobri que para quase toda saudade, há uma solução (ou uma substituição).
A Bélgica é um país com uma comunidade brasileira bem grande, e por isso, encontra-se aqui muitos “mercados” brasileiros, onde a gente encontra quase tudo que se come e que se consome no Brasil, ou coisas que pelo menos, substituam os nossos hábitos e comidas brasileiras.
Às vezes nem acredito nas coisas que se é possível encontrar por aqui: arroz, feijão, farofa, piquí, pamonha, sonho de valsa, ouro branco, pimenta, sazon, goiabada, cachaça e mais uma infinidade de produtos tipicamente brasileiros, até aquele produtos de beleza que você só comprava com uma colega revendedora você encontra a venda por aqui, se não encontra no mercado, pergunta no grupo na rede social que tem uma galera usando essa ferramenta para oferecer produtos e serviços bem brasileiros.
Claro que as vezes o sabor nem sempre é o mesmo, e os preços não são muito atrativos, já cheguei a encontrar produtos que no Brasil pagaríamos menos de R$ 5,00 e aqui pagamos o dobro, e em euros. Um absurdo é verdade, mas de vez enquando só para matar a saudade, vale a pena!
Mas nossa saudade nem sempre é de bens de consumo né? Tem a música, a dança, a cultura religiosa, as festas de Natal, réveillon, festa junina. Tudo isso faz falta ao quadrado quando se está fora, mas calma que até para isso tem solução!
É surpreendente a quantidade de cantores que fazem shows por aqui, temos festas e festivais musicais que já entraram para o calendário belga. Tudo organizado por empresas daqui. Cultos e palestras com pastores famosos e que seriam difíceis de assistir no Brasil, as igrejas daqui organizam, e com a vantagem de ser bem mais acessível devido a quantidade de pessoas que procuram. Encontrei aqui associações e entidades de promoção social que oferecem eventos de arte, dança e música como, exposições, bailes, cursos e workshops, tudo para promover a nossa cultura. Brasileiro dá sempre um jeitinho para tudo.
Então se você é brasileiro e está na Bélgica se sentindo meio distante e com saudades da sua cultura, do seu Brasil, comunique-se. Tem sempre um brasileiro perto de você, disposto a te dar uma dica e/ou indicação para te ajudar a matar a saudade de casa. Já pensou juntar os brasileiros e fazer uma ceia de Natal “a brasileira”?
Tudo bem que eu ainda não encontrei o meu bom e velho tablito, nem um substituto para ele, mas já encontrei tanta coisa aqui nessa Bélgica, que não dá nem para acreditar, o importante é não perder a esperança, brasileiro não desiste nunca.
Se você está de malas prontas para a Bélgica e tem aquele “medinho” ou dúvida do que te fará falta, fique tranqüilo! Porque como disse e vou repetir: aqui para quase toda saudade há uma solução, ou uma substituição!
Deixe espaço no seu coração, somente para a saudade das coisas que não se podem comprar, para essas coisas, infelizmente ainda não encontrei nem solução, nem substituição. Essa a gente carrega sempre, deixa guardada até a próxima viagem de retorno ao Brasil, e quando esse dia chegar, aposto, que você saberá aproveitar muito mais!
À bientôt!
5 Comments
Faltou vc mencionar algo bem importante, em que parte da Bélgica se encontram as comunidades e os mercadinhos brasileiros, pq eu moro nos flandres e aqui não acho nada!! Acredito que seja na valônia.
Olá Melissa, obrigada pelo seu comentário. Realmente não mencionei os locais pois não conheço todos e seria injusto mencionar um e deixar os outros de fora. Mas são na Wallonie mesmo, conheço muito pouco da região Flaman. Os que conheço estão todos na região Bruxelloise, mas sei que há em Anvers. Se quiser, deixe seu contato que posso tentar pesquisar e se encontrar te passo alguma informação. Valeu?!
Oi Bruna!!
Vou fazer 1 mês de treinamento em Turnhout, estava pesquisando e vi que nessa região de Flandres se fala muito inglês, mais que na região Sul e isso me tranquilizou bastante.
Nunca fui para Europa e estou atrás de dicas e informações importantes para ter uma estadia tranquila. Você tem alguma dica para me dar? Conhece algum brazuca que mora por lá? Muito obrigada!
Olá Bruna, quando cheguei passei um tempo na região flamand, mas adotei para viver a região da Wallonie. Sinceramente conheço pouco da região flamand. Realmente falam muito inglês, mas de verdade, eles preferem que o estrangeiro experimente o neerlandês. Tenho uma amiga na parte flamand, mas não esta próxima a você, ela diz que em algumas comunnes, na entrada, já colocam o aviso de que lá só falam neerlandês. O inglês é super bem-vindo aqui, mas só em estabelecimentos comerciais e para turistas, depois de um tempo morando, rola um “preconceitinho” se vc não aprender o idioma kkkkk. Mas nada de grave! Boa sorte e obrigada pelo contato ?
Olá Bruna!! Caí de para-quedas nos seus artigos sobre a bélgica, país para o qual quero partir. Parabéns por todas as linhas traçadas em todos os seus artigos(sim,li todos!!!) são, de verdade, muito bons, de fácil compreensão, leves e verdadeiros. Se ainda estiver na Bélgica, continue enviando postagens nas redes sociais. Saúde e paz!!