Os Comandos: A elite do exército português.
Dia 29 de junho comemora-se o dia dos Comandos, a elite do Exército Português normalmente reconhecida por sua boina vermelha.
Os Comandos nasceram como uma força especial de contraguerrilha. Era uma necessidade do Exército Português durante a Guerra de Ultramar (1961 e 1974), para enfrentar esse tipo de guerra não convencional cuja principal estratégia é a ocultação e extrema mobilidade dos combatentes guerrilheiros.
A história dos Comandos portugueses começou em 1962, quando em Zemba, (Angola), foram constituídos os primeiros seis grupos que seriam a gênesis dos Comandos.
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Os Comandos são uma Tropa Especial com treino avançado e elevado estado de prontidão, razão pela qual lhes são designadas missões extremamente complexas e de alto risco, seja em território nacional ou estrangeiro desde a sua reabertura em 2002 com atuações no Afeganistão (2005), Iraque (2015) e República Centro Africana (2017).
No contexto Português e Europeu a finalidade dessa tropa especial é “dotar os Altos Comandos Políticos e Militares de uma força capaz de realizar operações irregulares em resposta às crises de ataque em profundidade na área da retaguarda do inimigo, operações aeromóveis, contra insurreição, combate ao terrorismo, força de intervenção no âmbito da segurança da retaguarda, operações de apoio à paz, operações humanitárias com prioridade para operações de evacuação de não combatentes, de cooperação técnico-militar e de interesse público”.
Para frequentar o curso de Comando, o militar deverá passar com sucesso nas provas médicas, psicotécnicas e físicas. Podem ser militares oriundos de outras unidades militares do exército (ou unidades internacionais em ações de coligação) e de qualquer arma ou serviço. Porém, são majoritariamente oriundos das suas recrutas internas.
O treinamento em que o militar é submetido para se tornar um Comando, exige o exercício de controle do emocional e do físico. É um treinamento exaustivo que leva o militar ao limite de suas condições e visa transformá-lo em um militar autodisciplinado, extremamente competente e eficaz em combate, apto para lutar em quaisquer situações e condições adversas e capaz de sobreviver no campo de batalha mesmo sobre altíssima pressão psicológica.
O candidato à Comando passa por uma seleção de 3 etapas que consistem em testes médicos, aptidão física e psicotécnico. Após aprovado nas etapas anteriores, o candidato realizará um estágio de preparação de 3 semanas para que consiga iniciar o curso de Comandos. Durante o curso, o militar em formação, poderá ser eliminado da instrução ao término da fase individual e de equipe antes e depois do exercício operacional. A exigência de suas habilidades é tão intensa, que ele poderá ser eliminado não só nestas fases, mas a qualquer instante e até mesmo antes da cerimônia de imposição de insígnias comando.
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A personalidade do militar também é avaliada e ele deve revelar que possui caráter, lealdade, determinação, camaradagem e elevado espírito de sacrifício. “Essas qualidades serão lapidadas através da instrução exigente e rigorosa, permitindo obter o máximo rendimento do militar Comando”.
Um Comando deve ter ações louváveis e predileção para superar-se dia a dia, tal qual os heróis da Ilíada de Homero.
A formação para se tornar boina vermelha, está fundada na prática e no realismo, assentando-se na aquisição e na aplicação de conhecimentos. O curso termina com um exercício em ambiente externo que pode durar entre 12 e 18 dias.
A maior característica dos Comandos é a preparação psicológica e o treino. A maior arma daquele que ostenta a insígnia Comando, é ser senhor da sua vontade.
Durante o 127.º curso de Comandos, dois jovens não resistiram aos treinos e vieram à óbito. Os incidentes aconteceram no início de setembro de 2016 em Alcochete, Setúbal. Foram abertos os inquéritos para apurar os responsáveis pela morte dos jovens participantes daquele curso e 19 militares foram acusados pelo Ministério Público Português como culpados pelos óbitos – respondem por 489 crimes – que vão desde ofensas simples até crimes contra a integridade física.
Inicialmente, pretendia-se que os cursos para o militar que se candidata às Tropas dos Comandos fossem suspensos até a conclusão da “Inspeção Técnica Extraordinária às provas de classificação e seleção para os Cursos de Comandos”. No entanto, o curso nº 128 teve início em 7 de abril de 2017.
Durante o curso, é normal que alguns militares não resistam ou desistam do curso prostrando-se à dificuldade e à incapacidade de se superar, pois a exigência do teatro operacional leva-os ao limite extremo do desgaste físico e psicológico. A necessidade de um treinamento mais exigente, foi avaliada mais recentemente com emprego dessa tropa na República Centro Africana no qual percebeu-se que uma preparação com a exigência dessa envergadura é necessária em situações de crise.
Entretanto, o militar pode desistir em qualquer tempo do curso.
Apesar de toda a publicidade midiática em torno de casos como a morte dos dois militares no curso 127º, percebe-se que “a moral de quem ostenta o título Comando mantém-se elevada e inabalável, continuando a dar sempre o seu melhor para que se formem os militares mais competentes e capazes de suportar até a própria crítica dos cidadãos e chefias políticas, pelo qual se determinam a dar a vida em prol de seu país”, segundo os próprios Comandos.
Ressalta-se que não há mulheres que fazem parte dos Comandos. Apesar de no Exército Português haver mulheres militares principalmente nas forças aéreas e de ser possibilitado que se candidatem ao curso para Comandos, as militares não se habilitam e, as que se candidatam, não passam no curso de formação. Por outro lado, não há incentivo para que elas façam o curso.
Para quem faz parte dos Comandos é uma honra. Quando um militar que faz parte dos Comandos é questionado sobre como é representar os Comandos, a resposta é dada com paixão: “no dia em que nos são entregues em Parada, as insígnias da família Comando, não existem palavras suficientemente gloriosas para descrever o misto de emoções que fervilham vigorosamente dentro daquele que termina o Curso de Comandos, pois quando nos entregam o Escudo Comando perguntando “Queres ser Comando”, ao aceitar dizemos “Quero” e, naquele momento, sabemos que ostentar estas insígnias é assumir um compromisso de honra para representar eternamente uma família de pessoas que deram a vida pela pátria, por Portugal e ao serviço pelos Comandos”.
Ainda existem muitas opiniões contrárias à necessidade de um curso que exija o extremo do físico e do psicológico daquele que deseja fazer parte dessa tropa de elite, mas em situações de crise, os limites da resistência física e psicológica são exigidos ao extremo e para esses militares o treinamento com tamanha exigência é o que lhes mantêm vivos.
O lema dos Comandos é um verso do poema Eneida do romano Virgílio “Audaces Fortuna Juvat” que significa “A sorte protege os audazes”.
Já o grito de guerra dos Comandos, “Mama Sumae”, é inspirado no grito de um jovem de tribo bantu no sul de Angola, que armado somente com uma lança, ataca um leão no ritual de passagem da adolescência para a maturidade.
“Mama Sumae” significa “Aqui estamos, prontos para o sacrifício” e representa o sacrifício que esses militares fazem dia a dia, abdicando de suas próprias vidas pelo bem-estar de seu país, pois eles acreditam vividamente que “a sorte irá sempre proteger os audazes”.