Após um ano morando aqui, eu não tenho dúvidas de que Cracóvia é uma cidade encantadora. Apesar de ser a segunda maior cidade da Polônia, Cracóvia é acolhedora e tudo parece perto.
Falar sobre os melhores bairros foi desafiador, afinal a questão é bem subjetiva e depende dos ideais de cada um. Neste post conto um pouco sobre a divisão da cidade e alguns dos bairros que mais chamam a atenção e um pouco do que eles têm a oferecer. No próximo mês, pretendo abordar o tema “locação” e falar mais sobre as qualidades e pontos negativos dos bairros no quesito habitação.
Não foi preciso muito tempo vivendo aqui para descobrir que apesar das regiões históricas concentrarem o charme e a magia da cidade, Cracóvia vai muito além disso e possui regiões repletas de riquezas naturais com paisagens incríveis.
Hoje, a cidade está dividida em 18 distritos administrativos (dzielnica), mas ao longo de sua história, passou por várias configurações e com isso a maioria dos habitantes acabam usando delimitações e denominações – derivadas dos nomes de cidades e aldeias – de quando a cidade era dividida em apenas 4 distritos: Śródmieście (centro), Podgórze, Krowodrza e Nowa Huta ou em 6 distritos: Stare Miasto, Zwierzyniec, Kleparz, Grzegórzki, Podgórze e Nowa Huta.
Cracóvia se articula em torno do Rio Vístula. À esquerda (norte), estão situados os distritos Stare Miasto (I), Grzegórzki (II), Prądnik Czerwony (III), Prądnik Biały (IV), Krowodrza (V), Bronowice (VI), Zwierzyniec (VII), Czyżyny (XIV), Mistrzejowice (XV), Bieńczyce (XVI), Wzgórza Krzesławickie (XVII) e Nowa Huta (XVIII). À direita (sul), estão os distritos de Dębniki (VIII), Łagiewniki-Borek Fałęcki (IX), Swoszowice (X), Podgórze Duchackie (XI), Bieżanów-Prokocim (XII) e Podgórze (XIII).
Stare Miasto ou “Cidade Velha” é o coração de Cracóvia e hoje faz parte do Distrito I que cobre uma área mais ampla. É o bairro mais antigo, um verdadeiro labirinto de histórias, cheio de vida em todas as estações do ano. É lá que estão os incontáveis monumentos, fortificações e edifícios mais importantes que sobreviveram praticamente intactos aos cataclismos do passado. Sempre com uma multidão de turistas, artistas e músicos de rua, é repleto de lojas, museus e uma infinidade de cafés, restaurantes e bares. De dia ou de noite, no inverno ou verão, tem sempre alguma coisa acontecendo por lá.
Kleparz faz parte dos mais importantes marcos históricos de Cracóvia. Não dá para falar desse bairro sem mencionar os mercados mais antigos da cidade, Stary Kleparz e Nowy Kleparz, com seus cheiros, sons e cores onde é possível comprar praticamente tudo, desde pães, frutas, legumes frescos, vendidos por produtores locais e de aldeias vizinhas, até roupas, produtos domésticos e especialidades de diferentes partes do mundo.
A Colina de Wawel, faz parte da “Cidade Velha” transborda história e magia. A área engloba todo o complexo entre suas torres, seus incríveis jardins e muralhas de conto de fadas. Muitos eventos acontecem na região do Wawel, dos pés da colina às margens do Vístula.
Kazimierz é o local mais hipster, boêmio e famoso da cidade. O antigo bairro judeu, que também faz parte do Distrito I, foi uma das áreas que mais sofreram com o passado, negligenciado por anos era conhecido como um lugar pobre, sujo e inseguro até ser descoberto e revitalizado. Hoje, Kazimierz é o lar de muitas sinagogas e cemitérios históricos, que contracenam com restaurantes finos, cafés, boutiques, museus e galerias. Com sua atmosfera autêntica essa região é o centro da vida noturna alternativa da cidade e palco de diversos festivais.
Grzegórzki (distrito II) pode parecer à primeira vista um pouco cinza e sem graça, mas esse bairro tão próximo ao centro da cidade, tem seu valor. O jardim botânico mais antigo da Polônia (Ogród Botaniczny) fica por lá, onde se pode admirar verdadeiras raridades. Na região também fica o famoso Hala Targowa (Plac Targowy Unitarg), com lojas e barracas que vendem de tudo um pouco: durante a semana flores, alimentos frescos e típicos são vendidos por produtores locais e aos domingos a feira se transforma em um interessante mercado de pulgas.
Apesar do seu passado turbulento e seus vestígios ainda presentes, Podgórze, (distrito XIII) conhecido como o Gueto de Cracóvia, é uma das partes mais interessante e únicas da cidade, mesclando museus, monumentos, túmulos exóticos, igrejas e velhas mansões com ruas tranquilas e grandes parques repletos de beleza natural e atrações incomuns. Entre as várias regiões que compõem Podgórze, alguns endereços são uma amostra dessa essência: Stare Podgórze concentra a parte histórica, dá para se perder por ali, aproveitando a tranquilidade e beleza desse lado pouco explorado, mas que preserva uma atmosfera singular e misteriosa. Zabłocie é a antiga área industrial de Podgórze, que vem sendo revitalizada, com vários museus – incluindo a famosa Fábrica de Schindler – cafés e clubes que surgem a cada dia em lofts antigos, fábricas e becos esquecidos. A região do monte Krakus (Kopiec Krakusa) é cercado por lendas e mistérios, tem umas das vistas privilegiadas de Cracóvia.
Muitas pessoas passam por Dębniki (distritoVIII) quando chegam e saem de Cracóvia sem se dar conta do que o bairro tem a oferecer. Stare Dębniki é área tranquila próxima ao centro da cidade, com encantadores cafés, museus e uma das melhores vistas do Wawel do outro lado do rio. Ludwinów, logo ao lado, é conhecido principalmente pelo Fórum (Forum Przestrzenie) um local popular que consegue manter a sua singularidade. Zakrzówek é uma região popular entre os moradores e não é pra menos, a Lagoa Zakrzowek impressiona com suas águas azuis e os penhascos e falésias de calcário são uma atração adicional. A região do Mosteiro Tyniec é um cenário surpreendentemente sereno e encantador.
Salwator é um recanto verde, pacífico e agradável que faz parte do distrito VII Zwierzyniec. Uma região histórica cercada por antigas igrejas, monastérios, cemitérios e vilas, bem retirada da trilha dos turistas. O bairro que no passado foi o lar de alguns dos pintores, poetas e artistas mais influentes, hoje é uma fuga da agitação do centro da cidade. Do alto do deslumbrante monte Kościuszko (Tesusz Kościuszko) e dos fortes a sua volta se tem a vista mais magnífica da cidade, além da Cidade Velha é possível ver toda a extensão da floresta Wolski (Lasek Wolski) quintal do Zoológico de Cracóvia, do isolado mosteiro eremita “Klasztor Kamedułów” e do seu ponto mais alto o monte Piłsudski.
O maior distrito de Cracóvia, Nowa Huta é uma área totalmente diferente do resto da cidade, com suas avenidas largas, arborizadas, parques, lagos e grandes espaços cercados de monumentos e prédios projetados em seu passado comunista. Alguns locais retratam bem este cenário, como a Praça Central (Plac Centralny) e a Avenida das Rosas (Aleja Róż), onde a maior estátua de Lênin costumava ficar, os portões de Nowa Huta, e importantes museus e teatros. Ali também está o monte Wanda (Kopiec Wandy) e Mosteiro Cisterciense (Opactwo Cystersów w Mogile). Nowa Huta, conserva a fama de ser uma das regiões mais perigosas de Cracóvia, mas as estatísticas contrariam esses rumores e o distrito vem recebendo incentivos para mudar sua reputação.
Muitos bairros mereciam passar por aqui, eu sei. Cracóvia é uma fonte inesgotável de surpresas, cada bairro tem sua própria personalidade e seus segredos e seria impossível mencionar tudo em único post. As vantagens de morar ou ficar um tempo maior em uma cidade é poder sair dos caminhos mais conhecidos e invadidos por turistas, explorar e ser surpreendido por locais muitas vezes escondidos e esquecidos.
2 Comments
Ótimas dicas, Ju! Viajei com você por Cracóvia. Da próxima vez que eu for aí, vou aproveitar todas as dicas. Bjs, Vivi
Obrigada, Vivian! Fico feliz 😉