Os meus 30 e poucos anos e a Itália.
Já li muitos textos sobre a “Mulher que viaja sozinha”, “Como ser Mulher vivendo em Londres, Malta, Bélgica” e assim vai. Todos os textos que abordam este assunto valem a pena serem lidos, pois não importa se estamos vivendo o ano de 2018: algumas pessoas, culturas ou até conhecidos nossos, podem ter o tal machismo.
Ser mulher sempre foi e acredito sempre será um desafio: seja na busca pelo bom emprego, seja no preconceito em cargos de direção, seja nas nossas viagens sozinhas. Mas acima disso, existe a questão: como desafiar esse mundo depois dos 30 anos e solteira? É pessoal, acreditem: não são somente nas festas da família que te cobram o marido.
Desde o dia que desembarquei na Itália (sem jamais ter pensado em algo assim), tenho escutado perguntas e comentários dos mais estranhos possíveis, pelo simples fato de ter completado os 36 anos e nunca ter casado.
Nos primeiros dias, levei aquele susto, porém, no entusiasmo de estar conhecendo um novo País, eu não dei importância. Depois, em alguns lugares que eu ia e começava a conversar, um italiano ou italiana faziam a “famosa pergunta” e quando escutavam a resposta indagavam com olhos arregalados:
– Nunca casou, mas por quê?
Francamente meus amados “irmãos italianos”, são tantas as possibilidades de respostas: posso não ter casado porque “não tive tempo”, ou porque fui largada no altar, ou porque meu amor da adolescência casou com outra. Posso simplesmente estar solteira porque estou 100% focada em realizar um grande projeto, o qual não inclui um marido e filhos por enquanto, ou simplesmente porque não apareceu a pessoa certa!
Talvez nas minhas respostas posso parecer um tanto grosseira, mas como ser gentil diante dos olhos arregalados ao fazerem esta pergunta? Vou deixar uma coisa clara: a pergunta é um tanto quanto normal, mas a surpresa que a minha resposta causava era intrigante.
Nesse tempo em que estou morando na Itália, tentei observar as italianas. A maioria delas casa entre os 25 e 30 anos e aos 35 estão com seus maridos e filhos. Algumas, divorciadas e com filhos, porém já ultrapassaram o status: solteira.
Entretanto, posso ressaltar que independente de ser solteira ou não, a Itália é um País que em podemos nos sentir seguras a qualquer momento do dia e da noite também. Claro que temos sempre que estarmos atentas aos lugares que frequentamos se estamos sozinhas, porém em nenhum momento vivendo aqui, me senti “em perigo”. Acredito que este é um ponto de extrema importância para nós.
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Acredito que muitas mulheres podem ter passado por situações semelhantes as minhas nesse mundo afora e então vem na minha cabeça: Ainda carregamos conceitos e preconceitos de como deve ser uma “vida normal”. Martha Medeiros já abordou algumas coisas a respeito da “Vida Resolvida” em um dos seus melhores textos. Aplausos para ela!
Talvez a busca pela ascensão profissional nos deixa tão ocupadas que por algum momento da nossa vida esquecemos de dedicarmos nosso tempo às saídas, aos drinques e aos jantares românticos, consequentemente o casamento vai ficando ainda mais distante, mas ele não deixa de fazer parte do nosso sonho.
Não faço parte de nenhuma ONG feminista, ou movimento do gênero, mas agora, moldar um modelo de vida baseado no que as pessoas acreditam ser o certo: aí já passa dos limites! É inevitável que tal visão machista não venha influenciar na nossa carreira, isso é inquestionável diante dos fatos.
No interior da Itália, o machismo é tão presente que nos cafés e nos aperitivos é comum você ver apenas as mesas de homens. Batendo papo, tomando seus belos vinhos italianos, o assunto são os mais diversos: política, emprego, piadas e por aí vai. E, caso eles vêem uma mesa com uma, duas ou várias mulheres sozinhas, o assunto será este. Na maioria das vezes, essa “mesa florida” não é de mulheres italianas. Às vezes me parece que a Itália, no ponto de vista das mulheres, está presa ao século XV.
Tudo isso me faz pensar nas contradições que existem por aqui, afinal é notória a qualidade na educação, poucas oportunidades na carreira e a existência deste machismo, onde era de se esperar que não fosse tão “gritante”. Afinal, pressupõe-se que uma sociedade com alto nível na educação tende a ser mais coerente com tais pensamentos com relação a mulher.
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A Itália com a sua beleza e sua magia é inquestionável. Reconhecida por ser um País tradicional, já era de se esperar que situações assim seriam muito mais corriqueiras do que o esperado. Entretanto, ao olhar para trás chego a suspirar sorrindo, afinal, alguns momentos vividos podem resultar em belos textos! O fato de não ter casado aos 36 anos e viver um tempo na Itália foi um deles!
Aguardo os seus comentários! Salute!
6 Comments
Juliana,
Sou sua colega aqui no BPM e gostaria de parabenizá-la pelo texto, ADOREI!
Bjs,
Lili
Obrigada Lili ????
Um depoimento de quem é de bem consigo e com a vida. Simples assim!
É Ju,
Eu continuo viajando pelo mundo e aprendendo muito através de você e de suas palavras. Seu texto relata e esclarece muito desse cantinho onde você está agora. Fico encantada com sua desenvoltura e te admiro por isso.
Parabéns e… VIVA MAIS HISTÓRIAS!!????
Beijo grande????
Hélbia
Legal foi bom passe tempos aqui com você parabéns pelo texto
estou quase com 30 e quero mudar pra itália. se me perguntarem isso vou falar “porque prefiro ser livre”.