Quando a saudade se torna suportável.
Desde o dia que decidi morar fora do Brasil, sempre tive o receio da dor da saudade. Como sempre fui apegada à família, era inevitável não ter essa pontinha de medo, porém decidi deixá-lo em silêncio.
Passaram-se 1 ano e 8 meses, morei em 3 países diferentes. Em cada um deles vivi particularidades culturais incríveis, fiz novas amizades, criei alguns vínculos. Mesmo sabendo que nada substitui “a nossa casa”, a nossa família e os amigos de longa data, nós seguimos firmes. São situações tão únicas que mesmo para aqueles que se interessam pelo assunto e buscam conversar, buscam ler sobre o assunto, é mesmo só vivendo esta experiência para entender cada palavra e emoção.
Existe o fato principal: cada um lida diferente com a saudade. Uns choram, outros decidem voltar, muitos engolem o choro e enfrentam essa dor calados e assim vão vivendo dia a dia. Eu, particularmente passei por momentos que cheguei a pensar que não iria aguentar. O principal deles foi quando meu pai teve problema no coração, teve que operar às pressas e passou mais de 10 dias no CTI. Você de longe se sente impotente, passa um filme na sua cabeça. Aqueles que ainda não criaram uma estabilidade aqui do outro lado do oceano não tem como ir “às pressas”, afinal existem todos os gastos da viagem e o fato de você não poder se ausentar no trabalho, pois o vínculo empregatício aqui não é como no Brasil. Os funcionários aqui não são regidos pela nossa famosa “CLT”.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar na Inglaterra
Porém, como uma luz divina ou uma onda de energia, os dias vão passando, as coisas no Brasil vão se encaixando e você começa a entender de que tudo por lá continua funcionando sem ter você por perto. A saudade que estava doendo é substituída por bons papos via whatsapp, as lágrimas se tornam risadas nas ligações de vídeos, e a vontade de pegar o avião e voltar se distancia da sua rotina quando você começa a ter a sensação de estar “em casa”.
Mas, como assim, “estar em casa”? Eu não entendia o significado desta frase, afinal não foi à toa que eu mudei três vezes de país. Hoje eu entendo que mesmo sem saber os motivos certos da minha inquietude, eu estava em busca desta sensação. Por mais que a saudade do Brasil batesse, minha intuição me dizia que não era a decisão certa em voltar, pensava e ficava horas com o mapa aberto na minha frente e “sonhava acordada” onde eu poderia e gostaria de morar.
Tudo foi se ajeitando, veio o novo país (Inglaterra), vieram as inúmeras obrigações burocráticas que devem ser tomadas quando você chega no país que decidiu morar. A busca incansável por trabalho, o desafio da língua quando você ainda não é fluente e todas as surpresas que vem no conjunto de quando existe uma grande mudança de vida.
A saudade do Brasil, mesmo que sempre esteja no coração, passa a se tornar apenas boas lembranças, o estilo de vida que você está tendo não te traz mais a sensação de que você está estranha, pelo contrário, você se sente uma leveza absurda. Aos poucos você se pega fazendo planos por aqui, seja com uma nova casa, novo empreendimento ou apenas um novo emprego. Veja mais informações aqui. “Nove Motivos para Morar na Inglaterra.
Ao mesmo tempo que toda essa saudade vai se tornando suportável, muitas vezes bate um incômodo, como se você fosse “fria” ou alguém que não ama seu país, seus familiares e seus amigos. Acreditem: longe disso, tudo isso faz falta, faz muita falta, mas como eu disse acima, esse sentimento passa a não doer e também é substituído pelas obrigações e projetos que você vem construindo dia a dia. Mas Juliana, é mais fácil viver aí? Na verdade pessoal, não existe “vida fácil” em lugar algum desse mundo, existem grandes diferenças as quais cabe a você colocar na balança e optar como você quer levar a sua vida.
Para que vocês possam entender algumas coisas, vamos aos exemplos: como estou morando no interior da Inglaterra eu faço tudo a pé, posso andar durante o dia ou pela madrugada e me sentir segura, todos os dias além de receber por email eu vejo anúncios de vagas de emprego, por aqui a palavra tem valor: se alguém te diz alguma coisa você pode confiar. Ah… mas aí é perfeito? Não, não é. Eu estou colocando aqui apenas situações particulares, situações que vivi ou que presencio.
Uns podem pensar que são coisas sem valor, outros podem se interessar e criar curiosidades, enfim, o que tenho vivido no Reino Unido tem me feito pensar e projetar um futuro diferente e isso é o que está me fazendo uma pessoa melhor.