Esse mês vou escapar outra vez do País de Gales A – Z.
Tenho pensado bastante na vida (sou pensadora, que só vendo), e em várias situações que me fizeram chegar – e me mantêm – onde estou hoje. Sou uma expatriada.
Mas espera aí, o que quer dizer “expatriado”? Engraçado como essa palavra, pelo menos o significado que eu uso em inglês, tem uma conotação mais “leve”. Eu conhecia como “expatriados” aquelas pessoas que a gente vê nos programas de TV que saíram do Reino Unido, por exemplo, pra viver uma aposentadoria tranquila na França, ou na Itália, ou em qualquer país mais quente do que aqui.
Pois acabei de descobrir que não é só isso, não. De acordo com o dicionário Michaelis online:
Expatriar
- Expulsar da pátria; desterrar, exilar.
- Sair voluntariamente da pátria; exilar-se.
Se a gente parar para pensar na situação do país hoje em dia, podemos até dizer que, de certa forma, o governo “tem expatriado” muita gente. Cidadãos frustrados e cansados com a situação política e econômica do país, têm cada vez mais procurado maneiras de se aventurarem por esse mundo afora. É uma expatriação meio “forçada”, vamos dizer. Muitas pessoas ainda estão saindo do Brasil para viver em outro país, se sujeitando a dividir uma casa com 10 pessoas, trabalhando três empregos diferentes, para poder juntar cada centavo e voltar para o Brasil em uma condição melhor. Comprar uma casa, ou mais de uma, adquirir experiência para conseguir um emprego melhor quando voltar, etc.
Eu tenho uma prima que mora nos EUA há mais de 15 anos, e fiquei surpresa quando ela me disse que onde mora, ainda tem muitos brasileiros vivendo ilegalmente, exatamente assim.
Apesar de me considerar uma “covarde” nesse sentido, ou seja, não teria coragem de me aventurar e “tentar entrar” em um país ilegalmente, eu realmente admiro a garra que essas pessoas têm de querer fazer um futuro diferente para elas e suas famílias. Tiro o chapéu para essas pessoas, ao mesmo tempo que digo: “ai, por favor, não dá pra tentar “virar” legal onde você está? Muito cuidado…” Principalmente porque essas pessoas estão vulneráveis a vários tipos de exploração.
Eu sou uma expatriada do tipo que saiu voluntariamente da pátria. Acho que dizer que me exilei é meio forte. Também não sai do Brasil para ganhar dinheiro e voltar. Saí do Brasil “de mala e cuia”. Amo essa expressão, que só hoje descobri que tem origem com os gaúchos; e que a cuia, na verdade, é a do chimarrão! E como tenho amigos gaúchos, sei que o tal do chimarrão para eles é sagrado! Daí, se levam a cuia, é porque não vão voltar mesmo. (Queridos leitores gaúchos, confere?)
Foi assim que eu saí do Brasil, de mala e cuia. Eu sempre tive esse sonho de morar fora. Desde adolescente, queria porque queria fazer intercâmbio nos EUA, daqueles que a gente faz um ano do ensino médio por lá, sabe? Dai, aos 18 anos visitei a Disney. Ah meu Deus… me apaixonei e se pudesse tinha arrumado um emprego e me mudado pra lá na hora! Até que a “febre” pelos EUA passou e eu comecei a sonhar com o Reino Unido. Sonhava em passear pelos parques e pelas ruas de Londres, visitar Oxford e ler à beira do rio Avon, na cidadezinha natal de Shakespeare, Stratford-upon-Avon. Quantos orçamentos fiz de cursos… Fiz tabelas de custos de estudo e acomodação; passava horas e horas na internet (depois da meia-noite, ou fim de semana, claro, porque a internet era discada, e nesses horários “contava como um pulso só”. hehe)
Até que conheci o Craig em um site de pen-pals sugerido por uma aluna minha da universidade (Isabella, obrigada, flor!). No mesmo ano, fiz a minha primeira viagem para a Europa, para o Dia Mundial da Juventude, com o Papa Bento XVI. Fiquei uns dias em Paray-le Monial, um vilarejo medieval na França, considerado o “coração eucarístico da Europa”; fiquei em um vilarejo na Alemanha chamado Fliesteden, e visitei algumas outras cidadezinhas, além de Colônia, onde foi a maior parte dos eventos. Me apaixonei pela “Europa”. E decidi que queria vir para cá; de mala e cuia.
E aqui estou, no País de Gales – estamos, pois o namorado, que virou marido há 8 anos atrás, é galês. Moramos no Brasil por um tempo, mas achamos melhor vir para cá. Moramos um ano em Napoli, na Itália (cidade que roubou meu coração”), onde trabalhamos como professores de inglês, e por fim, decidimos criar raízes aqui em Gales (aliás, acho que fomos plantados em um pote, porque a coceira de mudar de novo não vai embora nunca! hehe)
Mas o que acontece quando a gente sai do nosso país “de mala e cuia”? Às vezes as pessoas ficam chateadas; parentes e amigos perguntam: quando é que você vem pra cá (pro Brasil) visitar a gente? Outras vezes, a gente ouve – ou lê – comentários tipo: nossa, mas a vida aí é boa demais. Salário em libras, viagem “para o exterior” de férias (às vezes mais de uma vez por ano, porque dependendo do tipo de trabalho que você tem aqui, pode tirar suas férias espaçadas durante o ano), um estilo de vida mais “sossegado”, “relaxado”. Mas como não tem dinheiro pra vir pro Brasil esse ano?
Gente, preciso falar uma coisa pra vocês: não é assim, não. A não ser que você seja um expatriado com bastante dinheiro no banco pra não precisar se preocupar para o resto da vida, a vida de quem se expatria (palavra feinha, né?) é praticamente igual a vida aí no Brasil. Ganhamos em libra (no Reino Unido)? Sim, mas nossas contas são em libras. Pagamos aluguel ou financiamento de casa, assim como faríamos se estivéssemos no Brasil.
Trabalhamos o mesmo tanto de horas por semana (dependendo do emprego), pagamos os mesmos tipos de contas (aliás, se contar que aqui temos conta de gás, no inverno ainda pagamos um absurdo maior do que qualquer brasileiro, devido ao uso de aquecedores!) Viajamos de férias para o exterior? Sim. Temos a oportunidade de viajar para a Grécia, para a Itália, para a Espanha, etc por uma semana, pagando menos do que um fim de semana na Pousada do Rio Quente, por exemplo, dependendo da época do ano (no nosso caso, como a gente não tem filhos, a gente pode viajar quando quer). Uma viagem ao Brasil, “exige” praticamente o mesmo planejamento de viagem que é feita para um viagem à Europa, por quem mora no Brasil. Há épocas do ano quando as passagens são tão caras, que equivalem a um mês de salário!
Não sei se vocês que decidiram (ou precisarem) morar permanentemente fora do Brasil, passam por isso. A nossa família sente muito a nossa falta, claro que sente. E nós também! E de uma maneira ou de outra, quem mora fora sempre fica com aquela sensaçãozinha chata de culpa quando resolve passear de férias em algum lugar que não seja o Brasil, e que não inclui rever a família e os amigos…
A gente morre de tanta saudade de vocês, nossos amores que deixamos “para trás”… Mas quando se sai do país natal de mala e cuia, a gente tem de pensar que, onde quer que a gente esteja morando, vai levar uma vida normal, como vocês aí. Vamos querer passear de férias, e o mundo é gigante!!! Tenham um pouquinho de paciência, que a gente chega aí. (dessa vez em exatamente 18 dias!) Ou então, citando a música do Black Eyed Peas, can you meet me halfway? (me encontra no meio do caminho?)
Abraço grande, um beijo pro meu pai Nelsim, pra minha irmã Isabela, pra minha irmã Cíntia, pro meu sobrinho João Pedro, pro meu cunhado Danilo e um pra você!