Estou morando no Japão há três anos. Eu sou formada em Comunicação Social, e no Brasil trabalhei na área por algum tempo depois da graduação. Porém, apesar de ter amado cada pedacinho do meu curso, na hora da prática, de encontrar o meu espaço no mercado de trabalho, de seguir a profissão de comunicadora e radialista, eu simplesmente não conseguia me encontrar.
Não achava estímulo, não havia bons trabalhos. Na época, eu culpava a área, o mercado, a crise, a minha performance nas entrevistas, a falta de indicação. Obviamente, a área tem suas dificuldades, sim. Mas mal sabia eu que o que me faltava não era a qualificação, a indicação, o trabalho legal. O que me faltava mesmo era propósito. E ter vindo ao Japão ajudou-me neste processo e nesta busca (que descobri que nunca acaba, por sinal).
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Quando desisti da área, ainda no Brasil, tentei encontrar-me em outras áreas “irmãs”. Trabalhei com mídias sociais, produzi exposições de arte, realizei pequenas assessorias de imprensa. Fiz alguns bicos de professora: de ballet clássico, de inglês, de reforço escolar (sem nunca levar muito a sério. Era só um bico!).
Aí me reinventei pela primeira vez. Procurei uma coach profissional, ajuda espiritual, terapia. Foi um processo longo e intenso, até que cheguei numa conclusão: a minha ambição era trabalhar como produtora e decoradora de eventos.
Depois desta conclusão, o processo para me encaixar em alguma empresa foi até que rápido. Fiz alguns cursos, falei com umas pessoas e conheci outras. Encontrei uma empresa que era especializada em recreação de festas infantis. Comecei a fazer decorações, produzir eventos, fazer arte. Estava feliz, mas o lado financeiro ainda decepcionava.
Dentro da mesma empresa, para que eu pudesse ganhar mais dinheiro, resolvi abraçar a oportunidade de acompanhar recreadores como assistente nas festas infantis. Acabei me apaixonando mais ainda pela área. Fui buscando ideias aqui, me especializando ali, e conquistando um pouco de experiência em recreação infantil. O que eu mais amava era poder “brincar”, voltar a ser criança, como trabalho. Sempre tive bastante facilidade em lidar com crianças, mas a recreação me deu muitas ferramentas que não há estudo no mundo para aprender: somente a experiência de trabalhar brincando ensina, mesmo. Mas eu ainda estava me descobrindo. Não me via fazendo aquilo para sempre e sentia que eu jamais teria a energia pra trabalhar com eventos para o resto da vida. Mas fui levando. O “resto da vida” é tempo demais!
Estando imersa em aprendizados, fui fazer uma recreação de temporada de férias em um condomínio. Foi lá que conheci o meu marido, que estava de viagem marcada para o Japão dali a cinco meses. Bom, essas coisas não se escolhem. O momento, muito menos! Embora eu acredite piamente que nada é por acaso, quando decidi aceitar a proposta do meu marido de vir morar aqui, fiquei triste de ter que deixar tudo para trás. Todo o meu esforço para ter me encontrado profissionalmente teria sido em vão, pois era hora de começar do zero, tudo de novo?
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Mas decidi que encararia. Quem sabe não haveria mercado para isso no Japão? Quem sabe eu não trabalhasse nisso quando voltasse ao Brasil? Levei como um desafio e fiz as malas.
Mas é claro que a realidade é outra. Quando eu cheguei, não poderia trabalhar na área que escolhi. Não sabia nem um pouquinho o idioma, não tinha ideia de como funcionavam as coisas no Japão e, para piorar, fui morar no interior, então não havia mesmo mercado para mim. A solução, como a maioria dos estrangeiros residentes aqui, foi trabalhar em fábrica.
Não vou dizer que foi uma experiência inválida, ou que me arrependo, mas tenho certeza que não voltaria a trabalhar em fábrica por escolha jamais. Foi um ano cansativo, intenso, difícil. Foi um período no qual me distanciei completamente do meu propósito, das minhas paixões e da minha busca por algo maior. Não é coincidência que foi nesse mesmo período que estive deprimida, ansiosa, “apagada”.
Depois de um ano trabalhando em fábrica, meu marido recebeu a oportunidade de trabalhar em uma empresa japonesa e nos mudamos para Yokohama, ao lado de Tóquio. Cidade grande! Oportunidades! Vida nova!
Decidi então que talvez fosse o momento de arriscar trabalhar com crianças. Mas como o faria sem dominar o idioma japonês? Comecei a buscar vagas para dar aula de inglês, já que eu já tinha uma certa experiência. A princípio, buscando pela internet, achei que não conseguiria uma vaga porque não sou nativa de um país de língua inglesa, mas meti as caras mesmo assim. Para a minha surpresa, na mesma semana fui chamada para três entrevistas e fui aprovada em todas. Finalmente voltei a trabalhar com crianças, em três escolas diferentes.
E, curiosamente, me encontrei na sala de aula. Talvez, anteriormente eu precisasse passar por outras experiências para me encontrar nesse sentido. E no auge do meu amor pela sala de aula, estudando e buscando cursos, informações, dicas, estudos – além de muita meditação – finalmente encontrei o propósito que me move e que conversa com o meu coração.
Sou muito grata por tudo o que aprendi e aprendo no processo educativo japonês. Estar do outro lado do mundo foi imprescindível nesta busca pelo meu propósito. Todas as experiências e aprendizados que vivi aqui foram necessários para me abrir os olhos. Acredito que me reinventar em outra cultura foi extremamente importante e renovador para mim. Recomendo fortemente! Na dúvida, expatrie!