Há 7 anos eu tinha 19 anos e acabava de chegar em Praga pela primeira vez. Desembarquei de um voo noturno vindo de Londres, tinha ido passar uns dias lá com duas amigas antes do início do ano letivo da faculdade porque gostamos da cidade e no momento era uma boa oportunidade para fazer essa viagem. Chegar assim fez com que a vinda a Praga também parecesse uma viagem, mas na verdade eu vinha mesmo para morar. A ideia não me assustou mas confesso que na chegada ainda era estranho pensar que aqui seria a minha nova casa por algum tempo.
E foi assim que, no início do ano de 2010, eu cheguei na República Tcheca para cursar a faculdade. Apesar de já ter morado fora do Brasil algumas vezes, eu nunca tinha estado aqui antes e estava curiosa para conhecer uma nova cidade, um novo país, um novo idioma e, é claro, uma nova forma de vida. A boa notícia foi quando eu descobri que, onde eu pensei que só haveria espaço para aulas, estudos e trabalhos da faculdade, fui pega de surpresa e descobri que Praga seria – e continua sendo – diferente para mim. Praga não foi mais uma cidade com uma rotina normal e comum. Praga é a cidade que me viu “crescer” e que cresceu junto comigo, que respeitou o meu tempo, que avançou comigo e que permitiu que eu parasse um pouco quando quis e precisei.
Agora é a hora que vem aquela velha pergunta (mas juro que entendo a curiosidade): “Por que Praga?” Eu não sabia exatamente para onde ir, mas eu sabia exatamente onde eu não queria ficar. Deve ser por isso que a pergunta que eu me fazia desde o início não era “Por que Praga?”, mas sim “Por que não Praga?”. A oportunidade surgiu na minha vida e tinha o que eu queria e precisava naquele momento: era um lugar novo para mim e tinha a faculdade que eu queria cursar. É isso, a minha única resposta é essa. Às vezes, o fato de não ter um motivo contra, já é ter todos os motivos a favor e eu então resolvi aproveitar essa oportunidade.
Durante esses 7 anos que vivi aqui, Praga foi o cenário de muitos momentos importantes e decisivos da minha vida, acompanhou muitas mudanças que chegaram de repente, me ajudou a perder um pouquinho da minha timidez e me tornou ainda mais aberta para o mundo e para as oportunidades que aparecem quando estamos atentos. Hoje também já me considero totalmente adaptada ao estilo de vida dos tchecos, já entendo as diferenças culturais e consigo acompanhar esse ritmo diário sem problemas ou confusões. Os invernos já não parecem mais tão rigorosos, já estou bem acostumada com a falta de sol durante alguns meses do ano e o resto do mundo já não parece tão afastado quanto parecia quando cheguei.
O novo foi chegando cada vez mais e o que passou, está ficando cada vez mais na história. Tanto para mim como para Praga, que mudou muito e a cada ano se transforma como cidade. Bem como deveria ser. O crescimento tem dessas coisas, tem desse aprendizado de saber lembrar corretamente das coisas que passaram. Praga e eu crescemos juntas nesses anos e foi muito bonito crescer num lugar que abriga tantos dos meus sonhos. Só posso sentir muita gratidão por ter tido essa sorte e por estar neste lugar que, quando eu preciso de alguma coisa, me mostra o caminho e me ajuda a conseguir.
A faculdade acabou e eu fiquei. Fui ficando e aqui estou, 7 anos depois e com muita vontade de ficar ainda mais. Praga, essa sua beleza infinita ainda não me cansou, o céu dourado no fim de tarde continua parecendo mágico, principalmente quando ilumina as suas inúmeras torres. As suas ruas que às vezes parecem um labirinto já não são um enigma pra mim e as sete declinações para cada palavra em tcheco, já não me assustam mais. Chamo Praga de casa e é para cá que eu me sinto feliz em voltar cada vez que estou longe.
“Praga não deixa a gente ir embora, esta velha tem garras”, já dizia Franz Kafka, que nasceu e viveu aqui durante alguns anos da sua vida. Ainda bem. Já sei que quando eu chego a um lugar e arrepio, é só a certeza me avisando de que eu estou exatamente onde deveria estar.
3 Comments
Que lindo texto!
Senti um pouco deste “arrepio” ao ler…
Sonho em conhecer Praga, mas ainda não tive oportunidade. Sucesso!
Bjs
Evelyn.
Você poderia colocar um pouco mais sobre como são os Tchecos e como vivem. Quais as diferenças culturais mais gritantes entre Tchecos e brasileiros, etc…Enfim, coisas mais úteis e práticas, principalmente pra quem está pensando em se mudar praí…Valeu!!
Fantástico! Acho que é a primeira vez que comento em um site. Não te agradecer, e quem sabe não incentivar a provocar em outros o que provocou em mim, seria no mínimo um absurdo. rs.
Obrigado por compartilhar suas experiências! Provocou algo diferente, percebi sua sinceridade em cada palavra. Grato por me motivar ainda mais a seguir a sensação de não querer estar, e simplesmente ir, permitir a mim mesmo a graça de ser surpreendido.