Sentimento de exclusão na vida do imigrante
Antes de iniciar o texto desde mês, quero fazer uma pergunta a você imigrante: você já se sentiu excluído em seu ambiente de trabalho?
Gostaria de falar um pouco sobre esse sentimento que venho sentindo aqui em meu ambiente de trabalho. Ressalvo que este texto se baseia em uma percepção e opinião pessoal que gostaria muito de dividir com outros expatriados pelo mundo e saber, claro, a percepção de vocês sobre esse tema.
Quando me mudei para os Estados Unidos, há dois anos, sentia muita falta da minha rotina de trabalho e ansiava pelo momento em que eu estaria trabalhando. Sempre acreditei que o trabalho tem a sua função social, afinal você conhece novas pessoas, pode fazer amizades, dividir momentos, troca de ideias e, claro, também é parte da nossa identidade e traz um pertencimento a um grupo.
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Estou trabalhando há um ano em uma empresa. Quando fui aprovada no processo seletivo, fiquei muito feliz, mas logo nos primeiros dias senti um choque de realidade. Iniciei junto a uma outra moça, americana, e era nítida a diferença de tratamento que os colegas americanos, que foram designados em nos dar o treinamento, tinham entre mim e ela.
Não havia muita vontade da parte deles em me explicar as tarefas quando eu não conseguia entender, ou até mesmo deixar que eu acompanhasse e treinasse junto com eles na prática (aqui falamos “shadow someone”, ou seja, sentar junto da pessoa e colocar o treinamento em prática, mexer no sistema, essas coisas). Percebia que alguns riam de meu sotaque quando eu falava ao telefone, me excluíam das atividades, e comecei a me sentir bem mal com tudo isso.
Eu não queria desistir por conta dessas pessoas e também não sou de vitimizar, afinal estou aqui para trabalhar, fui contratada e vou provar o meu valor. Recebi muito apoio de uma colega da equipe, também imigrante. Ela me ajudou demais mesmo, não somente em relação ao trabalho, mas também em me sentir mais segura e me enturmar com outras pessoas da equipe. Na época, nosso chefe era uma pessoa muito legal, e isso também me motivou a continuar. Aos poucos fui encontrando a minha turma, fui me sentindo segura em relação ao trabalho e ao meu desempenho, e uma oportunidade temporária se tornou efetiva.
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Fiquei radiante com a efetivação. Com relação aos colegas, digamos, resistente a aceitar imigrantes na equipe, aos poucos foram saindo do time; alguns demitidos; outros por terem sido promovidos a outras vagas internas. Mas até hoje, muitas vezes, me sinto um pouco excluída, um peixe fora d’água.
Acredito em parte que esse sentimento aparece pela diferença cultural. Mais um vez uma percepção minha, ok? Mas no Brasil, quando tinha um happy hour por exemplo, costumava ir com colegas que eu realmente gostava, que tinha amizade, e era muito legal. Aqui é algo formal, com hora para começar e terminar. É meio sem graça, para ser sincera, já que as pessoas vão para fazer contatos. A questão do Net Working aqui é muito forte; acredito que mais do que no Brasil.
Também há uma formalidade no trato com as pessoas, mais uma característica cultural. É estranho isso, pois no Brasil as pessoas costumam ser mais abertas e receptivas. Sabe aquela famosa conversa de boteco? Que você fala sobre temas variados, ri e descontrai com amigos? Aqui ainda não vivi esse momento com cidadãos nativos.
A adaptação a uma nova cultura vai muito além de você conhecer os costumes, você tem que se esforçar, participar e tentar se envolver. Não percebo ser algo fácil e sempre encantador, como algumas pessoas tendem a romantizar o tema, mas uma realidade a ser enfrentada. Não sou de desistir facilmente e me vejo lutando a cada dia para conquistar meu espaço, me adaptar à nova cultura, permitir revoltar-me contra algumas situações, me indignar e também me surpreender positivamente com as pessoas.
Você já passou por uma situação parecida ou sente essa sensação em seu novo país? Compartilhe comigo a sua experiência. Vou adorar saber. Abraços e até o próximo texto!
2 Comments
Que interessante, parecia que eu estava lendo a minha própria história!
Ainda me esforço todos os dias em tentar “agradar” para ser mais parte do grupo.
E olha que estou em RH! Deveria ser o mais fácil.
Mas é isso aí, não podemos desanimar!
Oi Ana, fico feliz que tenha gostado do texto! Estamos juntas nesta luta 🙂 Eu também trabalho em RH, mas acredito que a questão de aceitar outras culturas é muito pessoal, ligada aos valores de cada um. Se as pessoas não são abertas a isso ou então nunca viajaram para um lugar diferente fica ainda mais complicado. Não desanime mesmo, pessoas vem e vão e certamente encontrará a “sua turma”. Beijos!