Já que março é o mês das mulheres, é também o momento adequado para falar de saúde feminina.
Quando se está em outro país é fundamental saber como funciona o sistema de saúde e se existe ou não programas de saúde feminina.
Como funciona então o sistema de saúde na Itália?
Primeiramente, aqui na Itália a saúde é pública mas não quer dizer que é totalmente gratuita. Existe um médico de base (ou de família) com o qual se tem consultas gratuitas quando necessário. Os médicos especialistas e exames são pagos (chamados tickets), salvo pessoas com baixa renda comprovada ou desemprego.
Em relação à prevenção, a saúde da mulher é tutelada pela saúde pública italiana, podendo diferir porém de região para região. Onde moro atualmente, por exemplo, na região Lácio, tem o Guia Rosa, programa de saúde feminina que garante gratuitamente consultas e exames de acordo com a faixa etária. Ou seja, de 25 a 64, toda mulher tem direito a uma consulta específica com exame de papanicolau, para diagnosticar o câncer do cólon do útero (aqui chamado de Pap test) a cada 3 anos. Mulheres entre 50 e 69 anos, têm direito à uma mamografia gratuita (para a prevenção do câncer do seio) a cada três anos. Pode parecer pouco, mas é já um incentivo, pois muitas deixam de fazer um controle por muitos anos. Claro que também se pode fazer à parte, fora do programa Guia Rosa, com uma frequência mais curta (anualmente ou a cada dois anos, se a mulher preferir), pagando assim o ticket.
Por sua vez, quando o assunto é maternidade…
Vejamos alguns dados do Istat, citados por uma matéria no jornal Repubblica:
– A cada ano na Itália, mais de 500 mil mulheres tornam-se mães;
– As novas mamães são cada vez menos jovens, com idade média ao primeiro parto de 31,5 anos (dez anos atrás era de 28,9);
– Diminuiu o número de meninas que se tornam mães menores ou com 18 anos há pouco completados, pelo outro lado continua a aumentar o número de mulheres que se tornam mães pela primeira vez com mais de 40;
– As mulheres que se tornam mães muito cedo são sobretudo do sul e ilhas da Itália (mais de 60%);
– Se confirma também outra tendência dos últimos anos, são cada vez menos filhos (o número médio por mulher é de 1,29, e 514 308 crianças nasceram em 2013, quase 20 mil a menos do que no ano anterior). Em 2014 foi ainda pior, 5 mil a menos do que 2013, nasceram somente 509 mil crianças, números que segundo o Istat não é tão baixo desde a unificação da Itália (mais de 150 anos).
A gravidez em idade avançada traz riscos à mãe e ao bebê. Mas a Itália é um dos países com menor taxa de mortalidade de mulheres durante a gestação e o parto. São apenas 4 casos a cada 100 mil gestantes (número que caiu 60% desde 1990). Para se ter uma ideia, o Brasil foi o pior colocado segundo a ONU (citada pela revista Veja) na redução de mortalidade de mães durante a gestação e parto, em 2013, tendo um índice de 69 mortes a cada 100 mil mulheres gestantes. Dentre as mortes maternas, o maior fator de contribuição, na Itália ou no Brasil, é o parto cesárea.
Falei em um outro texto que o parto normal é prioridade aqui na Itália (texto: Dez razões para morar na Itália). Cesárea só quando a gravidez comporta algum risco ou na incapacidade do parto ser realizado naturalmente. O que acho ótimo. Não sou mãe ainda, mas sempre quis estar por dentro de como funciona e sem dúvida, quero ser mãe aqui ao invés de ter meu bebê no Brasil, onde ainda a cesárea é priorizada.
Outro ponto de ‘risco’ na gravidez de mulheres com mais de 35 anos é a possibilidade do feto ser afetado de anomalias cromossômica, como a Síndrome de Down. Portanto aqui na Itália, mulheres que estão na faixa de risco (acima de 35 anos) são acompanhadas com uma série de exames, entre eles ecografias, medidas do feto, acompanhamento da formação do mesmo até chegar ao exame invasivo para comprovar a anomalia. E a escolha em fazer o exame e também de abortar, caso seja positivo, é dos genitores (pai e gestante). Infelizmente tem muito tabu e preconceito, somado à desinformação, em relação às crianças com Síndrome de Down, são muitas vezes consideradas um peso para os familiares e sociedade, portanto não se vê muitas por aqui.
Sim, aqui o aborto no início da gravidez é legal e amparado pela saúde pública, claro, não sem antes ter todo apoio médico e psicológico. Mas esse é um assunto para um próximo post.
No que diz respeito à benefício às mamães, aqui na Itália, mães com recém-nascido com baixa renda familiar (de até € 34.873,24 anuais), têm direito ao cheque maternidade, correspondente a 1.672,65 euros. Gestantes ainda são isenta de todos os tickets para exames e consultas com especialistas durante todo o pré-natal.
Há também campanhas nos próprios hospitais para orientar nos cuidados com o bebê e também ao incentivo à amamentação no seio.
Visto que a taxa de natalidade italiana é menor do que a de mortalidade, existem várias medidas para incentivar a reprodução, bem como tratamento de fertilização na rede pública de saúde.
Quem sabe futuramente a situação se inverte.
Arrivederci!
4 Comments
Pingback: Itália – Aborto legalizado
Oi Carla, meus parabens pelo blog. Excelente ! Tenho muitas dúvidas sobre o assunto maternidade, mas nao encontrei muitas informacoes. Descobri que estou grávida, mas serei mae-solteira. Cheguei na Italia há 3 meses, e ainda estou fazendo meus documentos, mas nao estou trabalhando. Li em alguns post (seu) que provavelmente terei q fazer um plano de saude privado (gostaria de dicas de alguns de confianca), mas com residencia aqui, (sou cidada portuguesa) mesmo sem ter trabalho e sendo solteira, poderei receber algum auxilio maternidade do governo ?
Aguardo ansiosa,
Selma.
Ola Carla muto bom o seu blog parabéns, mas a minha pergunta e parecida com a da Selma, estou indo para Itália em Mantova em julho, com 7 meses de gestação sou enfermeira mas não consigo ter o meu bebe sozinha gostaria de saber se tenho direito a hospital publico e se atendem estrangeira na hora de ter o bebe, Vou estar com meu esposo de mudança mas confesso que estou insegura se não poder ter um atendimento hospitalar
aguardando sua resposta.
Olá. A Carla parou de colaborar com o blogue.
Edição BPM