A solidão na vida do imigrante
Segunda-feira à tarde e está um belo dia de sol em Turim. Com um copo de café na mão e um bom livro na outra, observo o vai e vem de pessoas pela janela de casa. Como pano de fundo, uma visão estonteante dos Alpes.
Parece uma vida de Instagram, né não? E, como no Instagram, nem tudo o que parece é real. Faz alguns meses que cheguei nessa cidade linda e, passada a euforia inicial, bateu um desespero gigantesco: “Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?”
Pois é, já me fiz esta pergunta inúmeras vezes nessa vida. 16 vezes, para ser mais exata, foi a quantidade de mudanças de cidade que fiz desde criança. E esse vai e vem todo, por mais incrível que seja, também cansa. E eu cansei e decidi que era hora de fincar raízes em algum lugar.
E, meio que por acaso, meio que por instinto, decidi fazer de Turim meu novo lar. Mas transformar uma cidade qualquer em lar não é assim tão simples quanto parecia, mesmo para quem já é especialista no assunto.
No momento em que me dei conta disso, bateu o desespero e, com ele, a solidão. Solidão, esta, que chega de jeito e com tanta força que realmente dá vontade de jogar tudo para o alto e ir embora.
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É um tipo de solidão diferente dessa que o imigrante sente. Uma hora bate aquela saudade enorme do Brasil, aquela vontade louca de comer pastel de feira e ouvir português. Mas, logo em seguida, a verdade aparece estampada na sua cara: “Você não pertence mais lá, seu lugar é aqui”, mesmo que este “aqui” ainda esteja longe de ser um lar.
É esta sensação eterna de não pertencer, de não estar nem lá, nem cá, que acaba gerando muita frustração. Parece que estamos numa corrida eterna, que a tal linha de chegada não chega nunca.
Calma que não é só você que se sente assim!
Mas sabe de uma coisa? Em um mundo no qual olhamos mais para o smartphone do que uns para os outros, todo mundo se sente meio sozinho. Todo mundo, volta e meia, tem essa sensação de não pertencimento.
O que falta é menos conexão digital e mais conexão real. É a falta da conversa olho no olho, de um abraço verdadeiro, do carinho de alguém querido. E o imigrante, principalmente quem imigra sozinho, tende a sentir isso tudo de uma vez só; um verdadeiro tapa na cara.
Afinal de contas, no país novo, você dificilmente vai ter aquele amigo de anos para desabafar nos momentos de desespero ou aquela amiga querida com quem celebrar alguma conquista.
Verdade seja dita: no começo, você mal vai ter companhia para tomar uma cervejinha no bar. E, quando isso acontecer, vai bater o desespero sim, e a vontade de largar tudo vai ser mais forte que nunca. Mas tudo bem! É normal se sentir assim um dia e outro também, o que não pode é deixar este sentimento de solidão e tristeza lhe dominar.
Lições de um porre (alheio) na Croácia
Tenho até hoje, bem claro na memória, uma situação que presenciei alguns anos atrás em um encontro de expatriados em Zagreb. Éramos todos estrangeiros, portanto, todos meio perdidos e meio solitários de alguma forma, mas uma menina estava tão carente de companhia que forçava a barra para fazer alguns contatos.
Resultado: bebeu além da conta, deixou todo mundo desconfortável, passou mal e terminou a noite com a gente enfiando ela num táxi pra voltar para casa. Imagina a ressaca vergonha no dia seguinte?
Nesse dia, eu aprendi duas lições:
1. Cuidar de mim sempre, principalmente se eu estiver sozinha em um lugar novo. NUNCA me submeter a situações arriscadas, como beber além da conta, se não tiver ninguém de confiança por perto.
2. Não adianta forçar a barra, amizades levam tempo para surgir. É preciso paciência, MUITA paciência e jogar conversa fora sobre todo tipo de assunto até conseguir formar vínculos mais significativos com alguém.
Vá pra rua, com ou sem companhia! A melhor coisa que você pode fazer por você mesma, enquanto espera as coisas fluírem, é aprender a ficar bem sozinha. Sabe aquele velho ditado? Você precisa se amar em primeiro lugar, e isso inclui aprender a amar a sua própria companhia.
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Quer turistar pela cidade nova, mas falta alguém para lhe acompanhar? Vá sozinha, ué! Visite museus, vá em parques, enfim, faço aquilo que lhe agrada. Vale, inclusive, ir ao cinema e ao bar sozinha. Desse jeito, o tempo passa mais rápido, e a solidão vai ficando cada vez mais fácil de lidar.
Assim, devagar, devagarinho, as coisas começam a fluir. Quando você percebe, já está recebendo convites para o happy hour, o trekking no fim de semana e até mesmo uma viagem em grupo. E, talvez, com um pouco mais de tempo, essa sua nova morada não passa a ser, de fato, o seu lar.
2 Comments
Camila, sei bem como é a solidão por essas bandas…rs Também moro na Itália, na Toscana. Você tem razão, é necessário muita paciência… Beijos!
Pois é Marina, com o inverno chegando temos que fazer de tudo para a solidão não bater! Se vier passear em Turim, me avise! É sempre bom ter companhia para um café =)